Jenifer dos Sales, filha de Letícia dos Sales, de 50 anos, morta no Complexo do Alemão fala sobre a mãe após reconhecimento do corpo no IMLVanessa Ataliba/Agência O Dia

Rio - "Hoje, foi tirado um pedaço de mim, tudo que eu tinha na minha vida era a minha mãe". As palavras de dor são de Jennifer Salles, filha de Letícia Marinho dos Salles, de 50 anos, morta durante a operação policial do Complexo do Alemão, nesta quinta-feira (21). Ela foi uma das vítimas da ação policial que, segundo a Polícia Militar, tinha por objetivo de prender criminosos que praticavam crimes em bairros próximos. Ao todo, 19 pessoas foram mortas na ação, incluindo duas vítimas, um PM e 16 suspeitos.
Jennifer, sua irmã, Jéssica, e outros familiares de Letícia estiveram, nesta sexta-feira (22), no Instituto Médico Legal, no Centro, para fazer a liberação do corpo da mãe. Na saída do local, as duas falaram com a imprensa e pediram justiça para o responsável do disparo que tirou a vida de Letícia.
"Só quero que seja feita justiça pelo que fizeram com a minha mãe. Eu não desejo o que estou sentindo hoje para ninguém. É uma dor que eu não desejo para ninguém. Hoje, foi tirado um pedaço de mim, tudo que eu tinha na minha vida era a minha mãe. Ela era tudo. Perdi minha avó há 12 dias e eu falei para mim: 'agora eu só tenho a minha mãe e meu pai'. E acontece isso. Infelizmente eles tiraram a minha mãe de mim", lamentou Jennifer.  
Segundo a jovem, a mãe teria vindo para o Complexo, onde as filhas viviam, para ajudar a organizar uma festa na igreja em que frequentavam. "O sentimento neste momento para mim é só de dor, revolta e injustiça. Pelo que fizeram com a minha mãe. Uma mulher de 50 anos ser covardemente alvejada, sem representar nenhum perigo para ninguém. Ela não fez nada. Estava na porta de casa", comentou.
Para Jéssica, a morte da mãe revela o despreparo da polícia nas ações policiais dentro de comunidades. "Quantas mais pessoas inocentes vão morrer para o Estado mudar essa atitude. Quantos mais vão perecer. Esses policiais despreparados só querem vir e atirar em inocente, eles acham que todo mundo que mora na comunidade é marginal", disse a jovem. 
"Um despreparo da polícia do Rio de Janeiro. Infelizmente o estado está caótico, a política do nosso Rio de Janeiro, do nosso país está cada vez pior. É isso que eles tem pra gente? Chegar e matar? A polícia do Rio só faz isso? Matar? Minha mãe era uma pessoa boa, disposta ajudar todo mundo e um policial vem e mata ela dessa forma", finalizou. 
A autônoma será enterrada neste sábado, às 11h30, no Cemitério Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária do Rio. 
A outra vítima dos confrontos no Complexo do Alemão, Solange Mendes, de 49 anos, morta nesta sexta-feira, na localidade conhecida como Caixa D'Água, também deve ser enterrada neste sábado. Familiares dela estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no fim da tarde desta sexta-feira, mas ninguém quis comentar o caso. O horário e o local do sepultamento não foram informados pela família.  
A operação
Já considerada a quarta operação mais letal da história do Rio, a ação desta quinta-feira foi coordenada entre o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil e com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A ação começou por volta das 5h e contou com cerca de 400 agentes, dez blindados e quatro aeronaves.