A jovem Tauane Kelly, com Marlei dos Santos Jesus, no batizado, antes de serem baleados dentro de casaFoto: Agência O Dia

Rio - A jovem Tauane Kelly do Nascimento, de 21 anos, recebeu alta neste domingo (4), e está na casa da mãe, se recuperando, após ser baleada dentro de casa, na comunidade do Grão Pará, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no dia 27. Tauane contou ao DIA sobre o misto de emoções que viveu durante a semana: o retorno para casa, a alegria de rever a filha, a mobilização nas redes para arrecadação de medicamentos e curativos e o luto pela perda precoce do companheiro Marlei de Jesus Santos, de 17 anos.
"Foi uma maravilha voltar para casa, poder ver minha filha. Foi uma semana sem ela", contou Tauane. Depois do risco de perder os movimentos das mãos, dada a ruptura que sofreu de um nervo no braço esquerdo, a jovem respira aliviada: "Antes eu não conseguia mexer o braço, mas agora mexo". A jovem esteve internada no Hospital da Posse, na mesma cidade, e passou por duas cirurgia, uma de emergência e uma programada, no sábado (3), e agora está com uma platina no osso e parafuso.
"Quando eu entrei, me deram o maior apoio, me ajudaram, fizeram uma cirurgia de emergência. Mas depois, quando minha mãe não pôde ficar comigo, não foi bom. Teve dia que eu fiquei sem tomar remédio, porque eles não me deram, dia que eu fiquei sem trocar a fralda. Minha mãe não podia entrar para ficar comigo, porque eu não podia me mexer. Mas quando fiz a cirurgia foi uma maravilha", relatou.
Na segunda (29), sua mãe, Cátia Helena, de 37 anos, também fez as mesmas queixas à reportagem. Procurada, a assessoria do hospital informou que a informação não procede, que a paciente esteve com a acompanhante e tomava os remédios para a dor normalmente. Alegou ainda que a medicação tramal, para alívio das dores, assim como outros analgésicos, estão disponíveis no Hospital Geral de Nova Iguaçu, mas que, devido à superlotação diária, pode haver demora na reposição de alguns medicamentos.
Apesar da alta, os cuidados continuarão por até mais ou menos um mês. A batalha agora é para conseguir comprar todos os materiais necessários do pós-operatório, muitos deles caros. "Só um remédio para dor custa cento e pouco", contou. O remédio a que faz referência é o analgésico Tramal, que a jovem já fazia uso no hospital. Nas redes, parentes e amigos mobilizaram uma rede de apoio para doações de remédios e materiais para curativo. "Estou em casa porque muitos me ajudaram. Estão publicando nas redes sociais [pedindo] ajuda de gaze, atadura, soro, óleo de girassol, remédio", explicou a jovem.
Mas nem mesmo o alívio do retorno do movimento do braço e a alta conseguem livrar Tauane do sentimento de incerteza. Antes da tragédia, para complementar a renda da casa, a jovem fazia bicos como cabeleireira, trabalho que fica comprometido sem a recuperação completa dos movimentos. "O meu medo ainda é esse, que eu não sei se vou conseguir. Minha renda era isso, porque eu faço cabelo. Meu medo é não conseguir voltar a fazer", desabafou.
Ainda de luto pela perda de Marlei, a jovem falou das qualidades do rapaz como homem e como pai. "Era um homem trabalhador, se dedicava muito à filha dele, não deixa ela faltar nada. Quando ele chegava, a atenção era toda dela. Vai ser difícil, quando ela crescer e perguntar. Eu vou tentar levar, vou tentar ser forte", afirmou, falando também da saudade da filha: "Como ele trabalhava de carroça, quando passa uma, ela fica perguntando 'é o papai?'. Ela olha a foto e pergunta. Para dormir também é difícil, porque ela só dormia com ele hoje".
Ao final, Tauane voltou a defender o namorado. "A imagem dele ficou como um bandido, uma coisa que ele não era. A gente tem prova que ele trabalhava em uma loja de material de construção, uma coisa que ele gostava de fazer. Ele era muito responsável".
* Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes