Rio - A Polícia Civil investiga se o material biológico humano encontrado na casa onde mãe e dois filhos viviam em cárcere privado, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio, são de um corpo em decomposição. Segundo Cristiane Carvalho, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande, responsável pela investigação, o material encontrado por cães farejadores do Corpo de Bombeiros, no último sábado (29), foi enviado para perícia, "pois nada foi visível aos olhos". A delegada estuda, ainda, realizar uma nova perícia na casa durante a semana.
Foram recolhidas também amostras de terra e "restos de materiais parcialmente robustos" para análise no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). Luiz Antônio Santos Silva, de 49 anos, marido e pai das vítimas, teve a prisão convertida em preventiva e vai responder por sequestro, tortura e cárcere privado.
fotogaleria
As vítimas, mantidas em situações precárias por 17 anos, receberam alta do Hospital Municipal Rocha Faria, em Campo Grande, na sexta-feira (29). Eles ficaram apenas um dia internados. Os três deram entrada na unidade com quadro de desnutrição e desidratação grave. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a partir de agora, eles receberão acompanhamento e tratamento psicológico por meio do Centro de Atenção Psicossocial.
A Secretaria Municipal de Assistência Social também informou que está atendendo a família com todos os serviços socioassistenciais. A mãe recebeu, nesta segunda-feira (1), o Cartão Protege SuAS, no valor de R$ 250 para compra de insumos. De acordo com a pasta, esse cartão só é disponibilizado em casos de calamidade pública.
"A situação da família encontrada em cárcere privado é dramática. Os dois filhos, de 22 e 19 anos, só se locomovem no colo de alguém - não conseguem usar as pernas presas por 17 anos - e usam fraldas. A SMAS está doando colchonetes, kits cama e banho, e kits de higiene", disse a secretaria.
Doações para a família
Foi lançado nesta segunda-feira uma campanha de solidariedade à família por conta das condições das vítimas. Eles estão na casa de uma parente que ganha um salário mínimo e paga R$ 400 de aluguel. "Contamos com a sociedade civil para ajudar mais essa família que sofreu tantos maus tratos", disse a secretária municipal de Assistência Social, Maria Domingas Pucú, assistente social há mais de 20 anos e que está chocada com esse caso.
A família precisa de alimentos, fraldas, roupas, calçados, material de higiene e limpeza. Por não terem documentos de identidade, as equipes da Assistência Social estão providenciando todos os serviços necessários, como: organizar a documentação civil, inscrição no CadÚnico para recebimento do Auxílio Brasil, Auxílio Gás, além de pleitear junto ao INSS outros benefícios.
Os três foram encontrados numa pequena casa na rua Leonel Rocha, em Guaratiba. O cenário parecia de filme de terror: pouca luminosidade e condições deploráveis, com acúmulo de lixo, fezes no chão, colchões rasgados e muita sujeira nas paredes.
"A mãe falou que eles nunca tinham visto a luz do dia", afirmou o capitão William Oliveira, do 27º BPM. "Quando me deparei com a situação, imaginei que fossem crianças, pela compleição física. Eles estavam com os pés amarrados quando chegamos", explicou.
Policiais militares foram até a casa após uma denúncia anônima. Luiz Antônio Santos Silva foi preso por agentes do 27º BPM e levado para o presídio de Benfica, onde esperará pela audiência de custódia. Ele vai responder por sequestro ou cárcere privado, maus-tratos e crime de tortura. A 43ª DP (Guaratiba) investiga o caso.
Segundo a denúncia, o homem tinha o apelido de DJ na localidade por colocar música alta para abafar os gritos de socorro das vítimas. O rapaz, de 19 anos, e a moça, de 22, têm transtornos mentais.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.