Nally Pires Diniz e Marcelo Cleiton Alves Diniz foram alvos da operação na Argentina, mas seguem foragidosReprodução TV Globo

Rio - Um casal acusado de comandar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho, a maior facção criminosa do estado, leva uma vida de luxo em Buenos Aires, na Argentina. De acordo com Gabriel Poiava, delegado titular da DCOC-LD, Marcelo Cleiton Alves Diniz e Nally Pires Diniz compraram uma mansão e carros de luxo no país. Eles foram alvos da operação Mercador de Ilusões, nesta quarta-feira, na Argentina, mas seguem foragidos.
A ação teve como objetivo o cumprimento de 40 mandados de busca e apreensão e oito de prisão, sendo que seis no Brasil e dois na Argentina. As investigações apontam que o esquema do tráfico de drogas movimentou R$ 3 bilhões entre 2019 e 2021. Ao todo, duas pessoas foram presas em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e uma em Brasília, no Distrito Federal.
"Esse casal seria o principal gestor desse esquema. Hoje, pelas informações, eles estão morando em Buenos Aires, ostentando uma vida de luxo, compraram uma mansão lá e carros de luxo", afirmou Poiava ao 'RJTV', da TV Globo.
A operação contou com apoio de policiais civis do Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Minas Gerais, Amapá, Pernambuco e Rio Grande do Norte, com apoio do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), da Polícia Civil do Rio de Janeiro, e do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.
O delegado também explicou como funcionava o esquema criminoso. "O tráfico de drogas da região do Salgueiro precisa remeter o dinheiro, fruto da venda da droga, para as regiões de fronteira para aquisição de novas drogas e armas de fogo. Então, eles se valem dessa estrutura financeira e de empresas de fachada, cujos sócios são laranjas, para remeter esse dinheiro. Fomos informados através de agências de inteligências dessas movimentações financeiras e, a partir dali, foram feitos uma análise financeira dessas empresas e desses depositários. Identificamos que realmente houve uma movimentação bilionária nessas contas e que muitas empresas não possuem funcionários, nem estrutura física. A partir disso, fomos identificando os principais personagens desse esquema criminoso", disse.
Segundo o Poiava, houve a apreensão de carro de luxo, joias, dinheiro em espécie e diversos documentos de escrituras públicas. "Provavelmente são de imóveis adquiridos fruto do tráfico de drogas ou então até de outros delitos, porque esse esquema criminoso certamente é utilizado para a lavagem de dinheiro de outros crimes. Isso tudo será analisado com calma para dar prosseguimento nessa investigação".
Lavagem de dinheiro do tráfico
De acordo com as investigações, dois depósitos bancários feitos em favor de duas empresas em outubro de 2019, nos valores de R$ 30 mil e R$ 23.700, eram provenientes do tráfico de drogas da Comunidade do Brejal, situada no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, dominado pelo Comando Vermelho. O núcleo de lavagem de dinheiro acontecia nessa mesma comunidade. A força-tarefa afirma que o esquema é utilizado por Antônio Ilário Ferreira, o Rabicó, para ocultar o dinheiro arrecadado com a venda de drogas e para comprar armas e entorpecentes.
"Não tem mandado de prisão contra ele nessa operação, mas ele provavelmente é o principal elo do tráfico de drogas do Salgueiro com esse esquema criminoso de lavagem de dinheiro. Ele se vale desse esquema para poder dar seguimento na sua atividade criminosa, ele precisa adquirir armas que vem de fora do país, de drogas", disse o delegado sobre o Rabicó.
Segundo a polícia, Rabicó é a pessoa que dá ordens para atacar agentes de segurança a tiros, roubar veículos e cargas, e financia as guerras contra facções rivais. Ele que comanda o tráfico de drogas do Complexo do Salgueiro desde o final dos anos 1990. Rabicó figura como foragido da Justiça, com dois mandados de prisão preventiva pendentes contra ele.
O Juízo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital também determinou o bloqueio de contas e bens de 13 pessoas e de 9 empresas, em um total de R$ 681 milhões.
"A partir do acompanhamento da movimentação financeira das duas empresas, descortinou-se um esquema criminoso que envolve diversas pessoas pelo país, muitas em regiões de fronteira, que figuram como sócias ou procuradoras de empresas que não ostentam qualquer traço empresarial relevante (como estabelecimento comercial ou quadro de funcionários), mas mesmo assim têm movimentações de quantias milionárias, indicando toda uma cadeia fraudulenta de branqueamento de capital", disse o MPRJ em nota.
Segundo o MPRJ, algumas dessas empresas realizam a lavagem de capital por meio de criptomoedas, ativos financeiros completamente digitais, protegidos por criptografia, e movimentados sem o controle do Banco Central, da Receita Federal e de outros órgãos de fiscalização, o que dificulta o rastreio dessas transações e favorece a lavagem de dinheiro a evasão de divisas.
"Nosso objetivo é diminuir o poderio econômico dessas organizações criminosas do tráfico de drogas e justamente reduzir os índices de criminalidade, reduzindo a entrada de novas drogas e armas no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro", declarou Poiava.