Grupo 'BR Ratobrás' causou prejuízo bilionárioReprodução

Rio - Era através de um grupo de WhatsApp que uma organização criminosa especializada em perfurar dutos da Transpetro, na Baixada Fluminense, planejava seus crimes desde o furto de combustível até a revenda do material fora do Estado do Rio. Os criminosos se denominavam como 'BR Ratobrás' e a foto de perfil do grupo nomeado de 'Os Normais' era um rato portando um fuzil. Em um ato de ousadia, eles ainda acrescentaram a sigla 'BR' com a logo do posto da Petrobras, para fazer referência à instituição que eles furtavam.
Na manhã desta quarta-feira, a quadrilha foi alvo da Operação Ratoeira, realizada pela Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), que tinha o objetivo de cumprir 10 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão.
De acordo com as investigações, o bando era organizado e continha divisão de tarefas, sendo liderado pelos empresários Robson Teixeira Alves Gusmão e Magnojai Rizzari Recla, o Magno. Os dois, além de serem receptadores do óleo subtraído, recebendo o produto no Espírito Santo e então destinando- o às empresas nas quais figuram como sócios, todas com atividade fim voltada à comercialização de combustível, eles ainda negociavam o produto Furtado com outros receptadores.
Em diálogos travados no grupo de WhatsApp da organização criminosa, analisados pelos investigadores, foi possível constatar a liderança de Gusmão e Magno.
"Além disso, os diálogos travados entre os integrantes da organização criminosa, bem como os comprovantes de transferências bancárias acostados aos autos, deixam claro que os denunciados ROBSON e MAGNOJAI financiavam a estrutura da malta, sendo os responsáveis pelos pagamentos dos gastos com as viagens dos motoristas que faziam o transporte da carga subtraída e demais despesas necessárias para o desempenho da atividade criminosa", analisou a denúncia do Gaeco.
A apuração da DDSD indicou que, pelo menos, desde 2017, a quadrilha perfurava os dutos, localizados na Baixada Fluminense do Rio, para subtrair o combustível da Transpetro e depois transportá-lo para os Estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, onde há o transbordo e a receptação do produto furtado.
Para fazer com que o combustível chegasse em segurança ao seu destino, sem ser interceptado pela polícia, Gusmão e Magno chegaram a contratar ‘batedores’.
"Cabia a eles providenciar os “batedores”, ou seja, os veículos que iam à frente dos caminhões com o combustível furtado a fim de verificar a existência de fiscalização e de policiamento no trajeto percorrido e, assim, assegurar o êxito da empreitada criminosa", afirma o documento do Gaeco.
Em áudio, enviado em outubro de 2017, Magno comunica aos motoristas do grupo que conduziam os caminhões com o petróleo subtraído que havia uma caminhonete à frente deles dando cobertura à ação criminosa.
"Diego, avisa os menino do grupo aí que eu tô com uma caminhonete na frente aí, tá dando cobertura aí, pode ir chinelando que tá tudo normal aí. Agora não vamos dar toco não. Não vamos marcar toco não. Adriano vamos acelerar. Vamo acompanhar. Estrangula, põe pra rodar, põe pra moer. Tô com uma caminhonete na frente aí, tá cobrindo aí, tá tudo normal. Vão rodando aí, Diego, Francis. Vocês tão com cobertura a frente aí. Com cuidado aí vão rodando. Vambora. Pode acelerar aí que tá tranquila aí a frente de vocês. (sic)", disse o empresário no grupo 'Os Normais'.
Segundo levantamento dos investigadores, os 'BR Ratobrás' teriam furtado bilhões de reais em combustível.
Estrutura ordenada e divisão de tarefas
Além da liderança de Gusmão e Magno, a polícia identificou ainda a participação de mais oito integrantes do grupo.
Milton Carlos Félix de Souza, o Félix, e Rogério Peixoto Gomes, o Peixoto ou RRio, eram os responsáveis por escolher e preparar os locais nos quais ocorria a subtração do combustível, além de enviar as pessoas que conduziam os motoristas das carretas até o local no qual os dutos eram perfurados.
Peixoto ainda é apontado como o responsável por fazer rondas nos locais dos furtos, para verificar a presença de policiais, seguranças privados e populares, e informar o melhor momento para o cometimento dos crimes. Ele também tentava cooptar vigilantes
privados que trabalhavam para a Transpetro.
Já Mauro Pereira Gabry, Dionathan Rodrigues Lima, João Luiz Gomes Diogo e Daniel José Campagna tinham a função de fornecer os caminhões utilizados pelo grupo no transporte do combustível subtraído dos dutos, além de contratar o motorista e realizar o pagamento desse. Desses quatro, Lima era quem também recebia o valor do frete direto dos líderes da organização criminosa e repassava parte ao condutor do caminhão, segundo o Gaeco.
Franz Dias Costa, o Francis, e Adriano Marcio Gomes, conhecido como Mixaria, são indicados pelos investigadores como os motoristas dos caminhões do grupo, conduzindo as carretas até local da subtração e lá carregá-las com o produto furtado dos dutos, levando-as, em seguida, até o receptador, mediante o pagamento de valor previamente acordado.