Familiares pedem liberdade de jovem com deficiência que teria sido preso injustamenteArquivo Pessoal

Rio - Familiares e amigos de um jovem que teria sido preso injustamente por roubar um celular em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, marcaram uma manifestação para pedir a liberdade do rapaz. Jorge Luiz de Souza Filho, conhecido como 'Jorginho', de 28 anos, foi detido no último dia 15 de fevereiro, após duas vítimas o reconhecerem por foto como responsável pelo crime, mas a família questiona a acusação, alegando que Jorge Luiz tem deficiência motora e baixa visão. O ato que pede a soltura do jovem irá acontecer no próximo dia 22 (terça-feira).
"Poderia estar aqui me vitimizando de 'mimimi'. Mas muito pelo contrário. Estou aqui para exigir os direitos do meu filho como cidadão. Enfim, meu filho não tem coordenação motora para pilotar uma moto, portar um revólver e roubar um chefe de família com tamanha agressividade, com xingamentos e tapa na cara. O marginal ainda estava de capacete, de máscara e supostamente teria 1,80 m de altura, sendo que meu filho tem 1, 62. Ele jamais faria isso. Sei a educação que dei a ele e conheço as limitações dele", contou a mãe, Eliane Campos, em postagem na internet.
Segundo ela, o rapaz, que mora com a família em São Gonçalo e trabalha de carteira assinada em Niterói, tem cegueira progressiva e atrofia congênita no nervo ótico. A condição o incapacitaria de cometer o crime, além de ter problemas de ter mobilidade prejudicada por nascimento precoce. "Eu como mãe estou desesperada. É incomensurável a minha dor, pois tenho certeza que meu filho é, sim, inocente", compartilhou.
Jorge teria sido acusado de cometer o crime por ter comprado, sem saber, um celular que havia sido roubado em maio de 2021, em Itaboraí. A irmã de Jorge, Ana Clara, conta que o inquérito policial que gerou o pedido de prisão preventiva foi feito com base nos dados usados por ele para configurar o aparelho. De acordo com ela, o irmão conhecia o rapaz que vendeu o celular e não suspeitava que o objeto fosse roubado.
"Ele viu o anúncio do amigo dele, achou o celular interessante e o preço bom. O amigo dele, inclusive, disse que tinha nota fiscal, embora ele nunca tenha entregado. Depois de comprar, ele teve problemas para configurar o celular, então acabou devolvendo para esse amigo, que entregou o dinheiro. Tudo isso fez com que ele nem suspeitasse de nada", contou.
A jovem conta que os policiais conseguiram os dados e a foto do irmão no banco de dados do Detran. A imagem foi mostrada às vítimas que o reconheceram, embora, segundo ela, quase nenhuma característica dadas pelas vítimas bata com Jorge, exceto o fato de ele ser branco. "Ele não anda direito, vê as coisas tudo turvas, anda com a cabeça de lado, só tem 20% da visão e tem laudos comprovando isso. Ele em pé, sozinho, já fica complicado", comentou Ana Clara.
Ainda segundo ela, antes do dia 15 de fevereiro, os policiais da 71ª DP foram até o local onde Jorge trabalhava, na Universidade Salgado Filho (Universo), no Centro de Niterói, mas não o encontraram. "Jorge estava afastado do trabalho por conta da sua condição. Ele era grupo de risco, então não estava indo trabalhar. Assim que ele soube por uma colega de trabalho que os policiais foram até lá, decidiu ir até a delegacia para saber do que se tratava, Quando chegou lá, descobriu que tinha um mandado de prisão no nome dele e acabou preso", explicou.
A família vem tentando retirar Jorge da cadeia por conta de sua saúde e também, segundo eles, devido às péssimas condições em que ele tem sido submetido dentro da prisão. "Nós já entramos com dois habeas corpus, mas ambos foram negados. Inclusive, estão colocando ele como criminoso de alta periculosidade. A situação dele lá dentro é triste demais. Ele chegou a pegar sarna quando estava em Benfica", revelou a irmã.
Jorge ficou no presídio de Benfica, depois foi para o Tiago Teles, em São Gonçalo, e agora está na Cadeia Patrícia Acioli, também em São Gonçalo, segundo familiares.
Ajuda financeira
A família de Jorge pede ajuda financeira na internet para custear despesas com o transporte para o ato pela liberdade do jovem. A ideia é usar o valor para pagar uma van ou ônibus que leve todos de São Gonçalo até o Fórum de Itaboraí, na Avenida Vereador Hermínio Moreira, no bairro Sossego, em Itaboraí. O valor doado também deve ajudar a custear as despesas com a defesa do rapaz.