Representantes das secretarias de Estado de Polícia Militar e de Polícia Civil concedem entrevista coletiva na Cidade da Polícia para falar sobre a operação no Complexo do AlemãoWaleska Borges/ Agência O Dia

Rio - As polícias Civil e Militar confirmaram, no início da noite desta quinta-feira (21), que 18 pessoas morreram durante a operação no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, sendo 16 suspeitos e dois inocentes. A direção da UPA do Complexo do Alemão informou que recebeu 15 mortos e dois feridos. Já o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, segundo informações não oficiais, recebeu cinco mortos, entre eles um policial militar. Outras quatro pessoas deram entrada no PAM de Del Castilho com ferimentos. O objetivo da ação era localizar e prender cerca de 100 criminosos que pretendiam sair do Alemão para praticar roubos e invasões em outras comunidades.
De acordo com o segundo o tenente-coronel Uriá Nascimento, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), estes traficantes usavam roupas similares às fardas das polícias Militar e Civil para dificultar a localização dos mesmos. O setor de inteligência da PM identificou que esta quadrilha praticava roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna. Também havia indicações que a quadrilha poderia se movimentar e cometer ações criminosas na cidade, como invasão de outras favelas e roubo a bancos.
Em coletiva na Cidade da Polícia, o subsecretário da Polícia Civil, Ronaldo Oliveira, afirmou que a operação foi planejada e integrada entre as polícias Civil e Militar. "Infelizmente tiveram duas baixas de pessoas que não era para ter", disse se referindo a morte do cabo da PM, identificado como Bruno de Paula Costa, de 38 anos, e Letícia Marinho do Sales, de 50 anos, baleada no peito quando saía da comunidade. Todas as mortes estão sendo investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A PM informou que ainda não teve conhecimento da dinâmica dos fatos que levaram a morte de Letícia, mas afirmou que está colaborando com a especializada. O namorado da mulher afirma que ela foi baleada por uma equipe da Polícia Militar.
O subsecretário também informou que ainda não tem o nome de todos os suspeitos mortos e nem a ficha criminal dos mesmos. Os corpos foram levados ao Instituto Médico Legal (IML) do Rio para reconhecimento. Ronaldo Oliveira estima 30 mandados de prisão em aberto para serem cumpridos no Complexo do Alemão. 
O coordenador da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, Fabrício Oliveira, apontou que moradores estão sendo usados por criminosos durante as ações policiai: "É evidente que se houver críticas e denúncias em relação a ação da polícia elas serão investigadas, porém o que a gente está falando é que os criminosos estão obrigando parte da população para causar uma desordem durante a ação policial".  
Conforme observado pela equipe do DIA, durante toda a tarde moradores da própria comunidade, usando carros de passeio, caminhonete e kombi, retiraram os corpos de dentro do complexo. Por volta das 12h, um caminhão de frete removeu três corpos na entrada da Rua Joaquim de Queiroz e os levou para a UPA do Alemão. Às 13h, um carro de passeio e uma kombi também foram flagrados pela equipe do jornal saindo da comunidade com outros quatro corpos, todos enrolados em lençóis e com marcas de sangue. Às 14h30, outros dois corpos foram levados para a UPA do Alemão.
Barricadas e criminosos encurralados no Alemão
Em coletiva, o coordenador da Core, Fabricio Oliveira chamou a atenção para as enormes barricadas instaladas na comunidade. "Percebemos a multiplicação de barricadas, o que impede o acesso das polícias. São barricadas com uma forte engenharia, tem investimento de criminosos. Vemos essas barricadas também no Salgueiro, Vila Cruzeiro e no Alemão. Isso está se espalhando e não é normal, é uma doutrina militar. As vezes usam táticas terroristas, como por exemplo fazer moradores de escudos humanos", disse.
Fabrício também elogiou o trabalho de integração entre as polícias. "Hoje foi um dia emblemático para o Rio de Janeiro. As polícias tinham muita dificuldade de entrar [no Complexo do Alemão] e hoje, em pouco tempo, conseguimos tomar a região. Vimos criminosos desesperados pedindo ajuda de mototaxistas e moradores da região", disse o coordenador do Core. Foram apreendidas 48 motos na região.
Criminoso do Pará
Apontado como matador de policiais no estado do Pará, Hideraldo Alves, de 27 anos, conhecido como Esquilo, deu entrada na UPA do Alemão com a identificação de Adriano Castro Pires, ferido a tiros nas pernas. Com mandado de prisão em aberto, Esquilo está sob custódia da Polícia Militar e ficará preso. Durante a coletiva na tarde desta quinta-feira, a polícia informou que investiga a possibilidade de Alves ter relação ao roubo a uma joalheria em um shopping de luxo no início do mês ,na Zona Oeste da cidade.
Sobre a operação
Cerca de 400 policiais foram enviados para a operação, sendo usados quatro aeronaves e 10 veículos blindados. Equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil participam da operação. Também no contexto desta operação, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área (Zonas Norte e Oeste da cidade do Rio de Janeiro) estão atuaram nas comunidades Juramento e Juramentinho.
As informações dos setores de inteligência das unidades citadas apontam a presença de criminosos da região do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna.

Esse grupo criminoso estaria praticando roubos a bancos como aqueles que ocorreram no município de Quatis, em Niterói e na Baixada Fluminense, e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades. Entre os roubos de carga realizados pelos criminosos constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras quando estivessem ocorrendo operações visando dificultar o avanço de guarnições policiais.
O que diz o Ministério Público
O Ministério Público informou que tomou conhecimento da operação às 5h40 desta quinta-feira e que por intermédio do plantão ADPF 635, está acompanhando a operação policial no Complexo do Alemão, para adoção das providências cabíveis. Disse ainda que a análise do cumprimento da ADPF nº 635 será realizada posteriormente com um promotor.
Uma série de vídeos feitos por moradores do Complexo do Alemão mostra o cenário de destruição deixado pelo conflito armado entre traficantes e policiais em becos e vielas dentro das comunidades, nesta quinta-feira (21). As imagens chocantes mostram paredes perfuradas pelos disparos trocados durante a operação.

Nos registros, moradores mostram becos no interior da comunidade completamente destruídos por disparos. Em uma das filmagens, é possível ver as paredes de uma residência destruídas, restando apenas colunas que sustentam o segundo andar do imóvel.
O plantão de atendimento do MPRJ também informou que para receber denúncias urgentes de possíveis casos de violência e abusos de autoridade cometidos durante ações policiais em comunidades no Estado do Rio de Janeiro, funciona 24 horas por meio do telefone ou WhatsApp, no número (21) 2215-7003, ou por intermédio do e-mail gt-adpf635@mprj.mp.br.