Quando nos tornamos crianças grandes, ainda continuam evidentes o olhar bobo e o sorriso leve ao voltarmos de um encontro que faz o coração disparar Arte: Kiko

A cena nos Stories do Instagram logo me chamou a atenção: uma menininha ajoelhada, de costas, deixava os pés sujos à mostra no piso de taco da casa. A legenda bem-humorada da mãe acompanhava a imagem: "Se isso não é prova de que ela se divertiu na escola, não sei o que mais pode ser..." Aquela imagem me fez viajar pelos vários sinais que carregamos dando conta de que uma experiência valeu a pena. Já na infância, eles são bem evidentes: o uniforme sujo, o penteado desfeito e o tênis encardido na volta do colégio também são vestígios de que a brincadeira no pátio foi boa. Da mesma forma, o corpo salpicado de areia e os dedos enrugados não deixam dúvidas de que passamos boas horas no mar numa ida à praia.
Vem também do universo infantil a euforia estampada no rosto quando voltamos para casa com alguma novidade para contar. Pode surgir de uma brincadeira na rua, de um passeio da escola ou de uma viagem de férias. "Você não sabe o que aconteceu!": são as palavras que acompanham a nossa fisionomia ansiosa para revelar os pequenos grandes acontecimentos da vida.
É mágico como os sinais, em suas mais diferentes formas, nos denunciam. Quando pequenos, nem lutamos contra eles. E mesmo que a gente tente, as marcas dos sentimentos ficam expressas no rosto, como símbolos do quanto nos emocionamos durante a trajetória. Quando nos tornamos crianças grandes, ainda continuam evidentes o olhar bobo e o sorriso leve ao voltarmos de um encontro que faz o coração disparar.
Suspeito até que o amor tenha uma predileção por quem não tenta disfarçar o que viveu. Assim como a menina que voltou para casa com os pés sujos, denunciando a farra na escola. Afinal, podemos crescer em tamanho, mas em alguns momentos seremos as mesmas crianças, sem a preocupação de limpar a roupa tomada de farelo de biscoito polvilho; sem vergonha de chegar à Quarta-feira de Cinzas com glitter pelo corpo ou sem cerimônia de voltar para casa com os trajes molhados, revelando um repentino banho de chuva. E assim nem será preciso contar o que foi vivido; os sinais terão a bela missão de revelar que valeu a pena.