Rio Negro. Estado do Amazonas, Brasil, 2019© Sebastião SALGADO

Em plena Praça Mauá, o visitante é convidado a uma imersão pela Floresta Amazônica hoje. Com os sons, as imagens e a beleza que não é uma maquiagem, mas uma forma de nos deixar atentos ao que corremos o risco de perder. "Eu mostro a beleza, a vida da Amazônia que os brasileiros ainda não conhecem", comenta Sebastião Salgado sobre as fotografias da exposição 'Amazônia', em cartaz no Museu do Amanhã. Mas ressalva: não mostrar a morte e destruição que a grande floresta sofre não significa que não seja uma forma de alertar sobre os graves problemas da região que, segundo ele, se intensificaram no governo atual. O que poderia comover mais os brasileiros do que se deparar com imagens de um universo tão rico, mas que pode desaparecer? E comove.
Com fotos grandiosas e a marca de Salgado - imagens em preto e branco que surpreendem até ao registrar um arco-íris acima das copas -, a exposição 'joga' o visitante na rica flora e fauna, viagem estimulada pela trilha sonora assinada pelo compositor francês Jean-Michel Jarre, em cima de um material sonoro sobre a floresta vinda dos arquivos do Museu de Genebra.
A idealizadora e curadora, Lélia Wanick Salgado, esposa do fotógrafo, explica como conseguiu esse efeito de imersão na maior floresta tropical do planeta. "Queria que vocês entrassem na floresta, conhecessem sua exuberância e, depois, que vocês encontrassem os habitantes dela."
'Amazônia' já encantou em Paris, Londres, Roma e São Paulo. No Rio, fica em cartaz até o dia 19 de janeiro.
Composta por 194 fotografias, a exposição traz ainda dois espaços com projeções de fotos, uma delas com paisagens florestais acompanhadas pelo poema sinfônico 'Erosão - Origem do Rio Amazonas', de Heitor Villa-Lobos, e uma sequência de retratos de índios, sonorizada por Rodolfo Stroeter. Os registros são o resultado da imersão, por sete anos, de Sebastião e Lélia Wanick Salgado na região que cobre o Norte do Brasil e se estende a mais oito países sul-americanos, verdejando um terço do continente; e 60% desse presente dos deuses está no Brasil.
Tomadas por ar, por terra e água, as imagens, praticamente todas inéditas, foram organizadas em núcleos temáticos. Elas vão revelando o refinamento e a engenhosidade dos povos da região, alguns pouquíssimo contactados. Estima-se que em 1500 eram 5 milhões de indivíduos, mas hoje estão reduzidos a menos de 400 mil. "Na Amazônia inteira, a sofisticação cultural [dos povos] é colossal", diz Salgado, que registrou 12 etnias (das quase 200 remanescentes) para essa mostra.
O Brasil que o Brasil mal conhece está presente na mostra através de pontos bem divulgados pelo audiovisual, como o Rio Negro e o Monte Roraima, até locais citados em obras de ficção, como o Rio Uraricoera, onde nasceu Macunaíma, o anti-heroi criado por Mário de Andrade e que deu uma cara ao país mais imaginado do que visto.