Rio - Em um mundo tão competitivo e exigente, todo mecanismo para ajudar as gerações prestes a escolher uma carreira e entrar no mercado de trabalho são bem-vindas. Pode ser uma orientação na forma de fazer o currículo e dicas sobre capacitação, como acontece no programa de mentoria de Furnas, que se prepara para abrir sua terceira turma, ou a reflexão através do olhar, como acontece no projeto Imagens em Movimento, que leva para os estudantes uma forma de educação por meio do cinema.
Régua e compasso Em 28 de junho, 30 jovens atletas alcançaram um outro tipo de pódio. Elas se formaram na segunda turma de Mentoria Voluntária de Furnas, através do Programa de Patrocínio Socioesportivo das Empresas Eletrobras. Com três sessões online e dois workshops, as jovens receberam orientações que incluíam desde a forma de elaborar um bom currículo até como se preparar para uma entrevista de emprego.
Para quem tem 17, 18 anos, o ganho vai além de se dar bem em uma seleção para o mercado. Passa por um sentimento de autonomia: é dar régua e compasso para saber se movimentar no mundo adulto. Além disso, tem uma questão de autoestima. Na outra ponta desta história, está a satisfação de quem sabe que pode ajudar a mudar esses futuros.
"Fui mentor de uma menina, e acho importante dar perspectiva a quem não tem. Já fui presidente de uma ONG, professor. Sou super fã desse programa, considero um dos principais entre os que nós temos. O último encontro foi muito emocionante: a gente vê que está ajudando a mudar a história de vida de alguém', diz o diretor de Gestão Corporativa de Furnas, Pedro Brito. Ele mentorou uma jovem da primeira turma, que se formou em março.
Uma das mentoradas da primeira turma foi Juliane Cunha Rosa, jovem aprendiz em Furnas durante um ano. "Tive uma ótima conexão com a minha mentora. Amei o tempo de aprendizado que tivemos juntas e a paciência que ela teve comigo. Ela me direcionou para a opção de graduação, me ajudou a preparar um currículo, me ensinou como me comportar numa entrevista de emprego e me conectou a pessoas incríveis, que me passaram suas experiências de vida. Hoje eu trabalho em uma das maiores empresas do ramo farmacêutico", conta Juliane.
Sua mentora foi Katya Pereira, colaboradora da Superintendência de Gestão Ambiental de Furnas, que destaca as qualidades que a mentorada já possuía.
"A Juliane é uma menina proativa. Quando começou a mentoria, ela já tinha feito vários cursos, apesar de ter poucos recursos financeiros. Ela já aproveitava oportunidades de estudar de graça. Para a minha mentorada da turma seguinte, uma atleta de futsal, eu passei essa orientação de como buscar formas de se capacitar, por exemplo, em ingês, informática, mesmo sem ter dinheiro", relembra.
Os mentores ensinam ainda como os jovens podem procurar vagas em estágios; como se preparar para entrevistas de emprego, estudando o perfil da empresa que abriu determinada vaga; avisam de oportunidades que chegam ao seu conhecimento; e muitas vezes colocam o mentorado em contato com pessoas de profissões diferentes, para ajudar o jovem a se decidir por uma carreira.
A primeira turma de mentoria foi tão bem-sucedida que quando a empresa anunciou que criaria uma segunda turma, houve um número maior de mentores voluntários à disposição do que jovens para mentorar, segundo Katya.
Ela ainda cita como essa orientação pode mudar a percepção que o pupilo tem de si mesmo. "Minha segunda mentorada achava que não tinha nada para montar seu currículo, pois não havia feito cursos. Mas as grandes vitórias que ela teve no esporte, troféns, medalhas, campeonatos, ela não via, até então, como valores seus para compor o currículo."
Pedro Brito resume o trabalho dos voluntários no programa. "O mentor cria um processo para ajudar a revelar o talentos. É bom ter um olhar de quem percorreu um longo caminho e errou, o mentorado vê que o outro passou pelas mesmas vulnerabilidades."
ESG Furnas é uma empresa com tradição em programas voltados a causas sociais e de fortalecimento cultural, o que só cresceu com a tendência mundial das empresas de adotarem a agenda ESG, que trata de três pilares: meio ambiente, questões sociais e governança. A companhia se pauta nessas ações e tem até um Comitê Permanente para Questões de Gênero, Raça e Diversidade.
"Antes, essas pautas eram vistas como protocolares, mas as companhias começaram a encará-las para além do social. Uma empresa só prospera quando o grupo à sua volta também prospera. Viver numa sociedade penalizada pelos seus negócios não faz sentido. Essa pauta ESG é complexa, mas Furnas entende que tem responsabilidades cidadãs, permeadas pela ética", finaliza Brito.
Quadro a quadro O Programa Imagens em Movimento (PIM) existe há 11 anos, sempre atuando em escolas municipais e estaduais. No Rio de Janeiro, já foram beneficiados estudantes nos municípios de Caxias, Belford Roxo, Niterói, Macaé e São João da Barra, além da capital. No país, cerca de dois mil estudantes já participaram das oficinas de cinema. À frente, está Ana Dillon, fundadora do programa.
"As oficinas estimulam o processo criativo e propiciam a aquisição de ferramentas para transformar uma ideia em algo concreto, coletivamente. São trabalhadas qualidades fundamentais para diversas áreas profissionais e para a própria vida, tais como a capacidade de expressão pessoal, a aptidão para o trabalho em equipe, o planejamento de etapas a serem realizadas para alcançar um determinado objetivo e o rigor com a qualidade do resultado", esmiúça.
"Todas estas etapas são necessárias para alcançarmos o objetivo de traduzir as experiências sensíveis e as reflexões pessoais dos alunos em um filme capaz de sensibilizar seus espectadores", complementa Ana Dillon, que é mestre em Didática da Imagem em Movimento, pela Universidade Paris 3 – Sorbonne Nouvelle.
A iniciativa integra a rede internacional “Cinema, cem anos de juventude”, coordenada pela Cinemateca Francesa, da qual participam 16 países. No fim de maio, ela e alunos do programa estiveram em Paris, no encontro internacional 'À nous le Cinéma! Une experience internationale de cinéma à l'école'.
"O 'À Nous le Cinéma!' é um evento anual, no qual os participantes da rede mundial "Cinema, cem anos de juventude" se reúnem para exibir e debater as produções audiovisuais de estudantes com idades entre 6 e 18 anos, realizadas em oficinas de cinema. Cada filme é seguido de debate entre a comitiva de jovens realizadores presentes e a plateia, que inclui educadores, cineastas e alunos. Os filmes são frutos de desafios comuns, pensados a partir da metodologia pedagógica que desenvolvemos colaborativamente a cada ano, no contexto desta rede", explica.
No trabalho do dia a dia, as escolas são instituições parceiras do projeto, que apoiam oferecendo o espaço físico para as atividades no contraturno escolar e eventualmente mediando o contato com os responsáveis, quando é necessário.
A proposta é educar o olhar do jovem para a vida, utilizando o cinema como um instrumento de transformação. Cada turma realiza um filme.
"A cada ano, temos uma temática referente à linguagem cinematográfica que serve como fio condutor para o estudo do cinema, mas os filmes têm tema livre. A única prerrogativa é que eles se relacionem, mesmo que de forma fantasiosa, com experiências vividas pelos jovens realizadores", revela Ana.
Repertório cultural Ana vê o PIM como um contraponto a algumas coisas que os jovens têm no seu dia a dia, como notícias diárias de violência. Assim como ela, a professora Vera Campos, da Escola Municipal Roraima, de Cordovil, na Zona Norte do Rio, parceira do PIM há sete anos, também vê nessa oportunidade uma forma de ampliar o repertório dessa juventade além de confrontos e problemas sociais.
"O cotidiano da violência urbana os expõe à TV aberta e às redes sociais, sem mediações. Ao oferecer a oficina, presenciamos a conquista da ampliação de repertório cultural, do vocabulário, da atenção dirigida para a imagem desvelando a linguagem visual, sua gramática e composição."
Vera também destaca o reflexo nisso para o futuro profissional. Afinal, os jovens são mobilizados a pesquisar e a viver experiências nas diferentes funções no trabalho de produção audiovisual, construindo laços de responsabilidade com a realização dos projetos.
"Além do conhecimento de outras profissões relacionadas ao cinema e do domínio do programa de edição, pude apreciar a evolução de produções audiovisuais de qualidade, a aprendizagem de habilidades de análise, da elaboração de argumentos e a defesa das próprias ideias, sem violência. Testemunhei também o aprendizado do trabalho coletivo, de saber ouvir, contra argumentar, planejar ações, distribuir tarefas e realizá-las. Dois alunos que participaram do projeto estão atualmente concorrendo a uma bolsa de estudos no Programa Ismart [Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos]", comenta Vera Campos.
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