PMs atuam na comunidade Nova Holanda com o objetivo de reprimir o roubo de veículos e carga, retirar barricadas, além de levantamento de dados de inteligênciaReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Três homens, ainda não identificados, foram baleados na manhã desta terça-feira, na comunidade Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio e dois deles não resistiram aos ferimentos. A Polícia Militar realizou uma operação no local e disse que foi informada que duas pessoas feridas por disparos deram entrada no Hospital Federal de Bonsucesso, mas não resistiram. Um outro homem foi socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Maré. Ainda não há informações sobre o estado de saúde dele.
Segundo a corporação, as circunstâncias em que eles foram atingidos estão sendo apuradas. A ação foi realizada pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope), subsecretaria de Inteligência e 22º BPM (Maré) para reprimir o roubo de veículos e carga, retirar barricadas e apurar dados de inteligência.
Os policiais encontraram o local que servia como uma base onde criminosos realizavam contatos telefônicos com o intuito de captar dados bancários de vítimas. Havia, inclusive, papéis com instruções com roteiros de abordagens para as ligações.
Foram apreendidos 70 cédulas de identidade falsas, sete máquinas para transações financeiras com cartões, duas pastas com diversas informações de cadastros pessoais, um caderno com fotografias para identidades (separadas por etnia), dois notebooks, três headphones, uma impressora e seis chips para telefones celulares.

"As quadrilhas de estelionato, de clonagem de veículos e também de montagem e construção de máquinas caça-níqueis, optam por montar suas bases em comunidades que possuem uma rede de proteção maior contra operações policias. Esse é o caso da Maré. Essa central de estelionato atinge todos nós enquanto sociedade, principalmente idosos que são as vítimas preferidas dessas quadrilhas em suas ações de clonagem e adulteração bancária entre outros crimes dessa natureza. Essa ação só foi possível graças a ação policial dentro do terreno", destacou o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz.
Durante as ações de varredura, foram apreendidos mais de 50 kg de maconha, farto material para embalo de drogas, duas pistolas, um petardo explosivo, diversos carregadores de pistolas e fuzis, uma luneta para arma longa, um cinto de guarnição, capas de coletes balísticos, um balança de precisão e cadernos com anotações do tráfico. Também foram recuperados 13 carros e cinco motocicletas roubados.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que 35 unidades escolares fecharam as portas Complexo da Maré por causa da ação dos policiais. Os alunos fizeram as atividades de maneira remota. A medida de segurança segue o protocolo previsto e tem o objetivo de não expor funcionários e estudantes aos riscos.
Outras operações
Redes da Maré emite nota sobre ação

A Redes da Maré, organização não-governamental criada por moradores e ex-moradores da maré, divulgou uma nota sobre a operação policial realizada nesta terça-feira. A ONG destacou que, justamente no dia em que acontece a audiência pública para tratar do Plano de Redução da Letalidade Policial em Operações nas Favelas do estado, sete favelas da cidade foram alvos de ações.
Segundo a organização, em menos de cinco horas, a ação resultou em duas mortes e uma pessoa baleada, além de diversas violações como torturas, agressões e invasões de domicílios.

Em nota, a Redes da Maré afirmou que a violência armada "é a expressão máxima de nossa sociedade desigual, já que está apoiada numa visão sobre as favelas e seus moradores que os define como 'perigosos' e que esta forma de pensamento colabora para justificar as ações truculentas dos agentes do Estado".

"Esse quadro de violência e desrespeito aos direitos básicos, como o direito à vida e à liberdade, afeta diretamente os moradores da Maré e das periferias brasileiras, cotidianamente", afirmou a Redes da Maré.
Para a organização, a política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro legitima um discurso de marginalização e consequentes violações e violências com um grupo muito específico: pobres, negros e moradores de favela. Além disso, a ausência de ambulâncias acompanhando as operações para necessidade de socorrer feridos foi um dos pontos determinantes para a morte dessas pessoas.

"Como forma de reduzir a letalidade policial, o conjunto da sociedade, ouvindo as diferentes vozes e a experiência dos cidadãos diretamente envolvidos, elaborou um plano como uma alternativa para a superação de um paradigma histórico de ações policiais violentas nas favelas e do distanciamento entre seus moradores e os mecanismos de acesso à justiça", diz o documento.

Além disso, a Redes da Maré destacou a importância do fortalecimento das políticas públicas para a garantia de direitos coletivos e individuais dos moradores de favela, como uma forma de ampliar o espaço democrático e de participação social.