Mototaxistas se reuniaram em frente a 39ªDP (Pavuna)Pedro Medeiros/Agência O DIA
Familiares do jovem Lorenzo Dias Palhinhas, realizaram mais um protesto nesta terça (1), desta vez em frente a 39ªDP (Pavuna) para tentar provar a inocência do adolescente que morreu durante uma operação da PRF no Complexo do Chapadão.#ODia
— Jornal O Dia (@jornalodia) November 1, 2022
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Para a mãe do jovem, Celline Dias, 27 anos, a dor da perda tem sido ainda maior por ter que comprovar que o filho é inocente e que, mesmo tão jovem, trabalhava como entregador.
“Além de eu estar sofrendo com a morte do meu filho, eu tenho que tá sofrendo todo dia pra provar que ele é inocente e é isso que me dói mais, porque se ele fosse envolvido eu ia falar que era consequência da vida que ele escolheu, mas meu filho não era. Está sendo muito difícil”, lamentou.
O protesto foi marcado por uma motociata formada por mototaxistas em frente à delegacia. Debaixo de chuva, os condutores carregavam bolas brancas e buzinaram para chamar atenção. Além disso, familiares e amigos também carregavam cartazes com frases como “Justiça”; “Que era pra proteger vem pra matar”; “Contra genocídio da juventude”; e “Lorenzo era só uma criança”.
“No começo foi difícil mas a gente foi crescendo junto e ele se tornou um filho e um amigo, aprendi a ser mãe com ele. No dia que tudo aconteceu, a menina para quem ele trabalha me ligou, ela falou que ele tinha sido baleado, eu peguei a moto e subi a rua, quando cheguei meu filho estava estirado no chão. Ele ficou muito tempo lá, porque tínhamos que esperar a perícia, que não aconteceu, depois choveu, a hora foi passando e eles (os policiais) queriam levar o corpo dele, mas eu não deixei porque fiquei com medo, porque já estavam falando que meu filho era bandido, e se eles levassem podiam fazer alguma coisa pra incriminar ele, ai eu não deixei. A gente teve apoio do vereador Luiz Vieira (PL) que conseguiu um carro e a gente mesmo arrumou o corpo e levou para o Hospital Carlos Chagas”, relatou.
Ainda segundo Celline, Lorenzo estava na garupa de um colega com a mochila de entregador quando foi atingido por um tiro na cabeça enquanto estava de costas.
"Quando ele foi baleado, antes de falecer, ele falou para o amigo dele correr para não ser morto e me avisar que ele tinha sido baleado. Mas quando eu cheguei não deu mais tempo. E eles não foram socorrer meu filho, só apareceram lá quando teve manifestação. Eu estava com meu filho de três anos quando soube e ele acabou vendo (...) agora ele fala: Mãe, a polícia matou o Lorenzo", disse.
Celline também comentou que não sabe como seguir a vida sem seu primogênito e que o filho mais novo, de apenas 3 anos, sente muita falta do irmão.
"Não sei como seguir a vida. Eu não sei o que vou fazer porque ainda tenho que ter forças, tenho uma criança de três anos que está com febre, porque ele está sentindo saudade do irmão. Ele acorda falando que a polícia matou o Lorenzo e eu tenho que falar que o irmão dele virou uma estrela (...) então está sendo muito difícil, ainda mais porque só morávamos nós três. E eu fico mais indignada porque eles viram que fizeram besteira e querem colocar a culpa no meu filho, tanto que não era nem para eles terem ido lá. a operação era só na Vila Kennedy", afirmou.
Segundo a PRF, durante a operação, o adolescente atirou contra a viatura e os agentes conseguiram o "neutralizar". A instituição disse ainda que, junto com outros dois menores que foram apreendidos, Lorenzo estava de "plantão" no comércio da boca de fumo e na contenção da comunidade. Na ocasião, foram apreendidos uma pistola 380 com dois carregadores e 23 munições; uma pistola Taurus 9mm com 5 carregadores, sendo um deles estendido e 45 munições; um carregador de fuzil 556; 600 papelotes de crack; 622 pinos de cocaína; 149 frascos de lança/loló e 425 tabletes de maconha. A ação pretendia localizar os suspeitos do assassinato do agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Bruno Vanzan Nunes, 41, em uma tentativa de assalto. O policial foi alvo de criminosos na Transolímpica, próximo à Vila Militar, na Zona Oeste.
Outra manifestação foi realizada na última sexta (28), em que moradores do Chapadão atearam fogo em pneus e entulhos na Avenida Crisóstomo Pimentel de Oliveira e na Rua Rio do Pau, ambas na Pavuna, próximo ao Village, onde um ônibus chegou a ficar atravessado para interditar a via.
O avô de Lorenzo, Fernando Francisco Palhinhas, 55 anos, retratou como teria acontecido a situação e reforçou que o neto estava trabalhando fazendo entregas de lanches na comunidade.
“Lorenzo estava entregando lanche, a PRF abordou ele e um colega, ele estava na garupa, de acordo com testemunhas os policiais pegaram o lanche dele e mandaram eles subiram, quando eles subiram o policial alvejou ele na cabeça de fuzil e disse que ele tava trocando tiro mas não tava, ele estava com a mochila de lanche e quando ele caiu ele tava com 10 reais na mão de uma entrega que ele tinha feito”, contou.
Fernando ainda lamentou sobre o sentimento de tristeza e injustiça. “Sentimento de dor, tristeza, de injustiça, ele era trabalhador, querido, todo mundo gostava dele, ele entregava lanche para todos esse pessoal da moto. Às vezes eu dava bola pra ele, os amiguinhos furavam e ele falava que não tinha problema porque o importante era a amizade, e ele tinha muito amigos Nós queremos justiça, vamos no MP, fazer bastante manifestação pra não cair no esquecimento, pra provar que Lorenzo não era traficante. Além da perda que dói ainda tenho que provar que ele era inocente”, disse.
Um tio de Lorenzo, que também estava no protesto, disse que sempre incentivou o adolescente a trabalhar.
“Lorenzo era um garoto sorridente, quantas vezes incentivei ele a trabalhar desde cedo pra saber o valor do trabalho e ajudar dentro de casa. Ele era um garoto muito querido, vivia sorrindo, brincando, quando a gente chamava atenção dele ele aceitava a correção. É muito triste e revoltante porque ele não merecia sofrer desse jeito, ele tava na idade que nem sabia o que ele ia querer na vida, qual tipo de trabalho e profissão. Estamos todos abalados, ninguém consegue trabalhar direito, dormir direito e ainda tão dizendo que o garoto era traficante e trocou tiro com a polícia”, lamentou.
O padrasto e ex-marido da mãe do adolescente, Eduardo Pires, 41 anos, contou que continuará pedindo por justiça pelo enteado, que considera como filho.
“Eu vim pedir justiça porque estão dizendo que meu filho é bandido, que trocou tiro com eles, mas não tem prova nenhuma, não tem cápsula, nada, não tem foto dele nem segurando um cigarro, porque nem isso ele fazia, só tem foto dele dançando, brincando com os colegas de trabalho, com a mochila dele, a beca dele de fazer entrega , aí vem uns policiais querendo vingar a morte de um PRF que foi morto lá quase na Barra e foram no Chapadão roubar uma criança, aí mataram e saíram, e o que adianta? Entrou só pra dizer que matou uma criança? Isso não tem lógica, queremos justiça e vamos provar que ele é trabalhador. Eu sou padrasto desde 6 anos e chamo ele de filho, pra ver como uma pessoa daquela era muito querida, sabia chegar, fazer amizade, não é atoa que os mototaxistas da Pavuna e Chapadão vieram aqui pra ajudar a gente nessa força do protesto, pacificamente”, finalizou.
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