familiares do jogador amador Fabrício dos Santos Silva, que foi morto no Borel, na Tijuca, comparecem à Delegacia de Homicídios para depoimentos nesta segunda-feira Cléber Mendes/Agência O Dia

Rio - Sueli dos Santos Pinto, mãe de Fabrício dos Santos Silva, 24 anos, jogador de futebol amador e morador de Manguinhos executado ao entrar por engano no Morro do Cruz, na Tijuca, Zona Norte do Rio, esteve nesta segunda-feira (23) na Delegacia de Homicídios (DH). Acompanhada da filha, da nora e um dos amigos que estava com o rapaz momentos antes da execução, Sueli presenciou o depoimento prestado pela irmã de Fabrício. O amigo do rapaz também deu seu relato na especializada.

Após acompanhar o depoimento da filha, Sueli relatou o ocorrido. Ela disse que a filha foi chamada em casa por dois amigos do atleta. Eles foram a um bar de Manguinhos e depois a outro na Mangueira, quando souberam de uma festa no Morro do Borel, também na Tijuca. Os amigos chamaram um Uber, que os deixou no Morro do Cruz: uma extensão do Borel dominada pela quadrilha rival de traficantes da que atua em Manguinhos.

Conforme Sueli, uma senhora perguntou aos três de onde eram e, ao escutar que moravam em Manguinhos, a mulher teria os orientado a sair do local. "Essa senhora disse a eles: 'Vai embora que aqui é outra facção e está em guerra'. Os outros dois saíram correndo e meu filho ficou conversando com essa senhora", lembrou a mãe do rapaz.

Ainda segundo Sueli, ao saber da história, ela foi imediatamente até ao local onde o rapaz foi visto pela última vez porque imaginava que o encontraria dormindo na casa dessa senhora. Ao chegar à porta da casa da mulher, ela viu o chinelo do filho e um copo quebrado.

"A minha intenção era de que ele estivesse dormindo na casa dessa senhora, não esperava por isso. Quando vi o chinelo dele, comecei a gritar, bater em todas as portas, ninguém abria. Até entendo, as pessoas ficam com medo", disse a mãe do jogador.

Após ir à delegacia do bairro, Sueli soube por policiais militares que um corpo havia sido encontrado na Rua Leopoldo, no Andaraí, e levado ao Instituto Médico Legal (IML). "Fui até o IML e ouvi o que não queria: era ele. A moça só me mostrou uma foto do rosto, eu reconheci. Mataram com tiros de fuzil nas costas. Não quis saber quantos, mas falaram que foi muito tiro", afirmou.

Emocionada, a mãe do rapaz disse que ele gostava muito de futebol e era cheio de sonhos: "Sempre falava muito: 'Mãe, vou juntar dinheiro e comprar uma moto'. Ele estava querendo tirar uma habilitação, era uma pessoa muito boa. Até agora não consigo entender. A minha ficha ainda não caiu sobre o que aconteceu com ele e o jeito que aconteceu", desabafou.
Homenagem a jogador morto
Silva era atleta do São Caetano de Manguinhos. Em 2021 ele foi o melhor jogador, artilheiro e campeão da Liga Zona Sul. Em 2020, foi o considerado o terceiro melhor jogador e um dos destaques da competição.
"Em virtude do acontecido com Fabrício, a Liga anuncia que os troféus da Liga Zona Sul 2022, terão o nome de Fabrício dos Santos Silva como uma singela homenagem da nossa competição a ele, aos familiares e ao São Caetano", informou a Liga Zona Sul.
Traficante Scooby teria ordenado morte, apontam áudios
Áudios obtidos pela reportagem e atribuídos a traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) apontariam conversas sobre a execução de Fabrício. Em um deles, que seria do criminoso Leandro Nunes Botelho, o Scooby, mostra a orientação para o crime. "Vamos ver qual é desse maluco aí, vamos ver qual é desse maluco aí, meu parceiro. Pega a visão geral: se ele tem família no morro, qual é a dele. Se ele for de Manguinhos, parceiro, não tem papo. Não tem papo, mano, não tem papo".