Ilton Lopes Mendes, o Ilton do Candongueiro, tinha 77 anos e foi vítima de um AVCReprodução / Twitter
Influente no cenário do samba e respeitado entre os músicos, Ilton do Candongueiro, como ficou conhecido, iniciou o espaço, que funciona em Pendotiba, há 32 anos. Ao longo de sua história, a roda foi palco de apresentações de bambas como Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Monarco, Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz, Guilherme de Brito, Walter Alfaiate, Nelson Sargento, Dudu Nobre, Aniceto do Império, Dona Ivone Lara e Velha Guarda da Portela, entre outros. O empresário também era conhecido por sempre ter dado oportunidades para músicos iniciantes.
"Eu tinha uma relação maravilhosa, de irmão, com ele. Frequento o Candongueiro há mais de 30 anos, comecei a tocar lá, bem no início, quando não ia ninguém. Hoje tem até retrato meu na parede, o que muito me honra, receber esse reconhecimento", exaltou o arranjador, produtor musical e violonista Paulão Sete Cordas.
Paulão, que trabalha como diretor musical do cantor Zeca Pagodinho, ressaltou a preocupação de Ilton em dar o mesmo tratamento a todos que passavam pela roda de samba. "Lá no Candongueiro sempre iam muitos sambistas que estavam fora da mídia e acabavam passando por dificuldades. O Ilton sempre fez questão de dividir os valores igualmente com todos. Independente de fama ou não, todos recebiam igual. Essa era uma das convicções dele", detalhou o músico.
Portelense de coração, Ilton era visto pelos amigos como alguém de temperamento forte, muito incisivo em suas crenças, apoiador de causas e movimentos sociais, além de muito apegado ao Partido dos Trabalhadores (PT). "Ele era muito firme nos posicionamentos. Algumas pessoas achavam que ele era prepotente, arrogante, mas não era nada disso. Ele sempre defendeu muito o que acreditava", afirmou Paulão.
Em entrevista ao DIA, Luis Carlos Magalhães, comentarista de Carnaval e ex-presidente da Portela, descreveu o músico como um "defensor assíduo do samba e sua cultura", algumas vezes provocando desentendimentos por causa de suas convicções. "Eu não conheço uma roda de samba como a do Candongueiro. É a maior roda do mundo. Ele dizia que lá, no Candongueiro, não entrava samba com agrotóxico, só samba puro. Só samba raiz, nada de samba unicamente comercial. E brigava por isso! Não adiantava chegar lá e tentar tocar qualquer coisa assim. Ia se aborrecer, porque ele não deixava. Lá era só samba puro, cem por cento raiz, de verdade", contou Magalhães.
"O Ilton era muito intenso, muito mesmo. Tinha um gênio muito forte, era verdadeiro, brigava pelo que acreditava e sempre se dedicou muito ao samba. Ele estava sempre preocupado com o samba, com a cultura, em manter vivo. Ele era um pilar de resistência, era durão", completou Luis Carlos, que homenageou Ilton na quadra da Portela, em 2018, com a entrega da medalha Paulo da Portela, destinada a personagens que contribuem para a presevação da cultura do samba e da memória portelense.
Cavaquinista da Velha Guarda da Portela, compositor e ex-presidente da Portela, Serginho Procópio falou da importância de Ilton em sua vida. "Eu criei meus três filhos com a ajuda do Candongueiro. Mesmo sendo de duas em duas semanas, o que ele pagava para nós lá, era quase um salário. Muito difícil, quase impossível encontrar algum outro dono de estabelecimento que fizesse isso. Ele pagava um ótimo cachê para todos os músicos e ajudava a todos nós", revelou Procópio.
Ilton deixa mulher, Hilda, também fundadora do Candongueiro, e um filho, o músico Ivan Mendes.
O corpo será sepultado na próxima terça-feira (4), às 13h45, no Cemitério Parque da Colina, em Niterói.
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