Registro de chuva forte em Petrópolis volta a preocupar. Na foto, os deslizamentos na região 24 de Maio, no Alto da SerraMARCO ANTÔNIO PEREIRA//AGÊNCIA O DIA
Rio - Os deslizamentos de terra na cidade de Petrópolis, na Região Serrana, da última terça-feira, poderiam ter sido amenizados se sistema de monitoramento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) estivesse ativo no município. Chamados de ETRs (Estações Totais Robotizadas), os equipamentos foram adquiridos pelo governo federal em 2016, mas estão sem manutenção e, por isso, parados desde 2018. Até o momento, mais de 190 pessoas morreram na tragédia e cerca de 60 seguem desaparecidas.
O equipamento instalado em Petrópolis, em fevereiro de 2016, foi um dos primeiros no país. Segundo o Cemaden, o sistema tinha como principal função acompanhar com maior precisão a movimentação de terra em morros e encostas nas áreas de riscos de deslizamentos. Os sensores geotécnicos faziam parte do Projeto de Monitoramento de Morros para Prevenção de Riscos de Deslizamentos do Cemaden/MCTI, planejado após a tragédia da Região Serrana, em 2011, que matou mais de 900 pessoas e ainda deixa desaparecidos.
Informações divulgadas em reportagem da BBC confirmam que o ETR de Petrópolis não estava na cidade quando as chuvas do último dia 15 provocaram deslizamentos, mas sim em Cachoeira Paulista (SP), onde fica uma unidade do Cemaden. Os equipamentos foram recolhidos da cidade por falta de orçamento para manutenção. O sistema ficava instalado em estação na região do Alto Independência, onde não houve deslizamento.
De acordo com dados do Cemaden, a estrutura vem recebendo menos recursos federais ano após ano e a falta desse financiamento chegou ao seu pior momento em 2021, quando o órgão recebeu apenas R$ 17,9 milhões. O valor é bem inferior aos R$ 90,7 milhões empregados no primeiro ano de atividade do órgão de prevenção.
Além de Petrópolis, outras três cidades, sendo duas também da Região Serrana, deveriam ter equipamentos de monitoramento como esses. São eles: Nova Friburgo, Teresópolis e Angra dos Reis, que fica na Costa Verde.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, o Cemaden confirmou que a ETRs de Petrópolis foi retirada em 2017 por falta de orçamento: "Em 2016 e em 2017, em vista da indisponibilidade de recursos para fazer o contrato de manutenção e calibração, as ETRs foram retiradas do campo, uma vez que deixá-las onde estavam proveriam dados duvidosos, além de colocar em risco a integridade dos equipamentos. Adicionalmente, a partir dos resultados preliminares obtidos, ainda não foi possível concluir que eram viáveis para subsidiar as ações de monitoramento. Portanto, os dados coletados em um ano foram usados apenas para pesquisas. Na sequência, considerando a realidade orçamentária foram priorizadas as manutenções na rede de pluviômetros automáticos, de radares e das estações hidrológicas", explicou o órgão.
O órgão explicou ainda que a cidade de Petrópolis tem mais de 500 áreas de risco e que, por isso, a unidade ETRs, que tem um alcance limitado, forneceu dados restritos durante seu período de funcionamento, em 2016.
"Importante enfatizar que, por exemplo, no município de Petrópolis, RJ, que tem mais de 500 áreas de riscos, somente uma ETR foi instalada, o que possibilitava cobrir um número mais restrito de áreas de risco. Portanto, com os dados que foram gerados em 1 ano, teve-se uma demonstração objetiva de que as ETRs se destinavam incialmente a prover dados para a pesquisa", avaliou.
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