Nessa passagem pelo Rio, Trey já havia visitado pontos turísticos da cidade, como a Feira de Tradições Nordestinas, em São CristóvãoReprodução do Facebook
'Jamais poderia ter raiva do lugar que meu filho tanto amava', diz mãe de americano morto no Rio
Kathy Luna diz ser grata aos amigos brasileiros por terem ficado ao lado de Trey Barber no hospital e revela que ele planejava se mudar para o Brasil
Rio - Prestes a completar um mês da morte do turista americano Trey Barber, a mãe do professor de inglês conversou, com exclusividade, com o DIA e falou do recomeço da vida, sentimentos a respeito do Rio e do Brasil, gratidão aos amigos que não saíram do lado do jovem no hospital e da dificuldade em conseguir de volta, junto ao consulado estadunidense, os pertences do filho.
A administradora aposentada Kathy Luna contou que, ao ser informada do ocorrido com o filho, achou ter caído em uma espécie de trote ou golpe, como já havia sido noticiado pelo DIA no mês passado. À época, Célia Lopes, mãe da amiga de Trey, Bianca Silva, e dona da residência onde estava hospedado o americano, contou que a filha precisou mostrar à ela a marca do tiro na janela da casa e as manchas de sangue no sofá da sala.
"É o tipo de pesadelo de toda mãe, todo pai. No início, eu achei que fosse um trote. Para o meu desespero, não era. Um vizinho perdeu a filha há cerca de 8 anos e eu me lembro daquele dia horrível. Eu entrei em casa e abracei Trey com tanta força, e pedi a Deus que eu nunca tivesse que passar por algo assim", disse.
Kathy comentou da tristeza de não ter podido estar ao lado do filho no hospital e da gratidão aos amigos de Trey que acompanharam todo o drama, servindo de apoio e fonte de informação a família nos EUA.
"Eu nunca vou me perdoar por não poder estar lá no hospital com ele, como também acho que jamais poderei retribuir seus amigos por nunca sair do lado dele", comentou.
Questionada sobre o que sentia pelo Brasil após o ocorrido, Kathy foi taxativa em dizer jamais poderia sentir raiva do lugar em que o filho era mais feliz e revela que Trey sonhava em se mudar para o país e começar uma nova vida aqui, dando aulas de inglês.
"O que aconteceu no Brasil com o Trey poderia ter acontecido aqui - e acontece. O sonho do meu filho era se mudar para lá, comprar um apartamento e ensinar inglês. Ele queria começar uma nova vida. Eu nunca poderia odiar um lugar que meu filho tanto amava", desabafou.
A aposentada contou que, inicialmente, recebeu todo apoio e suporte do consulado estadunidense no Rio. Agora, no entanto, enfrenta dificuldades em se comunicar com quem pode fazer com que lhe devolvam coisas que são muito caras para ela e sua família.
"O consulado foi muito útil para trazer "meu bebê" de volta para casa. Mas agora estou tendo dificuldade com eles. Meus e-mails questionando como obter os pertences do meu filho que ainda estão no Brasil não foram respondidos. Eu preciso que todas as coisas dele sejam devolvidas para mim. Peguei sua carteira e passaporte, mas não todas as roupas e malas. Tudo ainda é muito recente, não sei como seguir em frente, mas conto com o apoio da minha família e amigos", afirmou.
Procurado, o consulado americano não retornou o contato da reportagem até o fechamento dessa matéria.
No dia 1º deste mês, Trey foi enterrado em Los Angeles, na Califórnia, sua cidade natal. A cerimônia domiciliar, cultural nos Estados Unidos, foi toda ornada em verde e amarelo. Durante todo o velório, a urna de Trey foi coberta com uma bandeira da Ucla, Universidade da Califórnia, e uma do Brasil. Na hora do sepultamento, somente a brasileira continuou sobre o caixão até o fim.
Relembre o caso
Na terça-feira, 9 de agosto, Trey Barber foi atingido no pescoço dentro da casa onde estava hospedado, em Cascadura, Zona Norte do Rio. Naquela oportunidade, o Morro do Fubá, de onde, provavelmente, veio a bala perdida, vivia clima de tensão por causa de um confronto entre milicianos e traficantes de uma facção criminosa, que tenta retomar o controle da área.
Trey foi imediatamente levado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde foi submetido a uma cirurgia de emergência e seu estado de saúde era considerado grave. Posteriormente, o estadunidense foi transferido para o Hospital Samaritano, na Zona Sul, onde morreu na madrugada do dia 12.
Essa era a segunda vinda dele no Rio. Na primeira vez, passou sete meses na cidade. Nesta oportunidade, ele chegou dia 6 de julho e ficaria até 19 de setembro. Ele sonhava em ir ao Maracanã assistir ao Flamengo, clube que acompanhava mesmo de longe.
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