Caminhoneiros protestam contra a vitória de Lula na eleição e pedem a intervenção do ExércitoArquivo Pessoal

Rio - Caminhoneiros bloqueiam a Rodovia Presidente Dutra, a BR-116, como forma de protesto pela derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições. O grupo ocupa a via desde a madrugada desta segunda-feira (31) reivindicando que as Forças Armadas promovam uma intervenção militar, alegando fraude no resultado que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No início da tarde, os manifestantes começaram a liberar a passagem. 
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, por volta de 0h30 um grupo de aproximadamente 30 caminhoneiros interditou totalmente a Dutra no Km 276, em Barra Mansa. Às 1h07, agentes da PRF tentavam negociar a liberação dos veículos, momento em que já haviam cerca de 50 pessoas na região. Um policial chegou a conseguir que os manifestantes deixassem que automóveis com produtos perecíveis, ambulâncias e produtos perigosos passassem, que pouco depois voltaram atrás e não autorizaram. 
Ainda segundo a PRF, às 3h44, a extensão do congestionamento no sentido Rio já chegava a cinco quilômetros, mas não foi possível precisar no trecho de São Paulo. Às 5h30, os manifestantes foram informados de que haviam passageiros dos ônibus presos no engarrafamento passando mal e, às 5h36, os usuários que estavam no Km 286 removeram a defensa divisória da pista para poder retornar.
Segundo a CCR RioSP, concessionária que administra a rodovia, ainda na manhã desta segunda-feira, por volta das 7h30, no Km 281, o sentido Sul apresentava 7,8 quilômetros de lentidão e 15,8 no sentido Norte. Até às 12h, a via ainda não havia sido liberada e o número de manifestantes aumentou, chegando a cerca de 100 pessoas. Durante o ato, os participantes ainda danificaram o veículo de uma motorista.
Ainda segundo a CCR, às 11h40, os reflexos de retenção eram de 18 quilômetros na pista sentido Rio e dez no sentido São Paulo. Junto com a PRF, a concessionária implantou duas contingências, sendo uma no Km 303 da pista sentido Rio de Janeiro, em Resende, e outra no Km 264 da pista sentido São Paulo, em Volta Redonda. Equipes também desviam o tráfego para o retorno, evitando que os motoristas que estão em viagem fiquem parados no congestionamento provocado pela manifestação.
Uma equipe de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) da CCR está rodando o trecho da manifestação, para o caso de um atendimento clínico na retenção. Ainda na BR-116, por volta de 11h30, no Km 76, em Teresópolis, na Região Serrana, os manifestantes fecharam a via com uma barricada de pneus em que atearam fogo.
De acordo com registro da PRF, a manifestação com bloqueio de caminhoneiros na BR-116 só foi encerrada às 15h10. Informações de GPS indicam que trecho entre os km 269 e 288 segue com trânsito congestionado ou parcialmente bloqueado. 
Também em Barra Mansa, no início da tarde, o grupo passou a liberar a via nos dois sentidos para ônibus e carros de passeio com idosos, crianças e pessoas com necessidades. A jornalista Patrícia Vivas, de 29 anos, contou que o saiu da Rodoviária do Rio às 23h05 com previsão de chegada à Rodoviária do Tietê às 5h20. Entretanto, às 1h, quando chegou à Rodovia Presidente Dutra, a viagem parou. 
A jovem relatou que ônibus em que está conta com banheiro e água e que os passageiros só conseguiram se alimentar porque havia um restaurante próximo ao local onde estavam parados. Segundo Patrícia, com o passar das horas, algumas pessoas decidiram seguir caminhando pela pista, mas, por estar viajando sozinha, permaneceu no coletivo. Para ela, os momentos que passou parada na via foram desesperadores. 
"O problema maior era o pânico de não saber quando ia acabar. Os caminhoneiros falaram que duraria 72 horas e que não liberariam. Como a PRF e PM estavam no local apenas para evitar confusões, foi batendo o desespero de estar preso. Motos também não estavam podendo passar, o trânsito paralisado dos dois lados. Por volta de 10h, já era possível ver gente caminhando com a mala, mas eu que estou viajando sozinha fiquei com bastante medo de sair assim sem conhecer, mas aí bateu o desespero mesmo, de pensar: 'ferrou, vou passar mais uma noite aqui'", contou a jornalista, que afirmou que a tensão só foi amenizada pela colaboração entre os passageiros e o motorista. 
"No meu ônibus, fiz amizade com uma moça com um filhinho de 4 anos e grávida de 5 meses. Achamos que ficaríamos 72 horas ali, então quem tem o mínimo de amor ao próximo se coloca no lugar e não tem como não se indignar. Não podíamos pedir 'Uber', nem mototaxi, os carros não passavam, o local era distante de outras alternativas que poderíamos optar, (estávamos) presos, mesmo. A sorte foi que o motorista do ônibus que eu estava foi (nota) 10 e o pessoal do ônibus foi bem parceiro, de conversar, chamar para ir lá comer junto, porque sozinha no meio de uma manifestação, dá medo". 
O ônibus em que a jornalista estava foi liberado para seguir viagem às 12h30, após 11 horas e 30 minutos parado e, até às 13h45, a viagem ainda não estava na metade do caminho, de acordo com ela. "Uma mistura de revolta com alívio. Revolta, porque me senti presa, desprotegida e sem ter a quem recorrer, já que as autoridades já estavam lá, mas não sabiam dar informação nenhuma. E agora aliviada, porque apesar de toda a demora, estou a caminho de casa", disse a jovem. 
Há também uma concentração de apoiadores de Jair Bolsonaro provocando interdição no Km 197, em Queimados, e em Nova Iguaçu, ambos na Baixada Fluminense. O grupo também interdita o Km 486 da BR-101, em Angra dos Reis, na Costa Verde, desde às 9h40. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a pista chegou a ser liberada rapidamente por volta das 10h, mas os manifestantes voltaram a ocupar a rodovia, que segue bloquedada.
Em relatos nas redes sociais, passageiros de ônibus e motoristas se queixaram da manifestação. "Parado desde às 1h na Dutra, altura de Barra Mansa, porque meia dúzia de caminhoneiros não estão aceitando a derrota", reclamou uma pessoa. "Caminhoneiros, eu estou parado na via Dutra por mais de 3h só porque vocês não reconhecem a vitória legítima do Lula", declarou outra. "Caminhoneiros, por causa de vocês, não conseguirei ir ao velório de um tio e estar ao lado minha família nesse momento de luto", lamentou mais um. 
"Meu filho está parado na Dutra desde 1h da manhã. Protesto de caminhoneiros, hoje o dia vai ser cheio, se prepare", comentou um internauta. "Mais de 4 horas parado na Dutra por conta da manifestação dos caminhoneiros. Bloquearam as duas pistas e disseram que só saem depois de 72h com intervenção militar", disse outro. "Estou há mais de 4 horas parada na Dutra dentro de um ônibus. Caminhoneiros ligados ao Bolsonaro fecharam a rodovia nos dois sentidos. Essa é a democracia dos bolsonaristas. Agradecimento especial aos que votaram nele!", se queixou um usuário. 
Também na manhã desta segunda, os caminhoneiros ocuparam a BR-101, em Campos dos Goytacazes, na altura do Km 64. Segundo a PRF, os manifestantes atearam fogo em pneus e o Corpo de Bombeiros precisou ser acionado, às 6h13, para controlar as chamas. De acordo com a Arteris Fluminense, concessionária que administra a via, houve registro de um quilômetro de congestionamento e o fluxo foi liberado nos dois sentidos às 6h35.
Protesto na BR-040
Um protesto de apoiadores também foi montado na Rodovia Presidente Juscelino Kubisckeck, na altura de Itaipava. Um grupo estaria bloqueando uma das faixas da vi, que liga o Rio a Região Serrana. Também há registro de interdição na Rodovia Washington Luiz, na altura do bairro Vila São Luiz, em Duque de Caxias, no km 119. A pista sentido Rio foi bloqueada por populares. A PM acompanha o ato e a PRF já foi acionada para o local. Até às 17h, a via seguia bloqueada. 
Bolsonaristas realizam atos em todo o Brasil
Além de no Rio de Janeiro, logo após o fim da apuração dos votos, apoiadores de Bolsonaro deram início a uma série de atos contra a vitória de Lula. Caminhoneiros e produtores rurais fecharam rodovias do Mato Grosso; Santa Catarina; Paraná; Distrito Federal; Rio Grande do Sul; Minas Gerais; São Paulo; Mato Grosso do Sul; Rondônia; Pará e Goiás, alegando fraude nas urnas e pedindo intervenção militar. Os manifestantes afirmaram que só liberariam as estradas com a chegada das Forças Armadas. 
Em vídeos e publicações nas redes sociais, é possível ver que os apoiadores atravessaram caminhões nas vias e atearam fogo em pneus. Os manifestantes também convocaram os caminhoneiros a paralisarem rodovias do Nordeste e Minas Gerais, como retaliação pelo presidente eleito ter sido o mais votado nas regiões. Eles pedem ainda que Bolsonaro se pronuncie sobre o resultado das eleições. Confira abaixo.

Em nota, a PRF afirmou que, desde ontem, quando as primeiras intervenções tiveram início, adotou as as medidas necessárias para o retorno da normalidade do fluxo, "direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos". 
A instituição informou ainda que acionou a Advocacia Geral da União (AGU) em todos os estados onde foram identificados pontos de bloqueio com o objetivo de conseguir um mandado judicial junto à Justiça Federal para "garantir pacificamente a manutenção da fluidez nas rodovias federais brasileiras". A PRF completou dizendo que está atuando em todos os locais com interdição e naquelas com alta probabilidade de manifestação. Confira a nota na íntegra ao final. 
Nota oficial da Polícia Rodoviária Federal 
"A Polícia Rodoviária Federal, instituição permanente de Estado, sempre trabalhou com o compromisso constitucional de garantir a mobilidade eficiente, a preservação da ordem pública, a segurança viária e o combate ao crime nas rodovias federais brasileiras.

Desde ontem, quando surgiram as primeiras interdições, a PRF adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo, direcionando equipes para os locais e iniciando o processo de negociação para liberação das rodovias priorizando o diálogo, para garantir, além do trânsito livre e seguro, o direito de manifestação dos cidadãos, como aconteceu em outros protestos.

É importante destacar que a PRF já acionou a Advocacia Geral da União (AGU) em todos os Estados onde foram identificados pontos de bloqueio, para obter interdito proibitório na Justiça Federal, objetivando, liminarmente, a expedição de mandado judicial como forma de garantir pacificamente a manutenção da fluidez nas rodovias federais brasileiras.

Por fim, a PRF encontra-se em todos os locais identificados com efetivo mobilizado nos pontos de bloqueio e permanece trabalhando pelo fluxo livre nas rodovias federais, viabilizando-se o escoamento da produção, assim como o direito de ir e vir dos cidadãos, além de seguir monitorando de perto os locais com alta probabilidade de interdição."