O ex-PM Ronnie Lessa no dia em que foi preso, em março de 2019 Arquivo O Dia

Rio - A mulher de 88 anos presa na última terça-feira (15) acusada de integrar uma quadrilha de tráfico internacional de armas recebeu em casa o PM aposentado Ronnie Lessa, acusado de ser o executor de Marielle Franco e Anderson Gomes. Ilma Lustosa guardava, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, peças de fuzis e armamentos enviadas por seu filho dos Estados Unidos e entregava para criminosos.
 
Em áudio revelado pelo "Fantástico", da TV Globo, Ilma reconhece o PM aposentado Ronnie Lessa, dois dias depois de sua prisão, em março de 2019, pela execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
"Marcelo, esse Ronnie Lessa foi o que esteve aqui em casa, que me pegou pelo pescoço e me botou na frente dele pra sair aqui de casa, não foi? Agora que eu tô conhecendo ele", diz ao filho.
João Marcelo de Lima Lopes, conhecido como Careca, orienta a mãe a apagar a mensagem. Ilma, na sequência, pergunta quando Marcelo irá visitá-la, no que ele responde que não voltaria tão cedo.
"Ah, meu filho, quando é que você vem aqui? Dá um jeito de vir". Careca, responde: "Não, agora quem não quer ir aí sou eu, mãe. Depois dessa bomba aí. Não vou agora, não. O lugar que eu menos quero ir agora é aí", responde. 
Os documentos revelados pelo "Fantástico" também mostram que Ronnie Lessa transferiu mais de R$ 190 mil a Marcelo em junho de 2018. Em outro troca de mensagens interceptada pela polícia, Careca se diz disposto a ajudar o executor de Marielle após a prisão em março de 2019, porque Ronnie já lhe teria ajudado no passado quando Marcelo foi preso.  
Em mensagem de 2019, Ilma avisa ao filho da chegada de armamentos. E o filho responde que duas encomendas estavam para chegar na casa da mãe. "Mãe, é pequeno ou grande? Tá pra chegar dois, acho que um pequeno e um grande". "Esse é pequeno, é pequeno", responde a idosa.
Segundo as investigações da operação 'Florida Heat', realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, a quadrilha usava uma impressora 3D para terminar de montar os armamentos, que posteriormente eram distribuídos para traficantes, milicianos e assassinos de aluguel.
O ex-PM Ronnie Lessa também foi alvo da operação. Ele aguarda julgamento no Presídio Federal de Campo Grande. 
O filho de Ilma, Marcelo, foi notificado nos Estados Unidos. Ele tem naturalização americana e mora na Flórida. Outros dois comparsas também foram notificados. A Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI) da Embaixada dos Estados Unidos participou da investigação, que durou mais de dois anos. A quadrilha forneceu equipamentos para criminosos por pelo menos seis anos, enviando armamento principalmente para o Rio de Janeiro.
Os brasileiros naturalizados nos EUA compravam peças de armas legalmente e enviavam ao Brasil escondidos em encomendas de utensílios domésticos como colchão, caixas de som e sofás. A entrada do armamento no Brasil se dava através de rotas marítimas por contêineres e aéreas via encomenda postal.
Os acusados vão responder pelos crimes de tráfico internacional de armas, organização criminosa e lavagem de capitais.