O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso nesta segunda-feira (18) sob acusação de manter uma paciente em cárcere privadoReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio- Mais uma mulher prestou depoimento contra o cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, preso ontem, acusado de manter uma paciente em cárcere privado no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A vítima, Fernanda Almeida, 24 anos, compareceu na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Caxias, nesta terça-feira (19), e alega ter ficado com os seios deformados após uma cirurgia de prótese de mama com o cirurgião.

De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias, responsável pelo caso, após a prisão do médico foram realizados outros registros de ocorrência contra ele, o que indica possíveis novas vítimas. A vendedora Fernanda Almeida informou que reconheceu o médico após a repercussão do caso.

Ela explicou que sua cirurgia foi realizada por Bolivar Guerrero e uma outra mulher que também se dizia cirurgiã, que ainda não teve o nome divulgado, mas que toda sua documentação foi assinada e carimbada apenas pelo equatoriano.

"Eu fiz minha cirurgia de prótese na mama dia 14 de janeiro de 2021, mas ficou horrorosa, no dia 2 de agosto do mesmo ano eu fiz o reparo. Na primeira cirurgia eu fui tratada igual princesa, ele [Bolivar Guerrero] foi na sala falar comigo, a outra médica também, eu paguei, tudo direitinho, sendo que meu peito ficou imperfeito, eu questionei e na segunda cirurgia fui tratada igual um lixo pela equipe médica completa, a anestesista falou que eu tava ali de novo porque tava gostando, porque eu não cuidei do meu peito direito e por isso ele tinha cedido a prótese", contou.

Ela disse ainda que percebeu os seios deformados logo na saída do centro cirúrgico. "Quando eu saí do centro cirúrgico, meu peito saiu deformado, com a cicatriz da minha auréola toda torta, tipo quadrada, tava um peito meu em cima e outro embaixo, eu questionei a doutora e ela disse que meu peito não tinha saído de lá daquele jeito, mas eu tinha fotos, só que depois de um tempo descobri que ela não era médica, porque ela não teve postura de médica", lamentou.

Apesar da participação dessa outra médica, a vítima reforçou que Bolivar participou de todos os procedimentos. "Eu fiz tudo com ele e ela juntinhos, não cheguei a falar com ele pra fazer a reclamação porque estava tratando tudo com ela, mas quando procurei fazer a cirurgia foi com eles juntos, está tudo carimbado no nome dele", explicou.

Fernanda Almeida informou que pagou R$ 8.100 na primeira cirurgia e R$ 3.100 no segundo procedimento de reparo, mas que teve o sonho e a autoestima destruídos com o resultado.

"Era um sonho, eu tenho 24 anos, não uso roupa decotada, é difícil, fica um em cima e um embaixo, nitidamente. Eu imaginava minha autoestima lá em cima mas não foi isso que aconteceu", lamentou.

A vítima disse ainda que uma prima também realizou procedimentos cirúrgicos com ele, mas na barriga, e que ela também lida com imperfeições.

"A da minha prima ficou nada perfeita, a barriga dela um lado está mais alto que o outro, a cicatriz ficou horrorosa. Eu espero que a justiça seja feita e ele pague pelo o que fez, eu fui vitima e outras também foram", disse.

Ela explicou ainda que não realizou registro de ocorrência anteriormente pois achou que não daria em nada. "Eu abri um processo contra ele já tem oito meses e até agora nada, não me chamaram para depor e nem ele", explicou.

Ainda segundo Fernanda, até hoje ela não teve acesso ao seu prontuário e que toda vez que solicita recebe uma desculpa diferente.

O caso
O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, foi preso nesta segunda-feira (18) sob acusação de manter uma paciente em cárcere privado. A denúncia aponta que a paciente era mantida em cárcere privado na unidade de saúde por cerca de dois meses após um procedimento estético na barriga dela ter dado errado. A família foi quem procurou a delegacia para falar sobre a situação da mulher.

A paciente realizou uma abdominoplastia no início de março e precisou voltar em junho para se submeter a mais três intervenções. No retorno, contudo, o procedimento apresentou problemas e ela teve complicações com um dos pontos da barriga necrosado. Os familiares acusam o médico, que administra a clínica de cirurgia plástica, de impedir a mulher de ser transferida da unidade particular para outro hospital. 
De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, a entrega do prontuário da paciente havia sido negada pelo hospital, mas nesta terça-feira (18) já passa por digitalização e em seguida será encaminhado à perícia.

Apesar das acusações, a paciente continua internada no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias e a Polícia Civil aguarda uma decisão dos parentes para saber para qual hospital ela será encaminhada.
O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva foi encaminhado ao presídio de Benfica, na Zona Norte, nesta terça (19) - Reginaldo Pimenta/Agência O DIA
O cirurgião plástico equatoriano Bolivar Guerrero Silva foi encaminhado ao presídio de Benfica, na Zona Norte, nesta terça (19)Reginaldo Pimenta/Agência O DIA
A delegada informou ainda que a audiência de custódia possivelmente será realizada nesta terça-feira (19). Ainda na manhã de hoje, o cirurgião foi encaminhado ao presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio.

O que diz o médico

Na página oficial do cirurgião Bolivar Guerrero Silva, que conta com mais de 40 mil seguidores, sua equipe publicou uma nota negando a acusação e repostaram uma sequência de depoimentos positivos de outras pacientes sobre o médico.

Confira a nota na íntegra:

“Boa tarde, meninas, o dr Bolivar foi prestar um depoimento na delegacia. Ele não estava mantendo paciente nenhuma em cárcere privado, ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, porém ela queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de libero-la. Ele disse que poderio liberá-la se ela assinasse a alta à revelia (documento ao qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação) e ela não quis assinar, ele disse que liberaria somente se ela o assinasse, Como ela não assinou ele não liberou, pois o intuito dele é prestar toda assistência a paciente ate ela está recuperada.

Além disso, ela estava com um curativo especial para acelerar a cicatrização. Esse curativo só pode ser manipulado por pessoas capacitadas como técnicos em enfermagem ou enfermeiros. Em breve o doutor irá se explicar.”

O que diz o hospital

O Hospital Santa Branca também se manifestou sobre o caso e alegou que as acusações de cárcere privado nas dependências da unidade são infundadas.

"Tal crime decorre do verbo encarcerar, que significa deter, ou prender alguém indevidamente e contra sua vontade. No crime de cárcere privado, a vítima quase não tem como se locomover, sua liberdade fica restrita a um pequeno espaço físico, como um quarto ou um banheiro. Com 43 anos de funcionamento, essa Unidade desconhece tal prática dentro do seu estabelecimento, sempre buscando zelar pela saúde física e mental de seus pacientes, prezando pelo direito de ir e vir dos mesmos, amparado por um equipe multidisciplinar profissional, centros cirúrgicos e CTI com 20 leitos operando 24 horas por dia. Nossas salas cirúrgicas são locadas. Repudiamos quaisquer práticas criminosas que nos foram indevidamente atribuídas! Tal acusação é absurda!", disse em nota.

Ainda em nota, a unidade explica que o médico Bolivar Guerrero não pertence ao quadro societário da empresa e deu detalhes sobre a internação da paciente.

"Data da internação da paciente 01/06/2022. Acomodação: apartamento privativo com direito a acompanhante. Paciente recusa-se a sair da unidade, (transferida). Todo custo da paciente é mantido pelo cirurgião, inclusive com atendimentos externos". finalizaram
CREMERJ

Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado informou que apura o caso. "Tendo conhecimento do caso pela imprensa, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) abriu sindicância para apurar os fatos. Todo procedimento segue em sigilo de acordo com os ritos do Código de Processo Ético-Profissional."