Microplásticos foram encontrados na água e na areia das praias cariocasSandro Vox / Agência O Dia

Rio- Nesta quarta-feira (8), o mundo celebra mais um Dia Mundial dos Oceanos, mas o clima de festa cede lugar ao de alerta. A PlastiTox, pesquisa da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), coordenada pela doutora e bióloga marinha Raquel Neves, em parceria com a Universidade Estadual do Rio (Uerj), mostrou que pequenos fragmentos de plástico – conhecidos como microplásticos – foram encontrados desde praias da Baía Guanabara (Flamengo e Glória) e oceânicas (Copacabana), até os organismos marinhos, principalmente naqueles que são consumidos pelas pessoas.
A quantidade levanta uma bandeira vermelha. "O fato de estarmos encontrando microplásticos nas praias cariocas e nos organismos marinhos (principalmente os que são consumidos) nos acende um alerta com relação aos impactos causados pela poluição por microplásticos nesses sistemas e para a biodiversidade marinha", aponta Raquel.
Apesar de terem o tamanho de grãos de areia, os microplásticos (e também os plásticos) são compostos por substâncias contaminantes. A pesquisadora explica que um deles, por exemplo, é o BPA, um tipo de bisfenol, que além de cancerígeno, tem como principal problema a fertilização dos peixes. "Eles são disruptores endócrinos. Ou seja, mimetizam a função de um tipo de hormônio, causando problemas de fertilidade".
Esses pequenos fragmentos são oriundos da degradação dos plásticos "grandes", mas também podem vir em pequenas esferas, em sua origem primária. Os do primeiro tipo podem chegar aos oceanos através do isopor, garrafas PET e roupas de poliéster, que podem soltar fibras de material plástico, por exemplo. O segundo tipo é facilmente encontrado em sabonetes como suas partículas esfoliantes, que quando enxaguadas vão parar no esgoto e consequentemente nos oceanos. "[Os microplásticos] estão mais por aí do que a gente imagina", ressalta Raquel.
Financiada pela FAPERJ, a pesquisa teve início em 2020 e conta com alunos desde a graduação até o doutorado, além de parceria com outros movimentos. A primeira etapa é a avaliação das praias cariocas e da Lagoa Rodrigo de Freitas, através das coleta de mexilhões e ouriços do mar. Essas espécies funcionam como indicadoras de poluição de plástico, já que, por serem organismos filtradores, vão acumulando essa matéria. A coordenadora explica que se os oceanos são afetados, os humanos também serão.
"As praias fornecem vários serviços para nós, chamados de serviços ecossistemas. Esses serviços estão associados ao nosso lazer, ao turismo. Então, o mercado de turismo eles geram enorme renda para milhões de cariocas. Toda a rede hoteleira que contrata pessoas, todas as pessoas que trabalham com serviço de turismo. Pescadores que tiram o sustento da pesca. O peixe que a gente consome também é um serviço. A gente interage muito mais com os ecossistemas marinhos do que a gente imagina, então todos os impactos que a gente causa ao sistema, eles retornam para nós. Eles reduzem a nossa qualidade de vida, a nossa sensação de bem-estar", pondera a bióloga.
Em uma rede social, a Organização das Nações Unidas (ONU) também se manifestou. A Organização lembrou o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14, em que se propõe a "conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável". A ONU ressaltou que o oceano é o maior ecossistema do planeta, regulando o clima e gerando oxigênio. "A degradação dos oceanos põe em risco os meios de vida de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo", destacou.
Mãos à obra
Segundo a Comlurb, no verão, são recolhidos, em média, diariamente 120 toneladas de lixos nas praias. Nos fins de semana, o número mais que dobra: são 341 toneladas, sendo 146 aos sábados e 195 aos domingos. Em parceria com a companhia, o grupo de pesquisa constatou uma redução de 72% na quantidade resíduos sólidos coletados na praia durante a pandemia. Com a flexibilização das restrições, vem ocorrendo um aumento no quantitativo coletados.
Com esse panorama, não dá pra ficar parado. Pensando nisso, o Recicla Latas, associação de reciclagem de latas de alumínio, organizou um evento aberto ao público na orla do Leblon, no quiosque La Carioca Cevicheria. A entidade organizou um mutirão de limpeza na praia, além de rodas de conversa e triagem educativa. Foram recolhidos mais de 1300 itens. A maioria dos resíduos foram guimba de cigarro e isopor. Participaram cerca de 70 pessoas, entre eles alunos e professores da Escola Municipal Azevedo Junior, que fica em Cascadura. A ação contou com parceria do Ministério do Meio Ambiente, Programa Combate ao Lixo no Mar, Recicla Orla, Guardiões da Orla Carioca e Kalango Verde.
"É preciso ter um cuidado dobrado com a destinação correta dos resíduos sólidos gerados nos centros urbanos, pois uma inadequada destinação destes materiais impacta diretamente os ecossistemas que compõem o estado como rios e florestas preservadas. Aqui no Rio de Janeiro, como as áreas verdes se conectam com o oceano a partir dos rios, a má gestão dos resíduos no interior do estado pode causar não somente um impacto local, mas regional, pela chegada dos resíduos aos oceanos", explicou Renato Paquet, seretário-executivo da Recicla Latas.
* Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes