Bar Luiz teve falência decretada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), no dia 29Banco de Imagens / Agência O Dia
Para o presidente do Cordão da Bola Preta, Pedro Ernesto Marinho, a cidade perde muito com o fechamento. "Isso me entristece muito, por conta do Bar Luiz representar efetivamente a Cidade Maravilhosa e o modo de ser do carioca. Vai ficar uma lacuna muito grande se não houver uma reversão nessa decisão. É muito triste para a cidade. O Rio de Janeiro precisa valorizar a sua tradição, a sua história, através da cultura. Alguma coisa precisa ser feita, não sei por quem, mas o Rio precisa de mudanças e investimento para não permitir que isso aconteça. A gente fica preocupado quando vê um bar dessa importância fechar e percebe que já está acontecendo com outros. Então, tomara que alguém se interesse em reabrir o Bar Luiz. Não sei se seria possível reabrir na Rua da Carioca porque ali virou um lugar fantasma, as lojas estão praticamente todas fechadas e aquele local virou uma rua de passagem de pessoas, somente. É lamentável, o Rio de Janeiro não merece perder o Bar Luiz, como não merece perder nenhuma de suas tradições", opinou o presidente do bloco.
"O Bar Luiz tem um espaço muito grande no coração, não só meu, mas no Cordão da Bola Preta. Vivi momento maravilhosos lá. Tinha um chope de qualidade, aquela famosa salada de batatas, o joelho, enfim... Mas, particularmente, a principal ida era no sábado de carnaval, que o Bola Preta, até o final da década de 1990, tinha como parte roteiro do desfile de sábado, a ida a Rua da Carioca. Era infalível, todos os anos, irmos ao Bar Luiz para almoçar, onde revíamos amigos que não podíamos encontrar durante o ano, até porque muitos não moravam mais aqui e vinham justamente ao Bola Preta, no sábado de carnaval, e participavam da confraternização no Bar Luiz", relatou o dirigente.
O músico Gabriel Cavalcante, o Gabriel da Muda, integrante do Samba do Trabalhador, também lamentou o encerramento das atividades do Bar Luiz. "Quando um bar como esse fecha, um pouco do Rio de Janeiro morre, um pouco da cidade vai embora. É um pouco de Rio de Janeiro que a gente perde. Um lugar com essa importância, palco de tanta coisa e que testemunhou inúmeros acontecimentos no nosso país, fechar assim, acaba levando um pouco da cidade junto. O Centro do Rio é o lugar mais democrático da cidade, onde tudo se encontra, não tem classe social, não tem distinção entre as pessoas que estão ali, então é uma pena. Eu ainda guardo um pouquinho de esperança de que alguém faça alguma coisa e reverta essa decisão", desabafou Gabriel.
"Eu acho que são vários fatores que afetam a região. Primeiro, a especulação imobiliária, que afastou muitos estabelecimentos da região, causada através do setor privado, o que eu acho um imenso absurdo, ainda mais se tratando da Rua da Carioca, uma rua histórica da cidade. Por outro lado existe também o esvaziamento cultural, a área ficou abandonada. Eu frequento ali e vejo isso de perto, não funciona mais nada ali, a área está completamente morta e o Bar Luiz vem enfrentando isso há tempos. Não tem mais nada de atrativo ali, nada para se fazer. Eu torço muito para que o poder público olhe para a Rua da Carioca como olhou para a Lapa no início dos anos 2000 e a Lapa se tornou o que é hoje. Precisamos de vontade das autoridades para fazer cultura popular", cobrou o músico.
Além das personalidades da música, clientes do estabelecimento também lamentaram o fechamento. Frequentador há mais de 15 anos, Raphael Gomes, 40, que atualmente mora em Porto Alegre, contou que sempre ia ao bar durante as visitas à capital carioca. "Eu li com tristeza mas já conformado. Quem passa por ali, não precisa nem conhecer o bar para saber que isso já estava anunciado há muito tempo. Está tudo abandonado, nem nenhuma proposta para aquela região. Cansei de sair do trabalho e ir com os colegas ao Bar Luiz. Saindo da Lapa, também, fui ali várias vezes. É uma pena, a gente precisa resgatar nossa cultura e nossos redutos culturais. Cada vez que venho ao Rio de Janeiro, vejo mais lugares fechados e nossa história indo embora. É muito triste", lamentou o atual morador do Rio Grande do Sul.
O botequim alemão, que chamava-se Bar Adolph veio a mudar o nome para Bar Luiz, com o advento da Segunda Guerra Mundial e os movimentos nacionalistas e antifascistas no Brasil. Sob estas circunstâncias, estudantes do Colégio Pedro II em campanha contra os regimes fascistas da Europa invadiram o Bar com o intuito de destruí-lo, associando seu nome ao ditador alemão Adolf Hitler.
Em 135 anos, o local recebeu grandes nomes da cultura brasileira, como Olavo Bilac, Sérgio Buarque de Hollanda, Albino Pinheiro e muitos outros. O bar também foi cenário do filme "Bar Esperança", de Hugo Carvana.
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