A pesquisa observou que os organismos patogênicos que já são encontrados há muito tempo nas praias são um problemaTomaz Silva/Agência Brasil
O projeto foi iniciado em março de 2021, em parceria com a Prefeitura de Niterói e a Fundação Euclides da Cunha (FEC) por meio do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA). O coordenador da pesquisa, professor Abílio Soares, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, explicou que a questão das superbactérias já vem se mostrando um problema crescente no mundo. “Porque a gente começa a ter a falta de antibióticos para tratar certas patologias, exatamente porque essas superbactérias são resistentes ao tratamento com antibióticos. Esse é um problema global”.
O professor Soares disse que não é possível dizer, entretanto, que a presença das superbactérias na areia é um problema em si mesmo. Em outros tipos de matrizes, como a água do mar e em outros lugares poluídos, há a presença de bactérias patogênicas. “Mas, potencialmente, a praia é um lugar em que as pessoas estão muito em contato com esses microrganismos, porque sentam na areia, as crianças brincam na areia”, salientou. “Mas ela tem potencial tremendo de vir a ser um problema de saúde pública”.
A pesquisa observou que os organismos patogênicos que já são encontrados há muito tempo nas praias são um problema, como os encontrados na água do mar que as pessoas podem engolir e podem causar disenterias, entre outras doenças. As bactérias patogênicas das areias também. “O problema das superbactérias é algo que vem a se somar aos problemas que nós temos nas praias”.
Microplástico
“Em tudo que é ambiente, o microplástico está presente”, diz Soares. De acordo com o professor da UFF, o microplástico já foi detectado na corrente sanguínea do homem, em placenta e no pulmão de pacientes internados. “O microplástico tem sido visto como um dos grandes vilões ambientais, até mesmo porque a sociedade atual ficou escravizada pelo plástico, que vai se degradando depois que é descartado no ambiente e vai soltando microplástico”.
Cerca de 750 mil pessoas no mundo morrem por ano de infecções causadas por esses microrganismos. “Estima-se que esse número poderá chegar a 10 milhões até 2050. Caso isso se confirme, o cenário está aberto para o surgimento de uma nova pandemia. Para evitar esse quadro, são necessárias ações para diminuir o surgimento de novas superbactérias como, por exemplo, um controle mais rigoroso no uso de antibióticos”, manifestou Henrique Fragoso, vice-coordenador da pesquisa e também professor do Departamento de Biologia Marinha da UFF.
Soares esclareceu que há uma diferenciação nas bactérias que ocorrem na areia e nos microplásticos. “O microplástico que ocorre na areia serve de substrato para a colonização por bactérias. Esse microplástico abriga, por vezes, bactérias que não são encontradas no grão de areia”.
Infecções
Outro gene identificado em abundância na areia das praias é o de resistência à classe da Azitromicina. Esse antibiótico foi utilizado durante a pandemia de covid-19. A utilização deste medicamento pode ter favorecido a seleção de bactérias resistentes não somente nas praias de Niterói, mas em outros diversos ambientes e regiões, alertou Fragoso.
Políticas públicas
O estudo da UFF deve ser publicado em revistas científicas especializadas e poderá ser adotado em praias do mundo todo. A pesquisa terá continuidade, visando validar os resultados por estudos realizados também em outros lugares. Ele apresenta potencial de monitoramento da qualidade das praias e, por isso, pode ser adotado por qualquer lugar do mundo.
Para assegurar a saúde do espaço natural e dos visitantes, os professores indicam que é necessário manter o cuidado com a preservação das praias. Para isso, a atenção com a poluição dos mares, oceanos e praias passa a ser fundamental, de acordo com a pesquisa da UFF.
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