Carlos Eduardo contou que Maria Thereza era tudo na vida dele. Na foto, os dois dormindo juntosArquivo Pessoal
"Hoje ela teria 1 ano e meio, amanhã poderia estar me chamando de papai pela primeira vez. Imagina? Mas desde que ela se foi, eu não consegui sentar e chorar, pois tenho que trabalhar, pagar aluguel, cuidar da minha esposa, falar com advogado. É difícil", lamentou.
A menina se engasgou enquanto estava no Centro de Educação Infantil Carolina Amorim, no bairro Cascatinha. Nos depoimentos, funcionários da creche informaram que ofereceram 1/4 de maçã para a criança. Segundo a investigação, a fruta foi servida fora dos padrões, o que contribuiu para o engasgo de Maria Thereza.
Maria chegou a ser socorrida por várias pessoas que tentaram retirar o alimento, mas sem sucesso. Ela só foi levada para uma unidade de saúde após a mãe de uma outra aluna perceber a gravidade da situação e reforçar a necessidade de atendimento médico, após dois dias de internação ela não resistiu.
De acordo com o delegado titular da 105ª DP (Petrópolis), João Valentim, as investigações revelaram que as funcionárias da escola não foram preparadas para prestar assistência e cuidado em cada situação. No dia 4 de julho, a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou duas professoras e a diretora da unidade escolar por homicídio culposo. A médica responsável pelo atestado de óbito também está sendo investigada.
Carlos Eduardo, que trabalha como assistente técnico, contou que precisou mudar de estado para tentar refazer a vida, mas que a esposa vem sofrendo com depressão e crises de pânico devido a perda da filha.
"Minha esposa está deprimida dentro de casa e eu trabalho dia e noite. Minha filha foi tirada de mim e me disseram que foi uma fatalidade. Mas fatalidade é infarto, AVC ou queda de avião. O que houve com ela foi uma sucessão de erros e irresponsabilidade de vários níveis. Minha esposa se sente culpada por mandar a filha pra escola. Eu já me culpei por deixá-la na creche pra ir trabalhar. Se foram indiciadas, porque não foram presas? Elas foram indiciadas há mais de um mês, e teriam 30 dias para se pronunciar e até agora nada".
Carlos comentou ainda sobre a instauração de uma sindicância (processo 22.815/2022) aberta pela Prefeitura de Petrópolis para apurar a morte de Maria Thereza.
Revolta
Carlos Eduardo desabafou ainda sobre a diferença de classes sociais e lamentou sobre a lentidão da justiça.
"Imagine se fosse eu? Uma criança branca, de classe média ou alta, morresse dentro da minha casa? Mesmo que eu não tivesse culpa. Eu estaria livre para te mandar essa mensagem agora? Não sou vítima da sociedade. Nunca recebi auxílio disso ou daquilo. Tenho 36 anos e trabalho desde os 14 de idade. Nunca recebi seguro-desemprego, e o que eu esperava do poder público era só que fizessem o trabalho deles. Só quero que as leis sejam cumpridas. Se erraram, que paguem pelo erro, e que sejam responsabilizados", desabafou.
O pai da menina disse ainda que enfrenta problemas para manter o emprego e cuidar da esposa. "Minha esposa tem crises de pânico e faz acompanhamento psiquiátrico. Já faltei ao trabalho duas vezes, fui desligado na sexta (12). Segunda-feira (15) começo em outra empresa, o trabalho é externo, viajando, como posso trabalhar tranquilo?", finalizou.
Procurada, a Polícia Civil informou que a conduta da médica que atestou o óbito ainda está sendo investigada. Já a Secretaria de Administração e Recurso Humanos da Prefeitura informa que a sindicância foi concluída com o encaminhamento para abertura de um inquérito administrativo. Esse inquérito já foi instaurado e tem o prazo de 90 dias para ser concluído, podendo ser prorrogado por igual período.
A Prefeitura disse ainda que não prometeu indenização no valor de R$ 10 mil para a família. Devido tanto o processo administrativo quanto o processo judicial não terem sido concluídos.
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