Rio - O ex-assessor de Gabriel Monteiro, Mateus Souza de Oliveira, confirmou em depoimento, na noite desta terça-feira, as denúncias de assédio sexual e estupro contra o parlamentar. Mateus, que editava vídeo para canal do youtuber, atestou os casos de estupro de uma adolescente de 15 anos e do suposto abuso de uma criança num salão de beleza. "Tais experimentos sociais eram baseados no constrangimento de pessoas em situação de vulnerabilidade", afirmou.
Em seu depoimento, Mateus negou que tenha vazado vídeos e disse que foi poucas vezes à Câmara, dando a entender que trabalhava sobretudo para a empresa midiática do vereador e não para o mandato. Ele também confirmou que vários assessores moravam com Gabriel no condomínio Mansões.
Ainda segundo ele, o ex-PM tinha o costume de manter relações sexuais com menores de idade e detalhou situações de assédio moral e sexual contra os funcionários.
"Os depoimentos no Conselho de Ética tem reiterado posturas e atitudes do vereador Gabriel Monteiro por quem conviveu com ele e que revelam assédio, posturas muito questionáveis do ponto de vista da ética e do decoro parlamentar. E o curioso é que os advogados de defesa de Gabriel, todos assessores do seu mandato, conhecem os depoentes, e muitas vezes são testemunhas dos próprios fatos narrados colocados pelos depoentes. Os depoimentos tem sido muito ricos para elucidar tudo e esse é o nosso caminho e buscar a verdade dos fatos ", revelou o relator do caso, Chico Alencar.
De acordo com Alencar, Mateus também revelou a forma como os vídeos do canal de Gabriel Monteiro eram editados, detalhando o que a equipe da empresa do parlamentar considerava inadequado e o que os advogados, que são os mesmos de defesa, sugeriam como impróprio.
"Ele revelou esse making off da produção de vídeos, claramente manipulados, com objetivo muito mais do que qualquer intenção social benemérita, mas de monetização, de ganho pessoal, de visibilidade e de lacração", completou.
Nesta quarta-feira, duas testemunhas de acusação e de defesa seriam ouvidas no Conselho de Ética da Câmara. No entanto, os depoimentos foram cancelados devido "a trâmites burocráticos e reorganização de agenda".
Depoimentos desta terça-feira
Ainda na tarde de ontem, outra ex-assessora de Monteiro Luiza Caroline Bezerra Batista, reiterou as acusações de assédio sexual contra funcionários. O depoimento foi marcado pelo constrangimento da ex-funcionária por parte dos advogados de Monteiro. Bastante alterado, o parlamentar compareceu ao saguão onde a imprensa esperava os depoimentos e acusou os ex-assessores de conluio com o que chamou de "máfia do reboque".
No momento que Monteiro se dirigia à imprensa, ele passou a constranger o repórter da TV Globo, Pedro Figueiredo: "(...) cadê essas mulheres que foram estupradas? Foram até para o 'Fantástico'. Né, senhor Pedro Figueiredo? O senhor entrevistou quatro mulheres. Cadê essas mulheres que foram estupradas? O senhor sabe senhor Pedro Figueiredo? O estupro é um crime bárbaro. É um crime que ninguém pode aceitar. Alguém sabe onde estão essas mulheres? O Conselho de Ética não chamou ninguém?", disse o vereador.
Após a saída da testemunha do depoimento, a ex-assessora disse ter recebido ameaças de morte pelas redes sociais. Ela também lamentou a atuação dos advogados durante o seu testemunho ao Conselho de Ética. "Infelizmente, foi uma coisa horrível", contou Luiza Caroline.
O presidente do conselho, Alexandre Isquierdo (União Brasil), negou na ocasião que a testemunha tivesse sofrido constrangimento durante o depoimento, mas o vereador Wellington Dias, que integra a comissão, confirmou a denúncia de Luísa. "Chamou atenção que, em momento algum, os advogados defenderam ou falaram algo que pudesse nos ajudar a chegar a um juízo. O tempo todo acusaram e constrangeram as testemunhas", revelou Dias.
Conforme Isquierdo, os advogados que defendem o vereador Gabriel Monteiro são os mesmos que trabalham na casa do parlamentar e trabalhavam também com as testemunhas.
"Assim também era com o Vinícius. Eles têm um relacionamento de amizade. Em algum momento, a gente percebeu ela (Luiza) um pouco constrangida com o advogado e chefe de gabinete do Gabriel, mas ela não pediu que eles se retirassem", explicou o presidente do conselho.
A defesa de Gabriel Monteiro afirmou na ocasião que, em momento algum, quis constranger os depoentes e que age dentro da técnica processual, com absoluto respeito às testemunhas, ao Conselho e ao processo.
Casos de assédios moral e sexual
Durante o depoimento, Luiza relatou vários casos de assédio moral e assédio sexual:
"Ela relatou diversos casos de assédio moral no início e foi aumentando para um assédio sexual. Então, ela não trouxe nenhum fato novo em relação ao que tinha sido publicitado. Mas, relacionou como era feito. Ela morava e trabalhava na casa do vereador Gabriel Monteiro e ela dizia que não havia nenhuma pressão para isso. Era voluntário, tendo em vista que ela saía muito tarde e ela não recebia ajuda de transporte, então ela preferia trabalhar e dormir na casa do vereador", disse Isquierdo.
Reforço na segurança
A vereadora Teresa Bergher (Cidadania), presidente da comissão de direitos humanos, lamentou que Vinícius Hayden Witeze, morto neste fim de semana em um acidente de trânsito, não tenha tido tempo de oficializar o pedido de segurança à câmara. “Ele chegou a ligar para o meu gabinete, na sexta-feira, provavelmente antes de viajar. Acho muito importante que as testemunhas tenham reforço na segurança, principalmente as que se dizem ameaçadas”, disse Teresa. O conselho vai pedir cópia do inquérito sobre a morte do Vinícius.
De acordo com Isquierdo, as três testemunhas de acusação que já prestaram depoimentos relataram que têm recebido ameaças pelas redes sociais. “Todas as testemunhas relatam que são ameaças de fãs, ou supostos fãs ou fake de rede social”.
Na última quarta-feira (25), os vereadores ouviram os primeiros depoimentos de acusação que foram Vinícius Hayden Witeze e Heitor Nazaré Neto, dois ex-assessores de Monteiro. Na ocasião, eles confirmaram as acusações contra o vereador. O processo por decoro parlamentar pode levar à cassação do mandato de Monteiro. Ele responde a acusações de estupro, assédio sexual e de forjar vídeos para a internet.
Há duas semanas, a defesa prévia de Monteiro apresentada à Câmara do Rio, foi avaliada por membros do Conselho de Ética da Casa como um "ataque'' ao conselho.
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