Silvio Ricardo Martins Aguiar, apontado como um dos chefes da quadrilha de clonagemMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - A Polícia Civil realizou uma operação, na manhã desta quinta-feira (20), para combater a maior quadrilha de receptação de veículos para clonagem do Rio. Ao total, sete pessoas foram presas. Segundo as investigações, os carros usados pela organização criminosa eram fruto de roubos e golpes.

A ação, batizada de Operação Glon, teve como objetivo cumprir 17 mandados de prisão e 70 de busca e apreensão. Entre os presos está uma ex-funcionária de uma empresa terceirizada que presta serviços para o Detran, identificada como Hortência de Barros Walter. De acordo com a Civil, os automóveis passavam por adulteração de sinais identificadores e depois eram vendidos com documentos veiculares expedidos pela ex-funcionária do Detran.

A investigação foi iniciada a partir da prisão em flagrante, pelo crime de receptação, de um homem que estava com um veículo Kia/Cadenza clonado. Os sinais identificadores do veículo estavam adulterados, com exceção do número do motor, que ainda não havia sido adulterado, o que permitiu verificar que o carro era produto de roubo ocorrido em Alcântara, São Gonçalo, na Região Metropolitana. Mais de 13 mil ligações e trocas de mensagens foram analisadas e revelaram que a quadrilha atua em toda Região Metropolitana, Região dos Lagos, no Norte, Nordeste e Noroeste Fluminense, bem como nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais.
De acordo com o delegado titular da 32ª DP (Taquara), Angelo Lage, responsável pelas investigações, os compradores dos veículos sabiam que era produto de crime e, mesmo assim, faziam a compra.
"Nós estamos focados no combate ao roubo de veículos em nosso estado e, com isso, conseguimos pegar essa quadrilha que acaba adquirindo estes veículos e posteriormente eles clonavam e depois vendiam. Tudo isso com uma integrante dessa organização criminosa que trabalhava no Detran e conseguia expedir os documentos, que eram materialmente verdadeiros mas com uma falsidade ideológica. A princípio, as pessoas que compravam esses veículos, adquiriam sabendo que era clonado, porque eles deixavam claro".
Ele ainda aponta que a quadrilha era bem estruturada e especializada na clonagem de veículos, trocando até mesmo etiquetas dos cintos de seguranças e dos vidros das janelas.
"A quadrilha era muito bem organizada e especialista. Eles trocavam o número de chassis, eles trocavam o número do motor, até os números dos chassis que vinham nos vidros eram alterados, inclusive na etiqueta do cinto. Era um trabalho muito bem feito por eles e tinha a questão do documento que dava todo ar de legalidade, que a pessoa poderia transitar", explicou.
Ainda segundo as investigações, o grupo atua há pelo menos cinco anos. A quadrilha adquiria os veículos de diversas maneiras, mas os principais fornecedores eram traficantes que repassam veículos roubados. Eles também compravam carros que eram alugados, por meio de fraude, em locadoras e não devolvidos, bem como de proprietários que realizavam o golpe de seguro, simulando o roubo para obtenção do valor assegurado, repassando em seguida o automóvel ao grupo.

Após adquirirem os veículos, os criminosos passavam a realizar uma série de consultas a banco de dados a fim de levantar as informações necessárias para a clonagem. Após a adulteração dos sinais identificadores, como número do chassis, motor, numeração dos vidros, eles conseguiam a emissão da documentação junto ao Detran, por meio de uma integrante da quadrilha que trabalhava não órgão, que possibilitavam que os veículos fossem revendidos e que pudessem circular com aparente legalidade.

A organização criminosa, de acordo com a Civil, é estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, tendo como líderes Sílvio Ricardo, Alexander Gomes e Carlos Alberto. Entre os integrantes, eram divididas as funções de adulteração, transporte e revenda dos veículos.

O inquérito resultou no indiciamento de 25 pessoas apontadas como integrantes da quadrilha, sendo que 17 deles tiveram a prisão preventiva decretada.
O delegado do Departamento-Geral de Polícia da Capital (DGPC), Antenor Lopes, destacou a importância da operação e ligou o alerta para a importância da conscientização da população na compra de produtos frutos de crimes.
"Foi uma logística extremamente delicada, vários municípios envolvidos, nós tivemos que mobilizar dezenas de equipes mas o nosso resultado foi plenamente alcançado com a liderança dessa quadrilha presa e a quadrilha desarticulada. Ela sofreu um impacto enorme e nós vamos continuar com essa apuração para poder identificar outros possíveis envolvidos e levá-los à prisão", contou e ainda continuou. "Nós temos que conscientizar a nossa população para não adquirir nenhum tipo de produto de origem suspeita. Seja um celular ou seja um automóvel. Infelizmente existe uma cultura negativa de querer comprar algo que vale cem pagando cinquenta, quarenta, trinta, isso não existe e as pessoas que agem assim podem responder criminalmente pelo crime de receptação ou até outro mais grave".