Adolescentes da Unidade de Reinserção Social Paulo Freire, em Campo Grande, na Zona Oeste, vão estrear em 1ª Mostra de Cinema Inclui RioReprodução

Rio - Sentados, quatro adolescentes observam o movimento da rua. No vai e vem dos olhares, Faísca quebra o silêncio: "Pô cara, queria comprar um skate igual daquele mano ali". Um dos jovens responde: "Não tenho nem dinheiro para comprar um chinelo". O menino que sonha com o skate vai até uma loja e acaba sendo expulso pelo segurança do comércio. O final dessa história criada por adolescentes da Unidade de Reinserção Social Paulo Freire, em Campo Grande, na Zona Oeste, poderá ser visto na 1ª Mostra de Cinema Inclui Rio, no Museu do Amanhã, na próxima quarta-feira (30), no Centro.
O curta-metragem 'Faísca' é resultado de uma ação da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) em parceria com cineasta Pedro Dannemann, a ABC Cursos de Cinema e a RioFilme. Além deste filme, foram produzidos outros sete curtas por adolescentes que moram no abrigo da Zona Oeste. A Unidade de Reinserção Social Paulo Freire acolhe adolescentes meninos de 12 a 17 anos e 11 meses. Atualmente, tem 11 acolhidos. São 18 vagas no total.
Os adolescentes que criaram as histórias dos filmes e foram os atores junto a funcionários da unidade vão estrear em grande estilo: com direito a cartazes, vestidos de paletó para uma plateia de convidados, incluindo os seus parentes.
A ideia dos curtas começou a ser plantada na cabeça do cineasta Pedro Dannemann, de 34 anos, em 2017, quando conheceu um abrigo para meninas no Catete, na Zona Sul do Rio. Ele ficou fascinado pelas histórias daquelas meninas. A partir daí, começou a visitar outras unidades até conhecer a Paulo Freire, em Campo Grande.
"Depois das autorizações dos juízes, comecei gravando um documentário onde eu filmava a história deles, mas os meninos começaram a pedir: 'Por que a gente não grava um filme nosso?'. Então, começamos a fazer as oficinas de cinema e produzir os curtas", lembra Dannemann, que é diretor de cinema com experiência em documentário e ficção.
A diretora da URS Paulo Freire, Daniele Torres, contou que o roteiro dos filmes é ficcional, mas com retalhos de histórias reais que os adolescentes vivenciaram. Segundo Dannemann, todos os filmes têm um final positivo, diferente do que poderia acontecer na vida real.
Um exemplo de superação é mostrado em 'Faísca'. O menino, que na cena é expulso da loja pelo segurança, desabafa: "Eu só queria comprar um skate". Depois do adolescente e o amigo saírem correndo, enquanto o chinelo do jovem sonhador soltava faíscas, a dupla aparece em imagens se divertindo em uma pista de skate. Em seguida, a voz do locutor avisa o final feliz: Faísca estudou e se especializou na vida do skate e hoje é um grande exemplo. No final, o adulto Faísca torna-se dono da loja de skate que observava quando menino.
"Eles encontram nos curtas a possibilidade de ressignificarem as suas histórias. Tudo foi gravado nas proximidades da unidade. Os atores são os adolescentes e os adultos funcionários da instituição. Os meninos estão muito felizes, quando veem o resultado, eles dizem: 'Ficou brabo'. Eles se olham como protagonistas e é muito legal", diz orgulhoso o cineasta, que também é responsável pela produção e edição dos curtas.
A SMAS realizará essa mostra anualmente, dentro do calendário cultural do Rio, e os meninos que estão atualmente nas oficinas e os que chegarem vão continuar dentro do projeto. A ideia é que essas oficinas aperfeiçoem a carreira profissional deles na indústria cinematográfica. O público poderá assistir pela plataforma digital Youtube no canal Inclui Rio.
"As oficinas de cinema que produziram esses filmes são uma oportunidade maravilhosa para os adolescentes ingressarem numa carreira na área de entretenimento, e poderem crescer sempre profissionalmente", observa a secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro.