Nas redes sociais um vídeo viralizou mostrando um trecho da conversa dentro da casa de Roberto Jefferson entre Secundo e o ex-deputado federalReprodução

Rio – O chefe do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) e do Núcleo Especial de Polícia Marítima (Nepom) da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Vinícius Secundo, encarregado na negociação a rendição do ex-deputado Roberto Jefferson, disse em depoimento que o ex-candidato a presidência, Padre Kelmon, e um pastor da família furaram o bloqueio da Polícia Federal e entraram na casa “de forma desconhecida”. De acordo com o veículo de notícias, G1, Secundo relatou que o ex-deputado estava muito nervoso, oscilando o humor e ficando cada vez mais "receptivo à negociação" .
De acordo com o negociador, após a entrada de Kelmon e do pastor na casa, a negociação começou a evoluir, no mesmo momento em que foram entregues um fuzil e dois carregadores supostamente usados por Jefferson à polícia. Anteriormente, o ex-deputado ligou para o advogado dizendo para "preparar o cemitério que ele só sairia para lá".
O policial reiterou de que a PF tinha conhecimento de que na casa havia mais armas e munição e por isso "optou por negociar a rendição sem confronto." Nas redes sociais, Secundo disse que “vestiu um personagem” e que a responsabilidade da negociação era enorme, sem necessidade de uma entrada tática com tantas pessoas na casa, ainda mais com alguém armado.
Secundo ainda disse que a operação se tornou um gerenciamento de crise. ”se sai um inocente ferido ou morto,seria uma tragédia e nome da PF na lama! Infelizmente não dá para colocar todos os detalhes aqui, mas tenham certeza de que se a equipe do GPI [Grupo de Pronta Intervenção] estivesse no momento da troca de tiro, o resultado poderia ser outro, mas chegamos com uma situação de gerenciamento de crise, aí toda conduta muda!"
Nas redes sociais um vídeo viralizou mostrando um trecho da conversa dentro da casa de Roberto Jefferson entre Secundo e o ex-deputado federal. A conversa aconteceu após o ataque do ex-deputado contra a equipe da Polícia Federal que foi cumprir o mandado de prisão expedido contra Jefferson, neste domingo (23). Apoiadores dele, como Padre Kelmon, também aparecem nas imagens.
Em cerca de um minuto e meio de gravação,Secundoaparece desarmado e ouve, sem contestar, a versão de Jefferson para o ataque. “O que o senhor precisar, a gente vai fazer”, disse Secundo.
O que foi dito durante a abordagem
Vinícius - É a ordem que eu tenho. Prioridade zero um. A equipe está aqui para isso.O que o senhor precisar, a gente vai fazer.
Jefferson - Eu quero dizer uma coisa. Não atirei neles. Eles sabem disso. Só cheguei, ele estava embaixo, eu com fuzil...
Vinícius - Os meninos [agentes da PF atacados] estão bem, estão no hospital.
Jefferson - Não, ele pode ter pego ali, no rescaldo. Eu falei: ‘‘Vocês não têm como me levar. Vocês não estão armados’. E todo mundo sem colete.Todo mundo de peito nu.
Vinícius - Os meninos que vieram aqui são da inteligência. Não sabem nem o que é... Você tem noção? São burocráticos. Trabalho inteligente, em escritório, não são operacionais.Eles estavam tão tranquilos...
Jefferson - Só um que atirou em mim. Um magrinho.
Vinícius - Porque na hora do susto...
Jefferson - Não, mas eu atirei nele, mas ele que atirou primeiro.
Vinícius - Isso, então assim,fica tranquilo.
Jefferson - Ele três vezes ficou enquadrado no meu red dot (mira a laser). Falei: ‘Não atira nele, Roberto Jefferson.’ Não atirei. Quando eles correram atrás da viatura, eu joguei a granada, na frente.
Vinícius - A granada era de quê?
Jefferson - Era granada de efeito moral.
Vinícius - Ah! Porque tá um cheiro, todo mundo tossindo...
Jefferson - Quando eles correram, desceram a ladeira, eu joguei outra. [...] Tiro, eu dei no carro, quando não tinha ninguém.
Nota da Polícia Federal
"A Polícia Federal iniciou a negociação para a rendição do preso por volta das 12h deste domingo (23/10), logo após a reação do alvo. Às 18h, a decisão judicial já havia sido cumprida e o preso foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal noRio de Janeiro, para procedimentos decorrentes, inclusive em relação aos fatos relativos à reação, que ensejaram a instauração de novo inquérito policial mediante lavratura de auto de prisão em flagrante por tentativa de homicídio contra quatro policiais federais.
O processo de negociação é complexo, demanda tempo, envolve diversas variáveis e os policiais encarregados recebem capacitação e treinamentos específicos pelo órgão, de modo a alcançar êxito no resultado, com o cumprimento de ordens judiciais e a preservação de vidas, tal como verificado no episódio de ontem.
As investigações decorrentes dos fatos que se processaram ontem, na cidade de Levy Gasparian/RJ, seguem em andamento, e as circunstâncias e os elementos de prova serão amplamente apurados pelo órgão."