Acredito que, ao reler a minha trajetória em pensamento, jogo luz sobre os caminhos que percorri até a minha atual versãoArte: Kiko

Novembro começou e, com ele, acionei nos meus pensamentos as lembranças do fim de 2020. Era uma época em que vivíamos a dor e a incerteza da pandemia. Pessoalmente, eu me descobri cronista durante o isolamento, quando passei a refletir sobre o mundo a partir da minha janela e do meu quintal na Baixada Fluminense. Assim como nos velhos tempos, aproveitei, então, a chegada do Natal: escrevi cartas à mão, acompanhadas de marcadores de livros personalizados, e enviei as correspondências pelos Correios. Com a minha letra, eu dizia aos amigos como pessoas, lugares, sensações e memórias marcam as nossas vidas, assim como o meu lar fazia com a minha trajetória naquele momento.
Resgatei essa recordação ao encomendar novos marcadores, em mais um fim de ano. Agora, poderei entregar a maioria deles pessoalmente, abraçando e olhando presencialmente para a emoção do outro. Esse pensamento, aliado às minhas andanças por aí, me fez constatar que a despedida de 2022 vai se tornando real. Foi o que senti quando ouvi os planos de quem vai passar o Réveillon na praia com amigos e, num vaivém de sentimentos, comentou ter iniciado o ano chorando e constatou que se despedirá dele com um sorriso.
Fiquei com essa frase na memória e confirmei que separamos a nossa história em capítulos únicos. Só nós sabemos os trechos mais difíceis de serem relidos ou sublinhados. E talvez eles não comecem ou terminem num fim ou início de ano. Mas em várias outras oportunidades, onde ciclos se fecham para novos se abrirem.
Em outro bate-papo, uma pessoa me disse que 25 de dezembro vai cair num domingo neste ano — algo que até então eu não havia me dado conta. É assim mesmo: a gente olha as folhas do calendário de jeitos diferentes, em momentos distintos. Há quem não goste mais das festas de fim de ano, pela lembrança mais intensa de quem já partiu. E há quem tenha crescido e ainda guarde uma euforia de criança. Percebi isso ao ver uma cliente entrando numa loja no Centro do Rio totalmente decorada para o Natal. Congelei na memória a sua fisionomia boquiaberta, com a expressão: "Que lindo!"
Particularmente, sou fã dessas datas e, através dos sentimentos, faço uma retrospectiva do que já vivi. Acredito que, ao reler a minha trajetória em pensamento, jogo luz sobre os caminhos que percorri até a minha atual versão. E entendo por que o coração tem um compasso próprio: ele é um marcador natural de alguns trechos da nossa história.