Missas lotadas marcaram o dia de São Judas Tadeu, nesta sexta-feira (28), no santuário dedicado ao mártirPedro Ivo / Agência O Dia

Rio - Nesta sexta-feira (28), cariocas puderam voltar a celebrar o dia de São Judas Tadeu, sem restrições sanitárias, na igreja dedicada ao santo, no Cosme Velho, bairro da Zona Sul. Além da tradicional festa do padroeiro das causas impossíveis, que voltou a ser comemorada após dois anos de hiato devido à pandemia, missas serão realizadas de hora em hora, durante todo o dia.

Durante toda a manhã, um fluxo intenso de carros se formou na frente do Santuário, trazendo devotos, muitos vestindo a camisa do Flamengo, para participar das comemorações da data. No entorno da paróquia, barraquinhas foram montadas pelos frequentadores para venda de comida, bebida e artigos religiosos durante as celebrações.

A programação especial teve início às 6h, com a realização da primeira cerimônia e continuou até às 10h, quando Dom Orani Tempesta, arcebispo da cidade, presidiu uma missa lotada por torcedores do Flamengo. Após a celebração com o cardial, houve uma pausa para almoço e descanso dos padres. As cerimônias voltaram a acontecer às 12h e estão previstas para terminar às 21h, quando a última será realizada.

A tradicional novena de São Judas Tadeu, que acontece todos os anos na igreja, iniciada no último dia 20, será encerrada em uma procissão, com a imagem do padroeiro, às 17h do próximo domingo (30).

Cultuado em todo o pais e detentor de uma legião de fiéis no Rio de Janeiro, São Judas Tadeu atrai muitos devotos para as igrejas dedicadas a ele, em todos os anos, durante o dia 28. O técnico de enfermagem Jonas Tadeu Oliveira, de 62 anos, que já havia comparecido ao Santuário no ano passado, contou que possui uma ligação com o santo desde que nasceu, carregando consigo, parte do nome do padroeiro. "Minha ligação com São Judas Tadeu vem desde que eu nasci, tanto que o meu nome é Jonas Tadeu. É uma ligação profunda, de muita confiança e muita gratidão. Todos os anos eu venho aqui para agradecer e celebrar a vida. São Judas é fiel, sempre peço a ajuda dele e recebo, não tenho palavras para agradecer tudo que ele fez e faz por mim", relatou o técnico de enfermagem.

Segundo ele, a ida a paróquia este ano tem como motivação o fechamento de um ciclo que começou há 38 anos, após um pedido feito, no mesmo lugar, ao santo das causas impossíveis. "Esse ano eu estou vindo aqui para agradecer por uma etapa da minha vida que está sendo concluída. Em 1984, eu estava aqui, neste mesmo lugar, desesperado, pedindo um emprego decente para São Judas. Naquele dia, ele me ouviu, eu consegui me tornar servidor público e trabalhar, desde então, como técnico de enfermagem da rede pública. Esse ano eu estou para me aposentar e fiz questão de vir aqui, depois de tanto tempo, para agradecer por essa bênção na minha vida. Estou fechando essa etapa que ele começou e eu pude viver, por todos esses anos, com a ajuda dele", frisou Jonas Tadeu, que foi ao Santuário enrolado na bandeira do Flamengo.
Jonas Tadeu Oliveira, de 62 anos, foi agradecer pelo emprego que conseguiu em 1984 e por estar se aposentando neste ano - Pedro Ivo / Agência O Dia
Jonas Tadeu Oliveira, de 62 anos, foi agradecer pelo emprego que conseguiu em 1984 e por estar se aposentando neste anoPedro Ivo / Agência O Dia


Não era difícil encontrar torcedores rubro-negros nesta manhã, no Santuário. Flamenguista de coração, o empresário Thiago Vasconcellos, de 34, morador de Nova Iguaçu, disse ter se deslocado, em jejum, até o bairro do Cosme Velho, na Zona Sul do Rio, para participar das missas. "Eu sou devoto de São Judas Tadeu desde adolescente. Me identifiquei por ser flamenguista e ele ser o padroeiro do Flamengo, aí, eu como católico, me apeguei. Já frequento o Santuário há 10 anos. Todos os anos eu tiro folga e venho até aqui para agradecer e orar. Além disso, eu passo todo o dia 28 em jejum total, bebendo somente água durante as vinte e quatro horas do dia. Tudo começou pelo Flamengo e depois virou minha segurança, onde eu busco aquela força. Apertou aqui, eu ajoelho no chão e peço para São Judas Tadeu", revelou o empresário.
Thiago Vasconcellos, de 34, se deslocou, em jejum, de Nova Iguaçu até o Santuário, no bairro do Cosme Velho, na Zona Sul - Pedro Ivo / Agência O Dia
Thiago Vasconcellos, de 34, se deslocou, em jejum, de Nova Iguaçu até o Santuário, no bairro do Cosme Velho, na Zona SulPedro Ivo / Agência O Dia


"Hoje, para mim, é uma emoção muito grande. São Judas é meu padroeiro, é onde eu me agarro. Poder chegar aqui, hoje, depois de dois anos sem vir, por causa da pandemia, e sentir essa energia, olhar aquela escadaria, participar da missa com o arcebispo, ver os fiéis chorando, sentir essa devoção toda, ver que está tudo voltando ao normal e, graças a Deus, tudo para melhor, é indescritível. Coincidentemente, caiu um dia antes do jogo mais importante para o Flamengo no ano, aí bateu aquela coisa, uma empolgação, uma necessidade de vir. Pedi para o Flamengo ser campeão amanhã. Vamos conquistar a Libertadores, com a benção de São Judas Tadeu", continuou Thiago.

Apesar da concentração de rubro-negros no Santuário, nem todos os devotos que foram prestigiar o santo são torcedores do time da Gávea, como foi o caso de Pedriany Menezes, oficial das Forças Armadas, que participou da missa ao lado do sobrinho Pedro e do cachorro Dom. "Eu fui apresentada a ele por uma grande amiga, que sempre falava das muitas graças que ele conseguia. Na época, eu estava estudando para concurso e combinamos que, caso eu passasse, nós levaríamos uma plaquinha para ele. Aconteceu, eu passei e nós levamos. A partir de então, ele se tornou meu amigão de fé e todos os anos eu passei a vir aqui. Esse ano teve uma motivação especial, meu cachorro ficou internado e eu o levei para agradecer. Meu sobrinho, de Minas Gerais, também está aqui e eu também o levei para agradecer pela vida dele", contou a oficial.

"Frequento aqui desde 2013, na época em que eu prestava concurso. Pago o dízimo da paróquia, todos os meses, em retribuição. É importante retribuir, manter isso tudo funcionando. Em retribuição a tudo que eu recebi e recebo dele, contribuo sempre com a minha parte para ajudar nas obras da igreja. É a nossa casa e precisamos cuidar dela", continuou Pedriany.
Pedriany Menezes levou o sobrinho, Pedro, e o cachorro, Dom, ao Santuário, para agradecer pela vida e a saúde de ambos - Pedro Ivo / Agência O Dia
Pedriany Menezes levou o sobrinho, Pedro, e o cachorro, Dom, ao Santuário, para agradecer pela vida e a saúde de ambosPedro Ivo / Agência O Dia


Quem foi São Judas Tadeu?

Também conhecido pelo nome de São Judas Apóstolo, ele foi, de acordo com a tradição cristã, um dos 12 discípulos de Jesus. Primo do próprio Cristo e sobrinho de Nossa Senhora, o santo das causas impossíveis nasceu na Palestina e, segundo relata a Bíblia, acompanhou Jesus durante a vida pública do messias. Ele também tinha um irmão apóstolo, Tiago, chamado de o Menor.

Ainda segundo a crença, após a ressurreição de Jesus, São Judas Tadeu dedicou-se a pregar os ensinamentos de Cristo, na Galileia, na Samaria, na Mesopotâmia, na Síria, na Armênia e na Pérsia. Nesse último local, teria se encontrado com São Simão, que viria a se tornar parceiro das viagens evangelizadoras realizadas pelo santo das causas impossíveis na região.

Devido à popularidade que conquistou após converter diversos persas ao Cristianismo, atraiu a ira de poderosos e acabou por ser morto no dia 28 de outubro de 70. A arma que lhe tirou a vida, teria sido um machado e, por isso, o santo é sempre retratado segurando um.

Por compartilhar o nome com outro personagem do Novo Testamento, Judas Iscariotes, que teria traído Jesus em troca de 30 moedas, o santo das causas impossíveis acabou ficando esquecido entre os cristãos. Até que, no século XIV, segundo a tradição católica, a mística sueca, Santa Brígida, teria recebido uma visão de Cristo, pedindo para que ela promovesse a devoção a São Judas Tadeu, dizendo "Invocai com grande confiança ao meu apóstolo, Judas Tadeu. Prometo socorrer a todos quantos, por seu intermédio, a mim recorrerem". A partir deste momento, os cristãos passaram a recorrer ao santo, considerado o advogado das causas perdidas, desesperadas ou muito difíceis de se resolver.

Os restos mortais de São Judas Tadeu foram depositados na Babilônia e depois transferidos para a Basílica de São Pedro, em Roma, local que hoje, atrai inúmeros fiéis que peregrinam até a igreja para venerá-lo.

Padroeiro do Flamengo

Em 1953, o Clube de Regatas Flamengo amargava quase uma década sem títulos - a última vez que havia levantado um troféu tinha sido em 1944 - quando o então pároco da Igreja de São Judas Tadeu, no Cosme Velho, bairro da Zona Sul, foi até a sede do clube, na Gávea, celebrar uma missa junto ao time, com a intenção de espantar qualquer problema espiritual que estivesse afastando o Rubro-Negro das conquistas. Na ocasião, o padre também teria pedido para que todos no elenco acendessem uma vela e dedicassem o gesto a São Judas Tadeu, atitude que foi aderida pelos torcedores também.

Após a "benção" de São Judas Tadeu, o Flamengo deixou a má fase para trás e deslanchou, sagrando-se tricampeão carioca consecutivo, levantando o caneco em 1953, 1954 e 1955, para a alegria dos flamenguistas, que passaram a adotar o santo das causas impossíveis como padroeiro do time da Gávea. A partir deste momento, a fama e a devoção pelo Santo foram cada vez mais difundidas entre os fiéis brasileiros.

Com a proximidade da final da Copa Libertadores da América, que será disputada no próximo sábado (29), entre Flamengo e Athletico-PR, diversos rubro-negros tem aproveitado o dia de hoje para pedir as bençãos do padroeiro, na intenção de ajudar o clube carioca a levantar mais um troféu continental.

Nas redes sociais, o Flamengo fez uma publicação em referência ao dia do santo padroeiro. "Nosso padroeiro está sempre ao nosso lado. Hoje é o dia dele! Rogai por nós, São Judas Tadeu!", disse o clube na postagem.