Amigos e parentes de ex-professora primária Ellen Ramos, de 32 anos, morta na frente dos filhos em Bangu, participam de despedida. Enterro aconteceu no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona OesteMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - A despedida de parentes e amigos à professora primária Ellen Ramos Soares, de 32 anos, morta a tiros pelo ex-companheiro na frente dos filhos, foi marcada por dor e revolta, nesta terça-feira (11), no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, Zona Oeste do Rio. O crime teria sido motivado pela insatisfação do acusado, que é PM, com o término do relacionamento. O caso aconteceu na manhã desta segunda, na casa da vítima, em Bangu.

Segundo uma das tias de Ellen, ela estava feliz com tudo que vinha acontecendo na sua vida profissional e familiar, mas tinha problemas no relacionamento com o policial militar Thiago dos Santos Almeida.

"Estava trabalhando há 15 dias na clínica da família. Ela saiu da escolinha que ela dava aula no Pedro II, conseguiu passar na prova para a Clínica da Família. Estava feliz também porque conquistou seu apartamento. Tinha os dois filhinhos lindos, Laura e André Lucas, e esse monstro veio chegar na vida dela para destruir tudo", disse Solange da Costa Ramos, de 54 anos.


Apesar da prisão de Thiago, ela não acredita em Justiça, já que a sua sobrinha foi morta. "Não adianta. Ele tirou ela da gente. Está preso e vai pagar, mas não adianta. O pior ele fez, que foi tirar a vida dela", lamentou a tia, que também era madrinha da vítima.

O sepultamento foi acompanhado por cerca de 50 pessoas, entre amigos e parentes da vítima. Durante o velório, ainda no início da tarde desta terça, a mãe de Ellen precisou ser amparada pelo filho, irmão da vítima. Ela permaneceu quase toda a cerimônia do lado de fora da capela onde o corpo era velado. Pelo menos três pessoas passaram mal na despedida.

Outra tia da vítima lembra que o relacionamento da sobrinha com o PM foi aprovado no início:
"Eu o vi muito pouco, cheguei a ver foto. A família gostava dele, já que estava com ela. A gente acredita, né? Mas o coração trai. É surreal. Uma crueldade. Mais quantas vão precisar ir embora assim?", disse Selma da Costa, 56.

O ex-deputado federal Luiz Carlos Ramos, tio da vítima, lembra que Ellen já havia sido agredida pelo PM no início do ano, mas que desistiu de prestar queixa por não querer atrapalhar a carreira do ex.

"Nesses casos específicos, como o da Ellen, a gente só nota quando acontece na família. Por mais que a gente veja na televisão, redes sociais. Esse cidadão que ela estava namorando e morando há um ano, em fevereiro, já teve um ataque de bater nela. Ela foi fazer o registro, foi pegar o laudo no Rocha Faria e, no meio do caminho, veio aquela onda de que ele estaria prestes a se formar na polícia. Ficamos sabendo agora que se ela tivesse feito a denúncia, teríamos descoberto que isso não foi a primeira vez", disse Ramos, em referência a outras anotações criminais por agressão contra Thiago.

Ramos diz ainda que muitas vezes a própria família é quem falha ao não intervir em casos como o de Ellen.
"A gente, parentes, amigos e vizinhos, temos que ter uma ação maior. Não é só a pessoa que está sofrendo maus tratos que tem que decidir. Faltou da gente também ter um policiamento maior para tomar uma decisão e não ficar pensando em ajudar quem cometeu esse deslize com outras pessoas. Infelizmente aconteceu com a nossa família", lamentou.

Pelos amigos da família, Ellen era lembrada como uma pessoa alegre e querida. "Uma pessoa maravilhosa. Sem palavras. Um ser humano dócil, amigo. Boa filha, boa mãe e boa amiga. Infelizmente caiu na mão de um cara assim. Se apaixonou pela pessoa errada, um cara violento e teve esse final trágico. Lamentável. Você vê pela família e pelos amigos. Uma pessoa tão amável. Ele não matou só ela, matou a família e os amigos também", disse Humberto Luiz da Silva, de 49 anos, amigo da família.
*Colaborou o repórter Lucas Cardoso