Praça São Salvador é reduto do chorinho e do jazz cariocaReprodução

Rio - A Prefeitura do Rio proibiu o uso de amplificadores de som no reduto do chorinho, jazz, forró e diversas outras manifestações culturais e decretou um horário limite para o fim desses eventos na Praça São Salvador, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio. O local foi palco de inúmeras performances artísticas ao longo dos últimos anos, e a decisão dividiu artistas e moradores.

O decreto, editado pelo prefeito Eduardo Paes nesta terça-feira (26), atendeu um antigo pedido de moradores da região, que alegam que o som alto dos eventos e grupos que viram a madrugada na praça atrapalham seu sono e suas vidas.

Músicos da roda de choro Arruma o Coreto, que realiza apresentações semanais na praça há quase 15 anos, afirmaram que serão diretamente afetados e prometeram realizar um protesto no próximo evento, neste domingo (1). Por meio do Facebook, o grupo se manifestou contra o decreto.

"A Roda de Choro Arruma o Coreto vem a público manifestar o seu repúdio ao decreto em referência, baixado pelo prefeito Eduardo Paes, que, a título de imposição de medidas de ordem pública, comete uma série de equívocos e omissões, que acabam atingindo mortalmente a nossa manifestação cultural, que completa 15 anos de existência, no dia 06/05/2022. A Roda de Choro Arruma o Coreto é uma manifestação cultural espontânea que ganhou corpo ao longo dos anos, e que, por isso, foi reconhecida como bem cultural imaterial. A praça tem um coreto, cuja função original é exatamente de um palco público, aberto, para a cidadania", afirma a publicação.
Ana Caetano, flautista da Arruma o Coreto, acredita que o decreto não quer acabar com as manifestações culturais no local, mas está sendo aplicado de maneira errada, colocando todos os movimentos que ocorrem na praça como de mesmo segmento.

"O decreto em si procura ordenar a praça, porém de uma forma errada e horizontal que iguala todos os movimentos, o que é errado. Por ser em uma praça, com barulho de carros, pessoas, cachorros, sem o uso de nossas pequenas caixas de som e potência, os músicos não se escutam, o que inviabiliza a apresentação. Deve haver uma fiscalização da prefeitura e um conhecimento dos movimentos presencialmente e não por 'ouvir dizer' de outras pessoas, para então ordenar caso a caso", disse.

A medida prevê aplicação de multa em caso de eventos que desrespeitem a ordem e não sejam previamente permitidos pela prefeitura. Segundo o decreto, neste primeiro momento, os frequentadores do local serão informados sobre as novas regras em uma "ação educativa".

Desde a publicação do decreto, pelo menos um evento já foi afetado: o forró que acontecia nas noites de terça-feira e movimentava a praça precisou ser cancelado. O texto foi publicado no mesmo dia de outro, igualmente polêmico: a proibição do uso de caixas de som na praia.

No entanto, moradores têm outra versão. A presidente da Associação dos Moradores do Flamengo, Parque do Flamengo e Adjacências, Bebel Franklin, contou que o que acontece na Praça São Salvador já deixou de ser manifestação cultural e passou a ser desrespeitoso com moradores.

"Valorizo a arte e a cultura. Fui aluna da Escola Nacional de Circo na Praça da Bandeira, já fiz escola de teatro e amo cultura e arte. Infelizmente o que acontece na Praça São Salvador está longe de ser incentivo à cultura e a arte. Usam o espaço público para fins de exploração comercial de todas as formas, ignorando a área residencial. Sim, área residencial, onde o comércio mudou de categoria com a permissividade da prefeitura, que após anos de luta resolveu atender aos pedidos dos moradores e da AMAFLA para um pouco de ordenamento, controle urbano e dando dignidade aos moradores", contou.

A decisão só não afeta a roda de samba Batuque no Coreto, que acontece semanalmente aos sábados, pois consta em uma lista de rodas de samba que têm permissão para acontecer e estão cadastradas na Secretaria Municipal de Cultura.

Internautas reagem ao decreto de Paes

Nas redes sociais, internautas e frequentadores da Praça São Salvador se manifestaram contra a decisão de Eduardo Paes e alegaram que a medida quer acabar com a cultura do Rio de Janeiro.