'Meu filho era inocente, não fazia mal para ninguém', diz mãe em velório de rapaz morto na Barreira do Vasco
Dezenas de amigos e familiares de Ruan Limão do Nascimento se reuniram neste domingo de Dia das Mães para prestar a última homenagem ao jovem no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju
Durante o velório, Bianca Limão, mãe do jovem morto por PMs à paisana na Barreira do Vasco, clamava por justiça - Sandro Vox / Agência O Dia
Durante o velório, Bianca Limão, mãe do jovem morto por PMs à paisana na Barreira do Vasco, clamava por justiçaSandro Vox / Agência O Dia
"A versão que me falaram é que ele estava na fila do salão aguardando a vez dele pra cortar o cabelo. Depois, a polícia entrou, deu um tiro nas costas dele e botou ele no porta-malas, como se meu filho fosse um bicho. Meu filho estava vivo, meu filho é inocente, não fazia mal pra ninguém, era querido, tranquilo. Ele tinha as doideiras dele do Vasco, mas não fazia mal pra ninguém", disse Bianca, que relembrou os últimos momentos com o filho:
"Ele tinha muitos amigos, era querido por todos. Vascaíno doente, ninguém podia falar mal do time dele. Nos últimos momentos antes de tudo acontecer, ele tinha dito assim: 'Amanhã tenho que ir no salão pra cortar o cabelo pra ficar bonito pro teu dia, o Dia das Mães'. Perguntei pra ele o que ele iria me dar [de presente] e ele respondeu: 'Eu'".
Com uma camisa estampada com as fotos dos quatro filhos e dois netos, e com os dizeres 'Feliz Dia das Mãevó', a mãe de Ruan disse que espera que os envolvidos no caso sejam responsabilizados pelo crime. Segundo ela, nenhum dinheiro vai apagar a dor que está sentindo, tampouco trazê-lo de volta.
"Espero que façam um bom trabalho e que coloquem os verdadeiros culpados atrás das grades. É isso que eu quero, todos eles presos. Não quero dinheiro, não quero fama, nada. Sou uma pessoa humilde, mas nessa parte eu tenho certeza que dinheiro nenhum vai pagar a vida do meu filho, não vai me trazer de volta. Não quero um cala boca, eu quero a justiça seja feita", pediu.
O irmão do jovem, Renan Limão, voltou a afirmar que foram os PMs à paisana que chegaram à comunidade com fuzis em um carro vermelho e descaracterizado, que atiraram em Ruan.
"Não teve operação no dia que mataram meu irmão, mas teve ontem pra falar que lá tem isso, tem aquilo [violência]. Foi um negócio muito rápido, acertaram meu irmão pelas costas, logo depois colocaram ele dentro do porta-malas. Foi tão rápido que ninguém conseguiu filmar. A única informação que tínhamos é que um carro vermelho passou e mataram meu irmão. A polícia não deu informação nenhuma, ninguém sabia de nada. A gente que deduziu que ele estaria no Souza Aguiar", disse.
Dezenas de amigos e familiares se reuniram para a última despedida do jovem. Eles seguravam faixas em homenagem a Ruan, que diziam: "Justiça para Ruan do Nascimento". Um dos primos de Ruan chegou a colocar sobre o caixão uma camisa da Barreira do Vasco, a Vasbarreira.
Versão da PM
Em nota, a Polícia Militar confirmou que agentes do serviço reservado do 4ºBPM (São Cristóvão) estavam na comunidade. A corporação disse que os policiais disseram que foram ao local verificar a comercialização ilegal de cobre na localidade do Café, próximo da comunidade Barreira do Vasco, onde aconteceu um confronto armado durante a checagem.
"Após cessar fogo, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack. Um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada pelo Comando da Corporação para o caso e ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência. Um procedimento apuratório interno está instaurado".
A ocorrência foi encaminhada para a 17ª DP (São Cristóvão) e depois para a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
A Polícia Civil disse, em nota, os policiais militares foram ouvidos e tiveram as armas recolhidas para perícia. Diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.