Felipe Coelho levou os pais, Osélia e Geraldo Coelho, pra passear no RioArquivo Pessoal

Rio - "Eles não mereciam. Estou sofrendo muito, estamos todos. Eles eram as pessoas mais doces que você conheceria. Amavam seus filhos e netos mais que tudo. Estamos todos sem chão". Assim o professor de inglês e influenciador digital Felipe da Silva Coelho, de 39 anos, cujos pais foram assassinados, resumiu a dor da família. Na madrugada do último sábado (25), Oselia Coelho, 72, e Geraldo Coelho, 73, foram mortos a facadas pelo ex-namorado de Felipe, o militar da Marinha Cristiano Lacerda, 49, em um condomínio de luxo no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Felipe e Cristiano estavam se separando. 
O corpo do casal será enterrado nesta terça-feira (28), em Fortaleza (CE). Felipe também irá para a capital cearense para decidir o que irá fazer da vida após a tragédia. O influenciador, que é formado em Administração, morou por sete anos em Nova York, nos Estados Unidos, onde aprendeu a falar inglês. Ele dava aulas particulares, além de ter um canal nas redes sociais onde dá dicas sobre o idioma.
Com a morte dos pais, Felipe não tem condições de retornar às aulas no momento. "Estava em negociações para lançar meu próprio curso online. Eu tenho uma agenda cheia de alunos, mas não tenho condições", acrescentou.
Felipe também ressaltou que Oselia e Geraldo eram muito amados por todos. Os idosos eram casados há 46 anos e deixaram três filhos e três netos. "Minha mãe era brincalhona, alegrava o ambiente onde passava e adorava conversar com as pessoas. Ela adorava ver gente. Já meu pai era super tranquilo, um doce de pessoa, super prestativo, humilde, estava sempre buscando ajudar. Eles eram muito amados por todos, seus irmãos e irmãs. E um casal que se amava e se completava muito", disse.
Oselia e Geraldo estavam no Rio a passeio e retornariam à capital cearense na terça-feira (28). Segundo Felipe, os pais estavam muito felizes durante o tempo em que estiveram na cidade. Os dois moraram já haviam morado anteriormente no Rio, mas retornaram ao Ceará nos anos 70. Esta foi a primeira vez em que eles voltaram à capital carioca desde quando foram embora.
Sobre o autor do assassinato, com quem conviveu por dois anos, Felipe não quis se pronunciar. Somente falou que deseja que Cristiano pague pelo crime que cometeu. "Nada vai trazer meus pais de volta. O abraço deles nunca mais vou ter. Mas que ele pague pelo que fez e pelas famílias que ele destruiu."
Na noite do crime, Felipe havia saído para curtir a sexta-feira com amigos. Inconformado, Cristiano teria atacado os pais do ex-namorado a facadas. Em seguida, ele teria ligado para Felipe dizendo que os idosos estariam passando mal. Ao chegar no apartamento, Felipe encontrou Oselia e Geraldo mortos, além de Cristiano desacordado.
"Quando vi, entrei em desespero. Gritei muito e fui à varanda pedir para os vizinhos chamarem a polícia enquanto eu chamava também", falou Felipe, que fez uma postagem nas redes sociais homenageando os pais. Várias pessoas comentaram e prestaram solidariedade ao rapaz.
"Meus sentimentos, Felipe, que Deus conforte seu coração", dizia um dos comentários. Ele complementou. "Estou sendo inundado de mensagens de todos: amigos, familiares, alunos e seguidores".
Autor do crime era militar da Marinha
Cristiano Lacerda era militar da Marinha e estava em processo de separação de Felipe desde o último Carnaval. No entanto, os dois ainda moravam no mesmo apartamento. O crime teria sido motivado por uma crise de ciúmes.
Cristiano estava internado no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. Neste domingo (26), a Secretaria Municipal de Saúde informou que ele foi transferido para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio. O caso segue sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital. Procuradas novamente neste domingo, a Marinha do Brasil e a Polícia Civil não retornaram às mensagens.
Especialista diz que Cristiano pode responder pela Lei Maria da Penha
O advogado criminalista e professor de Direito Penal Carlos Fernando Maggiolo disse o DIA que Cristiano Lacerda poderá ser enquadrado na Lei Maria da Penha pelo homicídio cometido contra sua sogra. "Seria discutível a incidência da Lei Maria da Penha sobre o caso em razão do ex-companheiro do assassino ser homem, discussão que vai água abaixo pelo fato de uma das vítimas ser a sua sogra. A pena nesse caso pode ser expressiva, na proporção da crueldade do crime", disse.
 
Para o advogado, quatro fatores chamam a atenção e podem agravar uma futura pena de Cristiano: o motivo fútil, meio cruel, o fato de a vítima não poder se defender e a violência doméstica e familiar. 
 
Reportagem do estagiário Wellington Melo, sob supervisão de Raphael Perucci.