Viviane Souza (primeira) acha que VLT seria solução menos poluente para o transporte públicoVanessa Ataliba / Agência O DIA

Rio - Assim que o BRT foi criado, a professora Vivian Zettermar, de 44 anos, passou a ser usuária frequente do serviço. Moradora de Pedra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, esse tipo de transporte virou o seu único meio de chegar ao trabalho, na Barra da Tijuca, também Zona Oeste. Com a precariedade e a falta de carros para suprir todos os trabalhadores que pegam o mesmo veículo, o trajeto para o trabalho virou um sufoco. Emilena Moraes, de 34 anos, mora em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, e trabalha em um restaurante japonês na Barra da Tijuca. Ela também precisa pegar o BRT todos os dias. Vivian e Emilena acreditam que a "VLTzação", projeto anunciado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD-RJ) na última quinta-feira (8), não é o meio mais prático para resolver os problemas de mobilidade dos trabalhadores. Elas pedem por mais linhas de ônibus na região do BRT para que, assim, não fiquem dependentes apenas desse tipo de transporte.

"Em primeiro lugar, tinha que ter outras linhas para ter essa opção de VLT também, caso contrário, vai virar a mesma coisa. Um transporte cheio de gente, precário e com vários problemas", disse Vivian. "Outra coisa é que o VLT é muito devagar. Aqui não dá para ser na mesma velocidade. O ideal mesmo é a gente ter outras opções, ou um ônibus bem cuidado. O BRT está caindo aos pedaços", completou.

Vivian relembra que quando o BRT foi inaugurado, os carros eram bem equipados e tinham ar condicionado, além de bem cuidados. "Hoje não tem mais nada, nem paradas direito. "A gente fica preso só nessa opção de BRT. Qualquer coisa que aconteça com esse ônibus estamos ferrados, não temos outra opção", finalizou Vivian.
Emilena, também usuária do BRT desde a sua inauguração, hoje sofre com a falta de manutenção do transporte. "Sendo bem sincera, quando o BRT chegou eram mil maravilhas. Agora, virou um pesadelo. Está tudo quebrado, parece que não dá vazão. Vive cheio", declarou. "Eu nunca peguei o VLT e não sei como funciona, mas se eles quiserem implantar aqui, vai precisar ser mais veloz", completou Emilena. "Depois que eles fizeram o BRT, tiraram nossas opções de outros ônibus e somos dependentes quase total disso aqui. Dia ou outro quebra, tem greve, falta de manutenção e como o trabalhador fica nessa história?", indagou. "Para dar vazão, vai precisar ter muito mais trem de VLT para que a gente não fique sem transporte", finalizou.

Projeto de VLT

A "VLTzação", nome de batismo do projeto, tem como objetivo implementar uma malha de veículos leves sobre trilhos no lugar dos ônibus do BRT e em várias partes da cidade em um prazo de 15 anos. O plano inicial prevê o aproveitamento da infraestrutura do corredor de ônibus e restrição quase total de importantes vias para carros.
Para o analista de sistemas, Luiz Teixeira, de 58 anos, a ideia é excelente se for bem executada. Ele mora no Flamengo, Zona Sul do Rio, e usa o VLT para ir ao trabalho, no Centro. "Eu uso bastante o VLT aqui no Centro. Meus pais usavam bonde antigamente e sempre gostaram", disse. "Além de ser um transporte limpo, o VLT é confortável, tem ar condicionado e segurança. Sou usuário desse tipo de transporte em outros lugares do mundo", completou Luiz. "Acho fantástico esse tipo de transporte. Quando se implantou o BRT no Rio, deveriam ter pensado de primeira no VLT. Também acho que deveriam fazer que nem na Europa, vias compartilhadas onde passa carro e bondes também", explicou. Luiz também ressaltou que para esse projeto, seria necessário ter um estudo aprofundado em relação ao trânsito na Zona Sul. "Imagina chegar na Voluntários da Pátria e começar a fechar espaços de carro? Vai causar problema no trânsito do Rio que já é complicado", finalizou.
Viviane Souza, de 46 anos, analista de sistema, acha a ideia boa, principalmente porque não polui tanto o meio ambiente. "Além de ser um transporte limpo, é mais rápido. Aqui no Centro ele funciona muito bem, mas prende um pouco o trânsito", disse. "Para as pessoas que utilizam direto, eu acho rápido, de fácil acesso e melhor do que ônibus, sem dúvida nenhuma. Se for de uma forma bem estudada, em relação ao trânsito da redondeza ali, acho que vale a pena sim", concluiu. Viviane mora. no Maracanã, Zona Norte. do Rio, e pega o VLT sempre que vai para o trabalho presencial, localizado na Zona Portuária, no Centro. "Antes de substituir o BRT pelo VLT muita coisa precisa ser vista porque o BRT não funcionou", finalizou. 

Durante a implantação, o Rio de Janeiro passaria a ter 251 km de malha de VLT, a maior das Américas, e estimativa de 500 mil usuários por dia. Com previsão de conclusão em até 15 anos, Paes defendeu que mobilidade pública precisa ser uma política de Estado, e não de governo. "Não adianta eu estar aqui e amanhã chegar outro e mudar tudo. É preciso pensar no que é melhor para o povo carioca", disse, durante coletiva no Palácio da Cidade.
De acordo com o prefeito Eduardo Paes, toda estrutura já existente do BRT será utilizada na implementação do VLT, o que, tratando-se de Transcarioca e Transoeste, representaria uma economia de R$ 7 bilhões. Os dois projetos, também somados, têm investimento estimado em, aproximadamente, R$ 15 bilhões. A previsão, pelo cronograma, é de início dos estudos no primeiro semestre do ano que vem. Já a licitação e início da implantação ficariam para o segundo semestre de 2023. No entanto, o processo não será rápido: já estão encomendados novos ônibus para o BRT, que serão, posteriormente, substituídos pelos trens.