Cariocas aguardam atendimento na Arena Carioca, na PavunaCleber Mendes / Agência O Dia

Rio - O primeiro dia de mutirão de atendimentos para o CadÚnico foi marcado por intenso movimento nos oito polos montados pela Prefeitura do Rio, neste sábado (17). A ação acontece após o grande número de reclamações e filas nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) de quase toda a cidade, nos últimos dias. 
Na Arena Carioca Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, Zona Norte do Rio, muitos beneficiários, que chegaram ainda de madrugada, conseguiram atualizar suas informações e agora esperam a aprovação do Governo Federal para conseguirem receber o Auxílio Brasil. Outros, porém, ainda não tiveram sua situação regularizada. O atendimento começou às 9h.

"Fui duas vezes ao Cras para realizar o cadastro e hoje vim aqui para me inscrever no Auxílio Brasil. Já tem um ano que fiz o cadastro e não consigo receber. Perguntei no Cras e fui informada que meu cadastro ainda está sob análise do governo. Eu queria que o Cras fosse mais atencioso, que os governantes fossem mais atenciosos com a população menos favorecida. Eu tenho aterosclerose nas pernas e uma prótese no quadril, é muito difícil ficar vindo aqui", contou Fátima Oliveira, de 54 anos, que trabalhava como vendedora mas atualmente está desempregada.
"Vou voltar ao Cras na quinta-feira para tentar resolver de vez meu benefício para ver se eu consigo ter um pouco de paz. O dinheiro é necessário para comprar remédio e comida, estou desempregada e precisando." continuou Fátima.

Marcio Almeida, 55 anos, que trabalhava como motorista de caminhão e ficou desempregado após sofrer um acidente que o deixou com sequelas, conseguiu realizar seu cadastro e agora espera que o Governo não demore a aprová-lo, já que está com dificuldades financeiras. "Eu não estou pedindo o Auxílio para fazer churrasco ou me divertir, é para sobreviver. A não ser que eles queiram que eu vá roubar. Como, às vezes, um ovo por dia ou nem isso. Consegui me cadastrar hoje e espero que eles aprovem rápido. Estou desesperado, preciso do dinheiro para sobreviver, não é para gandaia. Eu não consigo mais trabalhar por causa das minhas sequelas. Tem gente que já está recebendo o Auxílio e possui emprego e uma vida estável. Tá difícil pra mim, eu não tenho o que comer. Tá uma dificuldade imensa, está brabo. Fico pedindo ajuda para amigos mas eles já não conseguem continuar me ajudando e não quero viver encostado neles", desabafou Márcio.

Já Priscila Coelho, 29, manicure, moradora da Pavuna, conseguiu atualizar seu cadastro de maneira rápida. Segundo ela, o atendimento foi eficiente. "Foi super rápido, o pessoal é atencioso, organizado e solícito. Adorei. Antes eu possuía o Bolsa Família, mas foi cancelado por causa do meu salário. Agora com a mudança para o Auxílio Brasil, vou poder voltar a receber", contou.

Houve também casos de moradores de outros municípios que tentaram recorrer ao posto da Pavuna para se cadastrarem, o que não é permitido, e tiveram que retornar às suas casas sem conseguir atualizar a ficha.

"É humilhante sair de casa 5h, enfrentar o frio absurdo que fazia na madrugada porque estava chovendo, ficar na fila até agora para ser informada que só poderia ser atendida no Cras de São João. É revoltante", lamentou a cuidadora Eliane de Santana, de 32 anos, moradora de Coelho da Rocha, em São João de Meriti e que busca resolver sua situação desde abril de 2021.

"Perdi muitos clientes por causa da pandemia. Ninguém queria se expor ao vírus e eu, como cuidadora, que trabalho presencialmente, acabei perdendo muitos clientes e passo dificuldades. Lá em São João a situação do Cras é horrível, ninguém consegue resolver nada, ficam te jogando de um lugar pro outro e nunca acontece nada", reclamou Eliane.
Além da Arena Carioca na Pavuna, o mutirão de cadastramento para o CadÚnico foi realizado em polos montados em Bangu, Bonsucesso, Campo Grande, Madureira, Rio da Pedras, Rocha e Santa Cruz. Em Madureira, o atendimento foi na quadra da Portela, na Rua Clara Nunes, que desde cedo teve grande movimentação.
A ação é um medida do governo municipal em resposta às reclamações de longas filas e falta de atendimento nos Cras, após um ataque hacker ao banco de dados da prefeitura ter inutilizado todos os computadores e causado instabilidade no sistema, paralisando o atendimento durante 20 dias. Devido ao problema os centros passaram a atender apenas 60 pessoas por dia na volta do funcionamento. O mutirão vai acontecer novamente no próximo sábado.
Reportagem de Jorge de Mello, sob supervisão de Raphael Perucci.