Moradores do Complexo do Alemão, na Zona Norte, retiram corpos do interior da comunidade, após operação das polícias Civil e MilitarReginaldo Pimenta/ Agência O Dia

Rio - Moradores do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, retiraram pelo menos dez corpos de pessoas baleadas no interior da comunidade, no início da tarde desta quinta-feira. A Polícia Militar confirmou 16 suspeitos mortos na ação, sem identificação até o momento. Há ainda outros dois mortos já identificados: o cabo da PM Bruno de Paula Costa, de 38 anos, e Letícia Marinho do Sales, de 50 anos, baleada no peito quando saía da comunidade. 
Por volta das 12h, a equipe do DIA flagrou um caminhão de frete removendo três corpos na entrada da Rua Joaquim de Queiroz e os levando para a UPA do Alemão. Às 13h, um carro de passeio e uma kombi também foram flagrados pela equipe do jornal saindo da comunidade com outros quatro corpos, todos enrolados em lençóis e com marcas de sangue. Às 14h30, outros dois corpos foram levados para a UPA do Alemão. Já o jornal comunitário Voz das Comunidades está no interior do complexo e informou que são mais de dez mortos.
A Comissão de Direitos Humanos afirmou antes da divulgação do número oficial que a quantidade de mortos chegou a 15. Segundo Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a UPA do Alemão confirmou para o órgão o total de 12 corpos vindos da comunidade. Guilherme está no local e contou que a situação é de violação de direitos humanos. Informou ainda que está cobrando do Ministério Público do Rio (MPRJ) a interrupção da operação, a fim de verificar as graves denúncias feitas por moradores.
Por volta das 15h30, um morador deu entrada no Hospital Getúlio Vargas baleado no quadril, transferido no PAM de Del Castilho, onde recebeu os primeiros socorros. Ele foi identificado como Lorran Teles Santos, de 19 anos, e estava saindo de casa para trabalhar.
O clima na região ainda é de tensão e moradores seguem encurralados em suas casas desde às 5h desta quinta-feira. De acordo com relatos, algumas famílias tiveram suas casas invadidas pelos policiais durante a ação. Dentro dos imóveis, os PMs teriam agido com truculência, revirando tudo, roubando pertences e agredindo quem vivia no local. Pela manhã, pessoas dentro de suas casas sacudiram panos brancos em pedido de paz. Veja o vídeo:
A Estrada do Itararé, principal via de acesso ao Complexo do Alemão, segue fechada.
O que diz a PM
A Secretaria de Estado de Polícia Militar e a Secretaria de Estado de Polícia Civil informaram que estão atuando conjuntamente no Complexo do Alemão, nesta quinta-feira (21). Cerca de 400 policiais estão empregados nesta operação, sendo usados quatro aeronaves e 10 veículos blindados.

Equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil participam da operação. Também no contexto desta operação, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área (Zonas Norte e Oeste da cidade do Rio de Janeiro) estão atuando nas comunidades Juramento e Juramentinho.

Durante a ação, segundo a corporação, as equipes policiais foram atacadas por tiros em diferentes pontos do Complexo do Alemão. Três indivíduos foram encontrados mortos e houve apreensão de uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas. Na comunidade Favela da Galinha, próximo do Alemão, quatro indivíduos em fuga foram alcançados e detidos.

Uma mulher ferida por disparo de arma de fogo deu entrada na UPA Alemão e a UPP local foi informada. A investigação do caso está a cargo da Polícia Civil. "A Polícia Militar acompanha e colabora integralmente com todos os procedimentos", disse a PM em nota.

Nas comunidades Fazendinha e Nova Brasília, as bases das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) locais foram atacadas por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos. O Cabo Bruno de Paula Costa estava trabalhando e ficou ferido quando a base da UPP Nova Brasília foi atacada por criminosos em retaliação à operação. Ele foi socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, no entanto, não resistiu ao ferimento e morreu.

As informações dos setores de inteligência das unidades citadas apontam a presença de criminosos da região do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna.

Esse grupo criminoso estaria praticando roubos a bancos como aqueles que ocorreram no município de Quatis, em Niterói e na Baixada Fluminense, e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades. Entre os roubos de carga realizados pelos criminosos constam roubos de óleo diesel para derramar em ladeiras quando estivessem ocorrendo operações visando dificultar o avanço de guarnições policiais.