Rio - O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, preso por manter paciente em cárcere privado nesta segunda-feira (18), responde a mais de 20 processos criminais por erro médico e já havia ido para prisão em 2010. Ele foi alvo de uma operação da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública (DRCCSP) que investigava o uso de substâncias botulínicas, conhecida como Botox, não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Os outros processos foram movidos por pacientes e tem como motivação a queixa de erro médico. O número de ações em que Bolívar é réu ultrapassa as 20 ações e inclui casos de lesão corporal e pedidos de indenização por dano moral e material. As primeiras ações, dão conta de casos ocorridos em 2002 e boa parte delas também envolve a Clínica Santa Branca, em Duque de Caxias, onde a paciente vinha sendo mantida em cárcere.
De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Duque de Caxias, responsável pela prisão de Bolívar nesta segunda-feira (18), a vítima relata que vinha sendo impedida de se transferir da unidade de saúde. O hospital particular, ao qual o cirurgião tem participação, também havia se negado a repassar os dados da ficha médica e do prontuário.
"Ele foi preso temporariamente porque nós recebemos a denúncia de uma familiar. Ela dizia que a vítima havia passado por algumas cirurgias, que estava internada com risco de vida e que, mesmo assim, ela estava tendo negativa da transferência para outro hospital. Requisitamos prontuário, ficha médica e ao longo da semana passada ele não foi nos mandado. Reiteramos o pedido, explicamos a situação, e ainda assim não nos foi enviado", explicou a delegada.
Segundo Fernandes, por conta da dificuldade de obter o prontuário e diante da gravidade da situação relatada pela própria paciente em pedido de socorro por telefone, os policiais decidiram ir até o local. Ao chegar no hospital, os agentes perceberam a condição da vítima e decidiram pedir a prisão preventiva do médico, além de requisitar a transferência na Justiça da paciente.
"Ela disse: 'Pelo amor de Deus, doutor. Me tira daqui'. Isso para gente causou muita estranheza e a gente ficou muito impactado com a gravidade do caso. Como ela já estava com lesões muito grandes. Lesões que para a gente, que não é médico, já apavorava. Nos deixava muito preocupado com a situação dela. Por conta da dificuldade dela de sair do hospital, de ter a transferência, representamos no Plantão Judiciário pela transferência dela, busca e apreensão de celulares, prisão do médico e suspensão do CRM dele", detalhou.
A titular da DEAM de Caxias afirmou, ainda, que a condição da paciente ainda deve ser avaliada por outros profissionais e que toda sua ficha deve passar por perícia. "Não sabíamos e não sabemos até agora a real condição dela", contou. A paciente segue internada no Hospital Santa Branca e aguarda por transferência para outra unidade.
O cirurgião plástico equatoriano foi preso preventivamente suspeito de lesão corporal grave, associação criminosa e de manter uma paciente em cárcere privado.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou que abriu sindicância para apurar os fatos. "Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional".
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