Arthur Poerner deixa esposa, filha e enteadaReprodução/Redes Sociais
Morre no Rio jornalista e escritor Arthur Poerner aos 82 anos
Publicações do também compositor se tornaram referência para os movimentos estudantis e de resistência contra a Ditadura Militar
Rio - O jornalista e escritor Arthur José Poerner morreu, na noite desta quinta-feira (30), aos 82 anos, no Rio de Janeiro. A família não divulgou a causa da morte. Parentes e amigos se despediram na tarde desta sexta-feira (1º), durante o velório e enterro do também compositor, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul da cidade. Ele deixa esposa, uma filha e enteada.
O livro "O Poder Jovem", publicado pelo escritor em julho de 1968, se tornou uma referência para os movimentos estudantis. Entretanto, com menos de um ano de circulação, a obra foi censurada pela Ditadura Militar e entrou para a Relação de Livros Nacionais e Estrangeiros Proibidos por Portaria do Senhor Ministro da Justiça, documento encaminhado às escolas e bibliotecas públicas, por conter conteúdo "subversivo ou pornográfico".
Arthur trabalhou em jornais como 'Correio da Manhã', 'Pasquim' e 'Jornal do Brasil'. A crítica à ditadura em suas publicações fez com que ele fosse o mais jovem brasileiro cassado pelo regime e perdesse os direitos políticos por uma década. Após um período de mais 100 dias na prisão, em 1970, Poerner foi exilado na Alemanha, onde viveu por 14 anos. Mesmo longe do Brasil, se engajou na campanha pela anistia do país. Ele foi correspondente da 'Tribuna da Imprensa', do 'Pasquim' e 'IstoÉ'.
Ainda vivendo na Europa, ele publicou em "Memórias do Exílio", em 1976, e "Nas Profundas do Inferno", em 1978. O livro "Poder Jovem" foi relançado de forma clandestina por estudantes da Pontifícia Universidade Católia de São Paulo (PUC-SP), em 1979. Quando voltou ao Brasil, em 1984, trabalhou na 'TV Globo', no 'Estadão' e no 'Jornal do Brasil'.
Bacharel em Direito e pós-graduado em Comunicação, Poerner foi presidente do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, entre 1987 e 1990, e do Museu da Imagem e do Som (MIS), de 1991 a 1994. O escritor também foi professor de jornalismo na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Flamenguista e portelense, Arthur escreveu, em parceria com Paulinho da Viola e Sérgio Cabral, um livro em homenagem ao sambista, cantor e compositor Antônio Candeia Filho, o mestre Candeia.
Ele também foi um dos criadores do musical "Cartola Convida", ao lado de Jorge Coutinho, Haroldo de Oliveira e Leléu da Mangueira. Com João do Vale, Baden Powell e Biafra, compôs canções gravadas por Cristina Buarque, Eliana Pitman e Vanja Orico. Amigo da cantora Elza Soares, atendeu a um pedido dela para ser uma espécie de tutor do ex-jogador Garrincha.
Nas redes sociais, amigos e admiradores prestaram homenagens. "Se tivéssemos o seu talento, escreveriamos livros e mais livros contando histórias incríveis de cada feliz encontro com ele. A mim, sua enteada, coube o prazer da inspiração que me levou ao jornalismo. Poerner amou e se doou para todos nós e seguirá o fazendo!", escreveu a enteada do escritor.
"Poerner merece todas as homenagens e o nosso profundo reconhecimento pela sua defesa da Democracia, durante aqueles tempos sombrios de 64. Todos nós, atuais e ex-dirigentes da UNE, somos testemunhas do seu compromisso com a luta dos estudantes em defesa da educação pública e do Brasil", comentou outra pessoa.
"O Leme, o Leblon, Ipanema, a Zona Sul inteira, os subúrbios e a Zona Norte do Rio de Janeiro não serão mais os mesmos sem o nosso amigo Arthur Poerner", lamentou outra. "Uma pessoa elegante, afetuosa, de extremo respeito ao outro, um exemplo de resistência que nada abalou", descreveu mais um.
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