Chuva forte na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio, deixa dezenas de pessoas mortas e centenas desabrigadasAFP

Rio - O cenário em Petrópolis, nesta quarta-feira, é de tristeza e destruição, após o temporal que atingiu a cidade entre a tarde e a noite de terça-feira. Em cerca de seis horas choveu mais que o esperado para fevereiro inteiro, de acordo com a Defesa Civil do município. Dados da meteorologia do Inmet no Rio indicaram que foram 259,8 milímetros de volume de água, quando o esperado para todo mês era de 236,6 milímetros. Para especialistas, a catástrofe poderia ser minimizada se houvesse um investimento em infraestrutura e moradia. 

A cidade está em estado de calamidade pública, decretado pela prefeitura, e até às 14h20, já havia o registro de 58 pessoas mortas e ainda não se tem a confirmação do número exato de desaparecidos. Mais de 250 ocorrências foram contabilizadas pelos Bombeiros e centenas de pessoas perderam suas casas, comércios e veículos. 


Especialista em gerenciamento de riscos e segurança, o engenheiro Gerardo Portela explica que essas tempestades são comuns e acontecem por conta da região do planeta onde o Brasil fica localizado. Segundo ele, para os estragos serem minimizados, é necessário investimento em infraestrutura e moradia.

"Sabemos que a cada verão passamos por essas tormentas porque o Brasil fica numa região do planeta, onde temos tempestades tropicais, grandes alagamentos. Alguns verões são mais secos e outros são mais úmidos, com mais chuvas, mas o fato é que esse fenômeno sempre existiu e deve continuar existindo. É necessário que as cidades tenham uma infraestrutura mais robusta para suportar esse tipo de fenômeno. Vejam que tanto as grandes metrópoles, quanto as cidades menores do interior, passam por dificuldades porque não há uma infraestrutura bem desenvolvida. Então, você começa a construir de forma desordenada, esse é um dos principais pontos, porque quando você constrói em áreas de risco, por falta de orientação, por falta de capacitação técnica de engenharia, você acaba construindo residências vulneráveis.", declarou.

Portela acredita que é necessário fazer um plano nacional para que o país todo sofra menos impactos com fortes chuvas.

"Enquanto não se investir em moradia, nós teremos problemas gravíssimos relacionados a grandes tormentas tropicais no país. É preciso fazer um plano nacional, não é a questão de um município ou um estado, mas um plano nacional, dirigido pelo governo federal, com requisitos técnicos de construção, de estrutura básica para suportar grandes tempestades. O Brasil tem conhecimento técnico, empresas capacitadas e também condições financeiras próprias, mas são planos longos, que os resultados nos primeiros anos são pequenos, só começam a ver resultado em oito, dez anos. Mas temos o caso do Japão que se preparou para resistir a terremotos, tem países que resistem bem a neve, então precisa saber se configurar. Isso é importante para reduzir impactos", garante o engenheiro.

O especialista explica que apesar do aquecimento global, esse não seria o único motivo para o Brasil ser atingido por temporais, já que elas são uma consequência de tempestades tropicais e que acontecem anualmente. Essa não é a primeira vez que Petrópolis sofre uma tragédia provocada por chuvas. Em janeiro de 2011, um intenso temporal atingiu a Cidade Imperial, além de Friburgo e Teresópolis, também na Região Serrana. A catástrofe da década passada deixou mais de 900 mortos.

"Muitos podem achar que o aquecimento global é a causa, mas não. O aquecimento global é uma verdade técnico científico, mas esses fenômenos são cíclicos de tempestades e eles, não necessariamente, são causados pelo aquecimento global. Ele agrava a situação, mas mesmo que não houvesse ele, nós teríamos tempestades de verão na nossa região. Isso não pode ser apresentado como uma desculpa para as sucessivas tragédias causadas por falha de infraestrutura. Então, penso que a solução é um plano nacional de robustez de infraestrutura de resposta e de prevenção de grandes tormentas tropicais e de moradia. Enquanto o Brasil se conformar em ter moradias medíocres e miseráveis, nós teremos que aceitar as vítimas se acumularem ano após ano, depois das grandes tempestades de verão. Não adianta nada a gente ter satélites, universidades com centro de pesquisa, e um percentual elevadíssimo da população morar em condições abaixo da linha da pobreza, vulneráveis e colocando em risco a vida humana", declarou Portela.

A tempestade desta terça-feira, se assemelhou, em questão de volume, com a tempestade de 2011, quando foram registrados 280 milímetros de chuva, num período de oito horas. Essas chuvas são extremamente intensas e, segundo Portela, normalmente, com apenas 40 milímetros de volume de água, num período de uma hora, já é recomendado que sirenes sejam acionadas para alertar a população.

"As chuvas que caíram em Petrópolis foram extremamente intensas, mais de 250 milímetros em menos de seis horas. Com 40 milímetros em uma hora você já dispara as sirenes como uma forma de prevenção, para que as pessoas saiam dos locais mais perigosas para proteger sua própria vida. Isso é uma medida de resposta e emergência. Aquele volume de chuva é muito fora dos padrões, mas isso não é justificativa, porque nós sabemos que existe essas situações, são eventuais, mas acontecem em períodos de verão, com chuvas tropicais, na região sudeste, então a gente sabe que isso acontece em alguns lugares no Rio, São Paulo, Minas Gerais", finalizou o engenheiro.