Filhas de Valteles estavam muito abaladas durante o sepultamentoMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Familiares de Valteles Pereira de Oliveira, de 60 anos, acusam a Polícia Militar de ter feito o disparo que matou o aposentado, na noite desta quarta-feira (30), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A vítima estava na porta de casa, com a esposa e a sobrinha, quando foi baleada e morreu no local. Parentes afirmam que militares entraram na comunidade atirando, mas a polícia diz que houve confronto com criminosos.

De acordo com a PM, uma equipe do 7º BPM (São Gonçalo) foi atacada a tiros por criminosos, durante um patrulhamento nas proximidades da BR-101, na altura do bairro Recanto das Acácias, provocando um confronto. Entretanto, uma das filhas de Valteles, Taiane Oliveira, em entrevista ao BDRJ da TV Globo, contestou a versão. Ela relatou que, como de costume, os pais estavam na frente de casa conversando, quando os tiros aconteceram.

"Ele gostava de ficar ali, de tomar a cervejinha dele com a minha mãe, só que eles (policiais) já chegaram atirando. Nem teve tempo do meu pai correr. A Polícia Militar, os 'preparamentos' deles, já sair atirando, não teve nem oportunidade do meu pai sair correndo, porque meu pai não ia ficar na rua tendo tiro, nunca. Nem ele, nem ninguém, porque a gente mora em comunidade, a gente sabe como é essa situação. E eles não deram essa oportunidade, eles já saíram atirando, como se todo mundo que morasse em comunidade fosse bandido, mas não é assim. Existe muita gente de bem", desabafou a filha.

Os disparos também atingiram a esposa do aposentado e uma sobrinha adolescente. As duas foram encaminhadas para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo. Rosane Rosa Maia Oliveira, de 54 anos, foi baleada no braço e no tórax. Apesar do estado de saúde estável, ela corre o risco de perder o movimento dos braços e da mão, de acordo com a filha. Já a jovem foi ferida de raspão na perna e recebeu alta ainda na quarta-feira. 

"A minha prima já recebeu alta, já está em casa, está se recuperando do baque, porque ela mora no mesmo lugar e viver essa situação tudo de novo é muito triste, porque ela viu o que aconteceu. Ela viu o meu pai caído no chão, minha mãe pedindo socorro e ninguém fez nada, meu vizinhos que tiveram que socorrer as duas", contou Taiane. Também na quarta-feira, familiares e vizinhos do aposentado fizeram um protesto na BR-101, ateando fogo em pneus e entulhos.
"Fizemos um protesto porque a polícia, eles não prestaram socorro e não quiseram tirar o corpo do meu pai. Meu pai ficou de 18h da noite até 1h da manhã estirado no chão e ninguém queria tirar. Queria tirar no dia seguinte. A gente não podia deixar meu pai ali, como se fosse um nada. Não queríamos fazer (a manifestação) porque a gente não gosta de bagunça. É muito complicado ter que fazer isso porque a polícia e ninguém queria ajudar. Ninguém queria ajudar a gente", lamentou.
Em nota, a Polícia Militar infornou que as investigações estão sendo conduzidas pelas delegacias da região e a colabora com todos os trâmites. "As armas dos policiais envolvidos na ocorrência já foram disponibilizadas à perícia. Em paralelo, como de praxe em todas as ações que ocasionam óbitos, o comando da corporação instaurou um procedimento apuratório interno para apurar as circunstâncias dos fatos", completou a nota. 
Além de Valteles, três suspeitos também morreram na ação. Com eles, foram encontradas três pistolas, munições, dois rádios comunicadores, 149 tabletes de maconha, 150 pinos de cocaína e 93 pedras de crack. O velório do aposentado está previsto para às 11h desta sexta-feira (1º) e o sepultamento às 13h, no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Ele deixa esposa, quatro filhas e seis netos.