Em relato nas redes sociais, engenheira afirmou ter sido dopada em corrida de Uber; motorista negaReprodução

Rio - O resultado do laudo pericial do líquido borrifado dentro do carro do motorista de aplicativo Paulo Sergio Alves Guimarães, de 37 anos, durante uma corrida, apontou que o produto se tratava de álcool 70%. O laudo foi realizado pela Polícia Civil e a informação foi confirmada pela defesa do motorista, que segue com um processo de calúnia e difamação contra a engenheira e influenciadora que relatou ter sido dopada por Paulo em suas redes sociais e, posteriormente, formalizado a denúncia na Polícia Civil.
Segundo a advogada do motorista, Marisol Souza, um outro fato citado no inquérito da 16ª DP (Barra da Tijuca), onde o caso foi investigado, apontou nova contradição no relato da suposta vítima. De acordo com informações, câmeras de segurança mostraram que o motorista não fazia uso de máscara, como relatado pela engenheira em uma entrevista. Na reportagem, a vítima diz que Paulo estaria usando máscara para não se intoxicar com o produto borrifado durante a corrida.
"Eu estou muito triste com tudo isso, não sei até que ponto vamos chegar e eu posso acabar respondendo por um processo criminal sem ter feito nada", disse Paulo ao DIA.
As contradições encontradas pela polícia no depoimento da engenheira colocam em dúvida a veracidade dos fatos. A influenciadora foi ouvida novamente na segunda-feira (9), na 16ª DP (Barra da Tijuca), e o motorista prestou depoimento no dia seguinte. Agora, os dois processos, um aberto pelo motorista por calúnia e difamação, e o segundo, aberto pela suposta vítima, às 19h do mesmo dia, por lesão corporal, foram juntados e se tornaram uma única peça.
"O processo dela está ligado ao processo dele, se tornando assim um fato só. Solicitamos o arquivamento do inquérito no Ministério Público do Rio na quarta-feira (11) porque não se trata de lesão corporal e sim de difamação. Ela foi primeiro nas redes sociais e não procurou a polícia inicialmente, nem fez um exame de corpo de delito. O fato ocorreu às 10h45 e ela registrou somente às 19h, depois que a esposa do motorista a informou que eles haviam aberto um processo de calúnia contra ela", disse a advogada.
A engenheira, que terá o seu nome preservado na matéria, havia publicado nas suas redes sociais a foto do motorista junto com o relato. Logo após a repercussão, ela apagou a publicação. "A minha foto viralizou, então eu passei a correr risco de vida por andar na rua. Eu sinceramente não sei o que passou na cabeça dela para criar essa história, porque álcool nunca fez mal a ninguém, inclusive, para mim, o passageiro quando sente o cheiro do álcool, ele até até gosta, ele sabe que no meu carro não vai pegar covid", disse o motorista para uma matéria do DIA.
A defesa de Paulo Sergio aguarda a decisão de arquivamento do processo nos próximos dias. "Não há um mínimo resquício de intoxicação, ou seja, materialidade do fato. Aguardamos o arquivamento e o fim desse martírio do motorista. Imagina responder uma ação penal sem requisitos mínimos?"
Motorista voltou a trabalhar na Uber
Após alguns dias banido do aplicativo de corrida, a defesa do motorista afirmou que a Uber voltou atrás e autorizou o retorno de Paulo Sérgio à plataforma. Motorista de aplicativo há cinco anos, com mais de 12 mil corridas e qualificação 4,94 de 5 estrelas, Paulo diz que nunca recebeu uma reclamação ou foi alvo de acusações tão graves como desta vez. Ele ainda pontuou que depois do fato, sua nota como motorista chegou a aumentar.
O que diz a engenheira e influenciadora
De acordo com o relato da engenheira nas redes sociais, ela pagou uma corrida, na segunda-feira, dia 2, entre São Conrado e Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Após o motorista borrifar um spray nas mãos, ela passou a sentir tontura e abriu a janela do carro. "Eu senti um cheiro muito forte (que não era álcool) e imediatamente uma pressão na cabeça. Em questão de segundos, eu estava vendo tudo meio turvo e com muita dificuldade de respirar! Abri o vidro assim que percebi que algo estava estranho e logo ele se espantou pois o ar condicionado estava ligado", escreveu.
"Percebi que ele começou a andar com o carro mais devagar (provavelmente fazendo hora para dar efeito) e eu com a cabeça inteira para fora do carro, tentando respirar, pensava no que fazer sem demonstrar o que estava sentindo, com medo da atitude dele. Respiração cada vez mais forte, coração disparado, visão turva, pressão da cabeça e sentindo meu corpo mole", escreveu a engenheira, em relato público.
Ainda de acordo com a engenheira, ela pediu para parar em um posto, e o motorista teria insistido em continuar a viagem. Após parar no posto de gasolina, ela entrou em uma loja de conveniência, e pediu ajuda.
O que diz o motorista de aplicativo
Paulo Sergio garante que borrifou álcool nas mãos para higienizá-las, como sempre faz, por causa da Covid-19, e seguiu viagem. Um pouco depois, a passageira pediu para abrir os vidros.

"Eu falei: 'sim, pode abrir sim, desculpa, foi o álcool que eu passei aqui na mão'. E até eu chegar no posto onde ela pediu para encostar, ela não falou mais nada que desse a entender que pudesse estar passando mal. Eu segui viagem, até então não estava percebendo nada demais. Quando ela pediu para encostar no posto, falou que ia comprar água rapidinho, então prontamente eu encostei, ela saiu do carro, entrou na loja de conveniência e de lá de dentro, depois de uns 20 segundos, cancelou a corrida. Eu não entendi o porquê, eu olhei para o meu celular e a corrida cancelada, eu achei que fosse um erro do aplicativo ou um bug do sistema e continuei ali por mais um minuto e meio, aproximadamente, aguardando ela, achando que ainda fosse retornar ao veículo. Quando eu percebi que ela não iria voltar, liguei o aplicativo de novo e fui seguir meu rumo para tentar pegar outras corridas. Foi só isso que aconteceu", explicou.
Em seu relato, o motorista de aplicativo expôs que ficou sabendo das acusações contra ele por meio de uma irmã, ao voltar para casa após um dia de trabalho. Por volta das 17h30, no caminho de casa, ele teria recebido uma ligação para saber se estava tudo bem com ele e se havia acontecido algum problema durante suas corridas. Com a resposta negativa, veio a notícia: ele estaria sendo acusado da internet de dopar uma mulher durante uma viagem e a publicação, com sua foto e seu nome, tinha viralizado na internet. Momentos depois, antes mesmo de chegar em casa, Paulo Sergio foi contatado pelo delegado responsável pelo caso para ele fosse à delegacia prestar esclarecimentos.
De acordo com ele, o uso do álcool se tornou recorrente com o início da pandemia, inclusive para higienizar os bancos a cada corrida que atende. Questionado sobre o que fará daqui para frente, Paulo Sergio disse que uma de suas maiores preocupações é provar a sua inocência: "Ainda não sei o que eu vou fazer, minha prioridade é provar minha inocência, voltar a trabalhar e receber 100% do público ao meu favor".
Procurada para confirmar o retorno do motorista Paulo Sergio ao aplicativo de corrida, a Uber ainda não respondeu. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a engenheira que denunciou o caso. O espaço está aberto para manifestações. 
A matéria também aguarda informações sobre o inquérito junto à Polícia Civil e o Ministério Público do Rio.