Flordelis e mais quatro réus são julgados no Tribunal do Júri, em NiteróiPedro Ivo/Agência O DIA

Rio - Daniel dos Santos de Souza, segunda testemunha de acusação a depor nesta quarta-feira (9) contra a ex-deputada Flordelis e outros quatro réus, se emocionou ao relembrar a madrugada em que o pastor Anderson do Carmo, quem ele pensava ser seu pai biológico, foi assassinado. O crime aconteceu em 16 de junho de 2019, na casa da família, no bairro de Pendotiba, em Niterói. O depoimento começou por volta das 12h30 e a testemunha é ouvida por vídeo conferência, porque não quis ficar na presença dos réus.
O homem justificou que ainda tem sentimentos pelos familiares que estão no banco dos réus porque conviveu com eles por muito tempo. Além de Flordelis dos Santos de Souza, também são julgados a filha biológica Simone dos Santos Rodrigues, os afetivos Marzy Teixeira dos Santos e André Luiz de Oliveira, e a neta Rayane dos Santos de Oliveira.
Em seu depoimento, Daniel relatou que ouviu cerca de seis tiros disparados em um pequeno intervalo de tempo e que escutou a ex-deputada gritando que teriam matado seu marido.
Daniel também descreveu a atitude da mãe ao saber da morte do marido: "Ela não teve reação, foi mais um teatro". Enquanto a testemunha relatava os acontecimentos, Flordelis chorava e cobria o rosto, sendo amparada pelos advogados em vários momentos da oitiva. A testemunha também lembrou que acreditava ser filho biológico da parlamentar cassada e do pastor mas, nas investigações do crime, descobriu ter outros pais e que foi registrado pelo casal quando tinha cinco meses.
Na oitiva, Daniel contou que soube do plano para o assassinato do pastor por meio de Lucas Cézar dos Santos, já condenado por participação no crime. Segundo a testemunha, eles estavam a caminho da igreja quando o filho afetivo da ex-deputada revelou que Marzy havia oferecido dinheiro para que ele matasse Anderson. A confissão teria sido feito na presença de Tayane Dias, também filha de Flordelis. Ao falar da situação para o pai, a vítima pediu que Tayane fosse chamada e ela confirmou o relato do irmão.
A testemunha também afirmou que deixou a casa da família porque não queria permanecer no local onde seu pai havia sido assassinado. Pouco depois da morte, Daniel disse que houve uma reunião na igreja para definir quem assumiria a liderança e, no encontro, Flordelis pediu para falar à sós com o homem na 'sala vip' do templo, onde disse a ele que Anderson não era a pessoa que ele pensava ser e que Deus já tinha planos para "levá-lo".
Em outra ocasião, quando Daniel estava na residência para recolher seus pertences, a ex-deputada mostrou uma folha para ele, o filho Misael e a nora Luana, em que estava escrito que ela jogou o celular do pastor da Ponte Rio-Niterói. A confissão foi feita por escrito, porque ela temia que o local tivesse sido grampeado.
Ainda na oitiva, Daniel revelou que foi orientado por Flordelis a ouvir um áudio de um advogado que pedia para ele afirmar à Polícia Civil que estava tudo normal na casa. O filho também contou que procurou a delegacia antes mesmo de ser intimado a depor, porque tinha desconfianças do crime e que, quando deixou a casa da família, era insistentemente procurado pela ex-parlamentar, que chegava a ligar para ele do telefone de outros filhos.
O depoimento da testemunha teve uma pausa às 13h55 para o almoço e deve ser retomado por volta das 15h. Daniel foi indagado pelos jurados sobre o comportamento de Flordelis após a morte do pastor Anderson. Segundo ele, a ex-parlamentar parecia tentar a todo momento justificar a morte da vítima.
"Ela parecia querer ficar justificando, dizendo que ele não era santo. Ficava falando que Deus ia levar ele. Dizia que ele não era perfeito, que ele tinha traído ela. Tentando se justificar sempre dessa forma", disse.
O depoimento terminou às 16h. Para o promotor de Justiça Carlos Gustavo, os depoimentos já realizados nesta quarta-feira (9) foram proveitosos e trouxeram provas relevantes sobre o assassinato de Anderson do Carmo.
Outros depoimentos
A expectativa é que outras testemunhas de acusação e mais 13 de defesa ainda prestem depoimento ao longo dos próximos dias. A primeira pessoa a falar nesta quarta-feira (9) foi Luana Vedovi Rangel Pimenta, nora de Flordelis e casada com Wagner Pimenta, também conhecido como Misael, filho adotivo da pastora.
Já foram ouvidos durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7), a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.
Nesta terça-feira (8), durante segundo dia de oitivas, prestaram depoimento o inspetor da DHNSGI, Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, e os filhos adotivos Alexsander Felipe Matos Mendes, o Luan, e Wagner Pimenta, batizado por ela como Misael.
Acusações

Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.