Como o reencontro especial no distrito de Imbé. Foi ali que ele esteve com a Cecília, auxiliar de serviços gerais de uma escola municipal, "uma das mais belas pessoas" que já conheceuArte: Kiko

A prosa aconteceu por Whatsapp. Do outro lado da tela estava o Kiko, o poeta que transforma as minhas palavras em imagens neste espaço aos domingos. Após os cumprimentos tradicionais de boa tarde, ele me contou que estava chegando da roça, para onde havia viajado com o pai, seu Manoel. Eu logo quis confirmar o nome da sua cidade. “Sou lá de Santa Maria Madalena”. E este “lá” no meio da frase deu uma ideia de uma distância das boas. Corri para o Google, que traz coordenadas de latitude e longitude do local. Territorialmente, eu me situei ao saber que é perto de Campos. Mas emocionalmente a referência passou a ser o coração do Kiko.
A sua sensibilidade, sempre aflorada visualmente, ganhou as palavras naquela nossa conversa. Ele me dizia o quanto é apegado a momentos, mas, pela dinâmica da vida, nenhum minuto vivenciado é igual ao outro. E prosseguiu na poesia de ser quem ele é: “Tem hora que dá vontade de recortar um bom momento que passou e colá-lo, de verdade, dentro de um atual”.
Aquela ideia simples e genial me encantou. Pela sua concepção, teríamos o superpoder de produzir reprises na nossa trajetória, deslocando momentos através do tempo. Assim, poderíamos ir lá atrás nas melhores lembranças e revivê-las agora, no presente.
Se isso fosse possível, tenho certeza de que ele repetiria na cidade grande muitos instantes da sua Santa Maria Madalena. Como o reencontro especial no distrito de Imbé. Foi ali que ele esteve com a Cecília, auxiliar de serviços gerais de uma escola municipal, “uma das mais belas pessoas” que já conheceu. Apesar de não terem parentesco, se consideram irmãos e, numa manhã, ele se propôs a ser o chofer dela. Há gentileza maior do que viajar com alguém pela vida?
Visualizei essa cena, adornada por laços do coração. E fiquei pensando em quais momentos copiaria no meu presente. Com certeza, escolheria os preciosos minutos em que carreguei a tocha olímpica em Niterói, em 2016, por conta da minha longa trajetória no jornalismo esportivo. Aquelas imagens passaram a ser o símbolo do quanto a minha família me empurra para frente. Até hoje, guardo o vídeo gravado pelo meu amigo Celso, em que eu aparecia correndo com o símbolo dos Jogos, e era possível ouvir os gritos da minha mãe: ‘Vai, Carla!’
Pela dinâmica da vida, como bem definiu Kiko, um momento jamais será igual ao outro. Os seus instantes mágicos em Santa Maria Madalena e os meus minutos preciosos ao lado da família são únicos. Precisamos, então, dar a eles o seu real valor no instante em que acontecem, também chamado de presente. E depois, se fecharmos os olhos, poderemos transportar o já vivido para os nossos pensamentos, com a certeza de que cada segundo valeu a pena. Esse é o nosso superpoder.