Renato Couto sofreu série de roubos em sua obra; ele foi morto por militares da Marinha após tentar recuperar materialArquivo pessoal

 Rio - O laudo de necropsia do corpo do papislocopista Renato Couto, 41, confirmou que ele foi atingido por três tiros de arma de fogo e morreu por afogamento, conforme exame prévio. A conclusão final dos peritos, divulgada nesta quarta-feira, dia 18, atesta que "haveria tempo hábil para a vítima receber o atendimento médico emergencial necessário", após ele ter sido baleado.
Couto foi morto por militares da Marinha do Brasil (MB), após tentar reaver metal que tinha sido furtado da obra que ele fazia de reforma para a casa da família, no Maracanã. Um dos militares e seu pai eram donos do ferro-velho, na Praça da Bandeira, para onde parte das peças furtadas fora vendida. Após ferido, ele foi atirado no Rio Guandu, em Japeri, na Baixada Fluminense.
O laudo, ao qual a reportagem teve acesso, descreve os ferimentos no corpo do perito. "O corpo apresenta três feridas de projéteis de arma de fogo, de baixa energia cinética, sem vestígios para disparo de curta distância ou tiro encostado, com duas saídas, e um projétil removido da região glútea esquerda", diz trecho.
Na análise, o documento assinado pelo perito legista Cláudio Simões, aponta que Couto foi baleado nas pernas, antes de ser ferido na barriga. "Considerando a perda volêmica para a coxa esquerda e panturrilha direita, formando hematomas, e o pequeno volume de sangue localizado na cavidade peritoneal, o perito pode apontar os disparos efetuados nos membros inferiores, como anteriores ao disparo que atingiu a cavidade abdominal".
Ainda segundo o perito, o ferimento mais grave atingiu a região femoral, mas o sangramento foi contido em reação do próprio corpo, o que impediu a morte imediata.  "A lesão na coxa esquerda foi a mais grave; o trajeto foi oblíquo e descendente, em fundo cego, consequentemente, o sangramento externo oriundo da lesão vascular femoral foi parcialmente contido pelos tecidos do entorno, com formação de hematoma na musculatura da coxa, compreensão intrínseca e formação de coágulos, diminuindo a hemorragia externa, face a isso, o perito pode afirmar, não ter ocorrido morte imediata em função dessa lesão", escreveu.
O mesmo ferimento ocasionou fratura do colo do fêmur esquerdo, o que "impediria a vítima de deambular, diminuindo a sua capacidade de resistência e evasão".
O sangramento provocado pelo tiro na região do abdômen foi menor devido aos primeiros tiros terem sido disparados nas pernas. "O sangramento abdominal foi pequeno, mesmo com lesão no mesentério e da asa do ílio direito, tendo como justificativa a hipovolemia iniciada com os ferimentos dos membros inferiores", apontou o perito.
A causa da morte, como já divulgada no primeiro exame, foi "asfixia mecânica por afogamento". Entre os vestígios para tal afirmação, o perito enumera: "a infiltração hemorrágica da células aéreas na base do crânio (sinais de Niles e Vargas-Alvarado), o derrame pleural, os focos de hemorragia pulmonar, e a presença de grãos de areia e partículas lamacentas na via aérea inferior".
E, conclui: "Os vestígios apontam para uma vítima na água, ainda viva, em anemia aguda. A morte ocorreu devido ferimentos do abdômen e membros inferiores por projéteis de arma de fogo, com hemorragia, e subsequente asfixia mecânica por afogamento". 
O corpo do perito foi enterrado ontem, sob forte comoção. Os militares da MB e o civil que participaram do crime estão presos preventivamente.