Bolhas apareceram primeiro na testa e depois se espalharam pelo rosto da mulherArquivo Pessoal

Rio - A moradora de Itaguaí que está com suspeita de varíola dos macacos disse acreditar que, caso a doença se confirme, a infecção pode ter ocorrido dentro do município da Região Metropolitana. Informações preliminares davam conta de que a mulher trabalhava no setor de hotelaria de Mangaratiba, na Costa Verde, e teve contato com estrangeiros. Entretanto, ela afirmou que atualmente atende clientes como manicure na região onde vive e não deixou a cidade antes de apresentar os sintomas. 
"Alegaram que eu estava trabalhando na hotelaria, mas eu não estou trabalhando na hotelaria já tem mais de um mês. Eu estava fazendo unha aqui na minha região, no bairro Itimirim, Coroa Grande. Se eu realmente estiver com a doença, eu fui contaminada aqui, mesmo. Não foi em hotel nenhum. Eu não tive contato com nenhum estrangeiro e também não saí para outro país. Eu só fico aqui na minha localidade. Eu saio daqui, vou no mercado, no Centro de Itaguaí, e volto para casa. Eu fico no meu dia a dia em casa, não costumo sair. Se eu contraí, mesmo, foi aqui na minha localidade", declarou a moradora, que preferiu não se identificar.
De acordo com a mulher, os sintomas começaram no último dia 14, quando ela sentiu fortes dores de cabeça. No dia seguinte, além das dores, a mulher também teve febre. Em 16 de junho, bolhas apareceram em sua testa e ela desconfiou que fossem espinhas. Foi somente no dia 17 que ela decidiu procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para verificar o que estava acontecendo, já que as bolhas acabaram se espalhando para todo o rosto. No local, ela foi diagnosticada com catapora e voltou para casa. 
"No dia 19, eu resolvi ir no (Hospital Municipal) São Francisco, pois essas glândulas já estavam no meu corpo. Elas não coçam, estão doendo e elas não param de se multiplicar no corpo. Cada vez elas crescem mais. Cheguei (ao hospital) já falando que eu estava com a suspeita da varíola porque eu já estava com os sintomas todos da doença. Os médicos rapidamente me colocaram numa sala privada, longe da população, porque o São Francisco estava cheio", contou a paciente. 
A manicure relatou ainda que os médicos da unidade a fizeram uma série de perguntas e receitaram medicamentos para as dores. Ela foi liberada e cumpre isolamento domiciliar desde então. Ontem, profissionais de saúde do município estiveram na residência da mulher para coletar mais amostras das lesões e levaram máscaras e luvas para ela. Nesta terça-feira (21), eles devem voltar ao local para  acompanhamento. Uma ambulância também foi disponibilizada para caso ela se sinta mal. Ainda não há previsão para o resultado dos exames. 
Segundo a mulher, as dores que vem sentindo passam momentaneamente após ela tomar os remédios, mas voltam logo depois. Entretanto, para ela, ficar longe da família e dos filhos, que estão com a avó, tem sido a pior parte. Em um vídeo publicado nesta segunda-feira (20), a moradora mostra as bolhas que apareceram em seu corpo e alerta sobre os sintomas. Confira abaixo.
"Para mim têm sido os piores momentos da minha vida. Eu choro e peço a Deus todos os dias para estar me curando disso. Ficar longe da minha família, dos meus filhos, é a pior coisa do mundo. Estou tentando lidar com esse isolamento porque, como eu tive depressão, ficar muito tempo sozinha não é muito confortável. Estou tentando manter a minha calma o máximo possível para não piorar o meu estado e esperando que tudo passe o mais rápido possível". 

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, até o momento, com o caso suspeito de Itaguaí, já são cinco investigados no Rio de Janeiro, sendo outros dois deles na capital, em Nova Iguaçu e em Duque de Caxias. Entretanto, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS) informou, nesta terça, que na cidade, há três casos suspeitos de varíola dos macacos sendo investigados. Inicialmente, o secretário Rodrigo Prado havia dito que eram quatro, mas a pasta explicou que são, na verdade, três, porque um outro ainda está sendo investigado, já que pelos critérios de análise, ainda não se enquadra como "suspeito."
Além dos investigados, segundo a SES, dois casos da doença foram confirmados e outros dez descartados. Em maio, o Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (CIEVS) alertou às Secretarias Municipais sobre a detecção e o monitoramento dos possíveis casos da doença, para garantir a notificação e acompanhamento. 
Segundo a presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, o cenário atual é de preocupação, mas não de pânico. A infectologista explica que a doença pode se transmitir para qualquer pessoa através de contato próximo, pessoal e muitas vezes pele a pele. Para prevenir a infecção é necessário isolamento de pessoas que estejam com suspeita e a higiene frequente das mãos. 
"Existe vacina, mas a disponibilidade no mundo é muito pequena. É uma vacina de vírus vivo atenuado que foi aprovada pela FDA (Food and Drug Administration) nos EUA para a prevenção da varíola dos macacos. Indicada para certas pessoas em risco de exposição a ortopoxvírus, como profissionais de saúde. Uma mensagem importante é que não se deve matar os macacos. Eles são vítimas e nos servem como sentinela. A disseminação da doença que está ocorrendo agora pelo mundo está relacionada com contatos humanos. Todos os mamíferos são suscetíveis, incluindo os roedores", esclareceu a especialista.