Evanildo foi morto a tiros, dentro do próprio veículoReprodução/TV Globo

Rio - Um gerente de supermercado foi morto a tiros por criminosos fortemente armados, na madrugada desta segunda-feira (28), no bairro Doutor Laureano, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A vítima é Evanildo Gomes da Silva, de 63 anos. Ele estava saindo de sua casa em seu carro, para ir trabalhar em Mesquita, quando foi interceptado pelos bandidos, que estavam em outros dois veículos.
Informações preliminares dão conta de que Evanildo foi vítima de um latrocínio, mas ainda não se sabe se pertences foram roubados. O automóvel em que o gerente estava não foi levado. O sobrinho do homem, o autônomo Paulo César Gomes da Silva, que esteve no local do crime, disse acreditar que Evanildo não reagiu ao possível assalto.
"Reagir, ele não tentou. É que você vê oito 'caras' de fuzil, 5h da manhã, você acorda para trabalhar e o café da manhã 'é' cinco, oito fuzil na sua cara, você vai ficar desesperado. Eu acredito que o único tiro que pegou foi porque o carro é automático, ele deve ter pisado no acelerador e o carro colidiu ali na casa. Acho que fugir, ele não fugiria. Ele tentou parar, mas com aquele susto imenso, a gente não sabe na hora o que a gente faz e, não contentes, os meliantes vieram e deram tiros", lamentou Paulo César, que descreveu Evanildo como uma pessoa do bem e querida. 
"Pedir a papai do céu que conforte a família, conforte a minha tia e ver se esses vagabundos vão para a cadeia. (Ele era) totalmente do bem, trabalhador, gerente de mercado. Trabalha em um mercado lá em Mesquita. A vida inteira trabalhou, sempre como gerente. Inimigos zero, não era de farra. Segunda a segunda trabalhando, na folga dele, ele gostava de ouvir Roberto Carlos na casa dele. A vizinhança está aqui em choque, porque realmente era uma pessoa que era inocente, um cara super do bem. A família e todo mundo adorava esse cara."
Câmeras de segurança registraram a ação, que durou pouco mais de um minuto. Em um vídeo obtido pelo WhatsApp O Dia é possível ver a vítima saindo da garagem de sua residência em um carro preto e seguindo pela via. Logo depois, ele é cercado por um carro vermelho e bandidos armados com fuzis descem em sua direção.
Em seguida, as câmeras mostram o veículo de Evanildo dando ré em alta velocidade e atingindo um muro. Após a batida, os criminosos se aproximam do carro e um segundo automóvel com mais homens armados chega e eles disparam contra o carro da vítima. Um criminoso ainda tenta abrir a porta, mas o grupo parece se assustar e foge. Confira o vídeo. 
O corpo do gerente foi removido pela Defesa Civil por volta das 8h30 e encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias. Ainda não há informações sobre horário e local do sepultamento de Evanildo. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
"A perícia foi feita no local e diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias da morte e a autoria do fato", informou a Polícia Civil, em nota. Evanildo deixa esposa, um filho e um casal de netos. Segundo Paulo César, ele havia perdido um filho policial militar, há cerca de 15 anos, vítima do tráfico de drogas, após ser baleado em serviço.
"O meu pedido agora é que os poderes, o governador, os prefeitos, vereadores, se unam, 'dá' uma olhada um pouco para cá e que não deixe esse caso impune. Pode demorar um dia, pode demorar um ano, pode demorar dez anos, mas que paguem pelo que aconteceu. Sei que nada vai voltar atrás a vida do meu tio, mas sempre que acontece um caso desse, a família pede justiça. Infelizmente, é o que eu peço. Justiça e que papai do céu toque no coração de cada um daqueles homens que estavam armados e, infelizmente, pensaram dessa forma, e eles possam refletir que estão matando, ferindo idoso, criança. Um pouco mais de coração, bota amor na vida, na alma, que essa violência vai acabar", desabafou o sobrinho. 
'Achei que eu estava na Ucrânia'
O sobrinho do gerente contou que foi acordado com o barulho dos tiros de fuzil. Segundo ele, muitos disparos foram feitos contra o veículo, mas apenas um atingiu o gerente, no pescoço. Após o ataque, Paulo foi até a rua verificar o que havia acontecido e encontrou o tio já sem vida dentro do automóvel. 
"Eu achei que eu estava na Ucrânia com a Rússia, porque foi tiro para tudo quanto é lado, só de fuzil. Olhei na janela, se abaixa, se esconde, até poder sair para ver. Infelizmente, me deparei com meu tio no carro. A realidade é essa, do nosso estado. Eu achei que fosse uma invasão. É uma coisa assustadora, parecia que eu estava no meio de uma guerra. Só faltou ter granada e bomba porque de resto, teve tudo", descreveu Paulo César. 
Aindade acordo com o autônomo, a região onde o crime aconteceu vem sofrendo com uma rotina de violência. Segundo ele há cerca de 20 dias, um idoso foi baleado em uma fuga de criminosos, após um assalto a um estabelecimento, e um outro homem foi morto há aproximadamente um mês, também em um roubo. 
"A gente sempre acha que a pessoa vai morrer de doença, mas, da forma que foi, muito cruel. Infelizmente, uma única bala que pegou e meu tio veio a falecer, mas parecia uma guerra. Todo mundo pensando na guerra da Ucrânia com Rússia, o Brasil é guerra 24 horas. É um inocente morrendo, é um vagabundo morrendo, é um policial morrendo. Onde vamos parar? Isso não vai parar. Hoje foi meu tio, amanhã é um vizinho, amanhã sou eu, amanhã é outro e não vai parar. Isso é no estado todo. A Baixada então, é totalmente esquecida de tudo."