Enfermeiros realizaram um ato nesta quarta-feira em frente ao Hospital BadimReprodução / Redes sociais

Rio - O Sindicato de Enfermeiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindenfrj) estabeleceu em assembleia, na quarta-feira (21), a paralisação das atividades na próxima segunda-feira (26). Além dos enfermeiros, técnicos de enfermagem também cruzarão os braços às 7h e só voltarão ao trabalho após 24h. A classe reivindica o reajuste do piso que foi vetado, inicialmente, pelo ministro Luís Roberto Barroso e referendado pela maioria do Supremo Tribunal Federal (STF).
A ação foi apresentada pela Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde). Em seu voto pelo referendo da liminar que segurou o aumento, Barroso reiterou a importância da valorização dos profissionais de enfermagem, mas destacou a necessidade de verificar os eventuais impactos negativos da adoção dos pisos salariais em razão do risco concreto de piora na prestação do serviço de saúde. Ele disse considerar adequado que o piso não entre em vigor de imediato, já que a CNSaúde apontou possibilidade de demissão em massa e de redução da oferta de leitos.
A legislação suspensa pelo STF prevê o piso de R$ 4.750 para enfermeiros; para técnicos de enfermagem, 70% do valor, isto é, R$ 3.325; e, para auxiliares e parteiras: 50% do valor, o que corresponde a R$ 2.375.
Elizabeth Guastini, diretora do Sindenfrj, disse à reportagem de O DIA que recebeu a suspensão do aumento por 60 dias com muita indignação.
"O que me causa mais revolta é a ação ter sido movida pelo sindicato patronal. Eles têm lucro muito alto em cima da enfermagem e não querem abrir mão de absolutamente nada. Esse aumento no piso não é nem o que merecemos, mas é o que conseguimos através de muita luta e negociação", disse.
De acordo com ela, é por isso que as assembleias para discutir a questão têm sido feitas na rua, em frente aos hospitais particulares, como foi o Badim, na Tijuca, na última quarta, e será na terça-feira (27), em frente ao Hospital Pasteur, no Méier, também na Zona Norte. 
Enfermeira há 18 anos, Andreia Machado afirma que "a categoria acordou". Aos 50 anos, ela diz que esperava pelo dinheiro e ficou surpresa ao saber que não o receberia. Além disso, ressalta que a busca pelo piso salarial é uma luta antiga da classe.
"Depois de termos um piso sancionado, garantido pela Constituição, temos que passar pela humilhação promovida pelo STF, expondo a categoria. Somos chefes de família, contávamos com o dinheiro na conta na segunda-feira. No domingo, fomos surpreendidos com a suspensão do piso salarial. Estamos cansados, lutamos há 30 anos pelas 30 horas, pedimos piso há 30 anos. Enquanto não pagar o piso, a enfermagem não vai sair das ruas", desabafa Andreia.
A enfermeira também destaca a importância e o sofrimento da profissão por conta da pandemia de covid-19. Ela diz que perdeu colegas e familiares, mas continua dando seus plantões. Agora, participará da greve para pedir a valorização dos profissionais da categoria.
"Nós fomos profissionais massacrados na pandemia. Eu, por exemplo, perdi dois familiares jovens. Eu e outros colegas estivemos sempre na linha de frente no cuidado por 24 horas. Não me considero heroína, porque herói não morre. Na enfermagem, perdemos muitos colegas. Estou aqui cuidando de gente, mas quem cuida de mim", questionou.
A enfermeira Thatianny Barbosa, de 37 anos, acredita que a profissão é desvalorizada culturalmente e também cita a pandemia como uma grande demonstração da importância da classe. Ela relata que as dificuldades sofridas nesse período não aconteceram apenas nos hospitais.
"Não é de hoje que sabemos o quanto nossa classe é desvalorizada por uma questão cultural. Em uma profissão que é composta majoritariamente por mulheres, sabemos da luta que enfrentamos. Diante de tudo que aconteceu, o mundo conseguiu ver o valor da nossa profissão e o quanto nós sofremos. Tanto vendo o sofrimento dos pacientes quanto o nosso medo de perder familiares, levar a contaminação para dentro de casa. Só nós sabemos o que estamos colhendo depois disso tudo, a minha filha, por exemplo, começou com uma crise de ansiedade. Só eu sei o quanto tive que me privar de abraçar meus filhos. Foram inúmeros plantões chorando de medo", desabafou.
"Queremos a valorização da nossa classe, é o mínimo que a sociedade e o Estado podem fazer por nós. Estamos nos humilhando para pedir a valorização, depois de tudo que passamos. As palmas e homenagens são muito boas, mas nós sabemos o que passamos. Precisamos que nos olhem com a mesma humanidade que olhamos para os pacientes. É muito triste ver colegas competentes desistindo da profissão por falta de valorização e ser mais presente na vida dos filhos, ao invés de emendar plantão, fazer 36 horas e ser ausente para a família", concluiu.