Com racismo religioso, vereadores bolsonaristas atacam Benny Briolly na Câmara Municipal de Niterói Divulgação
"O Estado laico trabalha na lógica de não se opor e nem apoiar nenhuma religião. Mas o racismo direcionado às religiões de matrizes africana é tão naturalizado que consideram normal marginalizar o nosso sagrado dessa forma. Os pais de santo que vieram acompanhar a sessão foram desrespeitados. Minhas irmãs travestis foram intimidadas por conta das roupas que estavam usando. E sofreram junto comigo a transfobia institucional dessa casa. Fui chamada de "macumbeiro", "demônio", "capeta", "satanás" e tudo de mais racista e transfóbico que possa existir", escreveu a vereadora em suas redes sociais.
A parlamentar aguarda o Programa de Proteção que a acompanha para definir quando irá registrar a ocorrência. Benny afirma que ela e pais de santo convidados para a votação foram vítimas de racismo religioso e intimidados por 'bolsonaristas' que acompanhavam a sessão. Em um vídeo publicado nas redes sociais de Benny, é possível ver um homem dizendo "Xô, Satanás" após afirmar que "Jesus Cristo é o Senhor de Niterói". Em outro momento, ele chama a vereadora de "babaca" e "macumbeiro".
O vídeo também mostra um grupo de pessoas entoando "Jesus Cristo é o Senhor". Há ainda um parlamentar que em seu discurso, diz que o projeto não seria aprovado. "O que manda sou, e o meu posicionamento é: está repreendido. Para na porta do meu gabinete (...) Eu repreendo, também. Está repreendido", declara ele. Confira o vídeo.
"Até mesmo os vereadores da casa, na qual em toda sessão de plenário se lê um trecho da Bíblia, exibiram a intolerância religiosa em suas falas. O Estado aqui é laico, mas não para o povo de axé. Minha equipe jurídica está tomando as medidas cabíveis para responsabilizar os autores das ofensas pelo crime de racismo. Seguimos na luta aos cuidado de Mulambo!", lamentou a parlamentar.
Apesar do vídeo com as ofensas, a Câmara Municipal de Niterói, na figura do presidente, o vereador Milton Carlos Lopes, o Cal (PP), disse em nota que, na sessão de ontem, "ocorreram debates acalorados" com posicionamentos diversos, "dentro do respeito que o parlamento exige e o Estado de Direito determina". A nota afirma ainda que, até o momento, não foi noticiado por qualquer parlamentar nenhum tipo de ofensa e caso tenha ocorrido eventual racismo, assim que formalizado, "será prontamente adotada as medidas cabíveis para a sua apuração e punição". Confira a nota na íntegra abaixo.
Na última quarta-feira (9), Briolly já havia usado as redes sociais para denunciar que voltou a ser alvo de ameaças de morte. Segundo a denúncia, esta é a sexta vez em que se torna vítima deste tipo de crime, somente em 2022. Um dossiê enviado à Polícia Civil reúne mais de 20 em menos de um ano. A parlamentar iria ainda na quarta-feira à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) para registrar as novas ameaças junto ao Instituto de Defesa da População Negra (IDPN).
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