O sargento Adriano da Silva se exercita no Centro de Fisiatria e Reabilitação da Polícia Militar, em OlariaFOTOS Cléber Mendes

Rio - Começou com uma dor de cabeça e foi aumentando à medida que o estresse batia a porta. Além de hipertenso, o sargento Adriano da Silva, de 40 anos, sofria de preocupação excessiva com o que a tropa da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro está exposta todos os dias: a violência. Até que, enquanto dirigia, sofreu um AVC Hemorrágico e ficou com o lado esquerdo paralisado. Seu maior medo era não poder voltar a trabalhar, no entanto, com o novo Programa de Adaptação Policial Militar, criado neste mês de maio, Adriano já pode acreditar no seu regresso.
Assim como o Segundo Sargento Adriano, muitos agentes lesionados em decorrência do serviço agora têm a opção de dar prosseguimento à carreira através de um projeto formalizado pelo secretário de Estado da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho Pires, com a permissão do governador Cláudio Castro. A nova portaria permite, a partir de agora, a reintegração voluntária dos policiais militares feridos e parcialmente incapacitados à corporação. Eles poderão retornar às funções operacionais, em caso de recuperação sem sequela, e em caso de lesão permanente, poderão optar pelo programa.
"Durante toda minha carreira de oficial, sempre me incomodou a situação do policial militar ferido em serviço e que, por esse motivo, era afastado, na maioria das vezes contra sua vontade. O afastamento automático significava um segundo sofrimento. Isso não é justo com nossos combatentes", declarou o coronel Luiz Henrique.
De acordo com a Polícia Militar, atualmente há 216 agentes em Licença para Tratamento de Saúde prolongada e 120 reformados em decorrência de ferimentos durante atividade.
"Quando eu sofri o AVC, fiquei com o lado esquerdo do meu corpo todo inerte, nem falar direito eu conseguia porque minha boca ficou mole. Eu sentia muita dor, não conseguia ficar em pé porque não tinha força no quadril", disse Adriano. Os dias em casa, acamado, foram difíceis principalmente porque vinha o sentimento de impotência, fazendo o militar pensar até mesmo em se matar. "Eu amo o meu trabalho e não podia fazer nada. Até para tomar banho eu precisava da ajuda da minha esposa. Chorava todo dia, sentia muita dor. Cheguei a pedir a arma para acabar com isso de uma vez", declarou ele.
Adriano faz fisioterapia no Hospital da Polícia Militar duas vezes na semana e, depois que soube da criação do programa de reinserção, passou a ficar ainda mais motivado. "Minha esposa conversou comigo e disse que eu estava sendo egoísta de pensar em tirar minha vida. Nós temos uma família, sou pai de dois filhos, todos me amam e sofreram junto comigo", contou. "Quando soube da existência desse programa, foi a melhor notícia que recebi na minha vida desde que sofri o AVC. Se tem uma coisa que eu gosto é de ser policial, independente de onde seja", completou.
Érica Marinho da Silva, de 43 anos, não escondeu a felicidade de ver seu marido evoluir nos exercícios. "Eu não queria que ele se aposentasse porque é muito novo. Isso mexeu com o psicológico dele demais porque se sentia muito inútil. Quando ele soube do programa, ficou muito animado. Ver ele feliz me deixa feliz também", disse ela, que é casada com Adriano há 24 anos.
A nova portaria estabelece três requisitos para o ingresso no novo programa: ser policial militar da ativa e não ter sido considerado inválido; estar de Licença para Tratamento de Saúde prolongada, com restrição permanente, decorrente de acidente em ato de serviço; restrição permanente para serviço não impossibilita o policial militar de desenvolver funções ou tarefas da atividade-meio, e não poderá oferecer risco a si próprio e a terceiro.
"As possibilidades são muitas para um policial que tenha adquirido uma lesão periférica permanente. Estamos abrindo uma nova perspectiva para um grande número de agentes", afirma o tenente-coronel médico, Luiz Felipe.
Para ampliar o programa, o comando da Polícia Militar disponibilizará aos policiais inseridos nele a possibilidade de que tenham acesso a novas capacitações, como por exemplo, cursos de gestão na área de logística, de orçamento de pessoal e atuar em setor de planejamento ou de ensino.