Box Fusão acredita que o crossfit pode auxiliarDivulgação / Igor Fernandes

Rio - Cinco dias sem dormir, comer e tomar banho. Foi assim que estava a professora de matemática, Sandra Lopes, de 40 anos, após ser diagnosticada com depressão. Além de todas as dificuldades da doença, ela teve também que lidar com a tentativa de suicídio de seu filho, 22. Ao procurar ajuda médica, foi receitada a prática de exercício físico como uma alternativa para ajudar o tratamento não só de Sandra, mas da família toda. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, o número de óbitos por suicídio aumentou 77,8% de 2014 para 2020, data da última atualização. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e a ansiedade, doenças que estão no centro das campanhas do Setembro Amarelo, aumentaram mais de 25% no primeiro ano da pandemia.

Sandra foi diagnosticada com luto patológico, o que resultou logo depois em uma depressão. "Essa é uma doença que você não sai do luto, eu estava há sete anos sofrendo o luto da minha mãe. Meu mundo era cinza e preto, não havia felicidade e nada me trazia alegria", revela. "Eu tinha momentos que até saía de casa, respirava, mas depois voltava. Foi aí que veio a depressão forte, eu me via estagnada, sem vontade de fazer nada", completa.
A professora de matemática, moradora de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, ainda explica que a situação piorou mais ainda quando seu filho tentou o suicídio. "Eu já estava com o problema da minha mãe e com essa questão do meu filho eu piorei. Não conseguia sair de casa, ficava o dia inteiro no sofá e olha que eu sou professora. Eu vi minha vida parar", declara Sandra. Seus dois filhos também foram diagnosticados com depressão.

A professora de matemática procurou ajuda médica e foi aconselhada a praticar algum exercício físico para auxiliá-la no tratamento. Então, ela começou no Crossfit e, logo depois, puxou a família toda para treinar junto. "Ali eu conseguia esquecer um pouco as coisas que vivia. No momento da prática, eu era alegre, diferenciada, conseguia falar com todo mundo e havia o carinho de todos ali comigo", conta. "Antes de entrar, eu tive que falar para eles sobre a minha situação. Teve dias que eu sai correndo da aula porque fiquei agoniada por estar muito cheia, por exemplo. O tratamento da equipe foi o diferencial para que eu continuasse", completou ela, que treina no box Fusão, em São Pedro da Aldeia.
"Quando eu estou fazendo atividade física, sinto uma superação. Hoje, coloquei meus filhos e meu esposo. Estamos todos juntos lá e até recebi parabéns do meu médico por estar melhor. Agora eu sonho mais, vejo que há lutas, mas tudo bem. Hoje consigo sair, dirigir, estou até voltando a dar aula", conclui.

De acordo com o treinador principal de Crossfit do box Fusão, Thiago Ricardo da Costa Benini, a ideia da atividade é manter o aluno sempre em movimento. "Essa prática promove muito a produção de dopamina e de noradrenalina de forma eficiente. O Crossfit, em geral, tem todo um cenário de ação, treino, coletividade, o que gera uma motivação e superação na pessoa, fora o ambiente amigável", afirma. "Todos esses neurotransmissores, hormônios, liberados, ajudam a combater a ansiedade. Vale lembrar também que, após o treino, temos uma descarga grande de serotonina, o que é essencial para a saúde mental", completou Thiago. "Aqui tem interação, coletividade, amizade e espírito de equipe, ajudando quem passa pela depressão a se superar", garante.

O professor do programa de pós-graduação em ciências do movimento e da reabilitação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Felipe Barreto Schuch, explica que a atividade física serve como fator protetor, reduzindo o risco de quem não tem depressão não desenvolvê-la e como intervenção terapêutica, amenizando os sintomas de quem tem a doença. "Um estudo mais recente prova que, se a pessoa fizer 75 minutos de atividade física por semana, 15 minutos por dia, metade da recomendação da OMS, já é suficiente para evitar o desenvolvimento de uma depressão", diz. "Para quem já tem depressão, o exercício físico tem efeito considerado moderado quando comparado a outros tratamentos. Ele funciona na redução dos sintomas, reduzindo os níveis de inflamação sistêmica", detalha.

Segundo a socióloga e diretora executiva do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES), Dayse Miranda, a taxa de suicídio no Brasil cresceu ao longo de 20 anos. "De 2000 até 2020, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde, foi um crescimento de 60. de 2019 em relação a 2020. Com a pandemia, foi um crescimento de 1%, mas 1% sao mais de 200 mortes em um ano, só em 2020 foram mais de 14 mil mortes por suicídio, isso sem considerar mortes por causas indeterminadas", declarou. "O Setembro Amarelo é importante para falar da importância da vida e, consequentemente, da importância de prevenir o suicídio, mas pra isso precisamos desconstruir o mito e tabu que existe em torno dele", completa. "Nós precisamos de ferramentas que nos permitam avaliar o impacto, porque caso contrário, não faremos prevenção fundamentada", concluiu.

Dados

O Relatório Mundial de Saúde Mental de 2022, divulgado pela OMS, revelou que apenas no primeiro ano da pandemia 53 milhões de pessoas desenvolveram depressão e 76 milhões tiveram ansiedade, com alta de 28% e 26% de incidência desses transtornos, respectivamente.

Conscientização

Durante todo o mês de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio está promovendo ações de conscientização, oferecendo extensa rede de apoio a qualquer pessoa que esteja passando por algum problema psicológico.

O tratamento pode ser feito na clínica da família mais próxima, facilmente consultada no 'Onde ser atendido', que pode ser acessado por meio da plataforma EpiRio (https://svs.rio.br/epirio/). Além das clínicas, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) também disponibilizam atendimento voltado ao tratamento da saúde mental.